Eleição no Equador: “Aliado de Correa é favorito, pode vencer no 1º turno”, diz socióloga

Tempo de leitura: 4 min

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por Conceição Lemes

Neste domingo, 19 de fevereiro, 12,8 milhões de equatorianos escolherão o substituto de Rafael Correa na presidência do país.

As pesquisas apontam o seu vice, Lenín Moreno, como o favorito.

Moreno, um político de 63 anos que sofre de paraplegia e usa uma cadeira de rodas, acompanhou Correa como vice-presidente de janeiro de 2007 a maio de 2013. Atualmente, atua como enviado especial das Nações Unidas para acessibilidade.

Nós conversamos sobre a eleição com a socióloga Elaine Santos, que desde 2006 estuda o que acontece no país.

Inicialmente, como aluna do mestrado em Energia, na Universidade Federal do ABC (UFABC), sob a orientação do professor Sinclair Mallet Guy.

Atualmente, no doutorado que faz na Universidade de Coimbra, em Portugal, orientada pelo professor Boaventura de Sousa Santos. Sua tese é sobre os limites das políticas de esquerda durante o período correiísta.

Viomundo — Nos últimos dez anos, esta é a primeira eleição que Rafael Correa não estará na disputa. Oito candidatos concorrem à presidência, entre eles Lenín Moreno, que é vice-presidente e tem apoio de Correa. Quais as chances de ele vencer?

Elaine Santos – Em 2015, até houve pressão por parte do Alianza Pais (Patria Altiva i Soberana), o partido de Correa, para que fosse alterada a Constituição, possibilitando que ele se elegesse indefinidamente. Porém, o próprio Correa descartou essa hipótese, dizendo que queria um momento para se preservar.

Quanto à eleição deste domingo, Lenín Moreno lidera as intenções de voto em todas as pesquisas.

Segundo levantamento feito, entre 5 e 8 de fevereiro, pelo Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Georgetown, nos EUA, Moreno teria 43% dos votos válidos. Percentual suficiente para garantir sua vitória no primeiro turno.

Já outras pesquisas, como as feitas pelos institutos Cedatos e Market, dão que Moreno teria 38,6% e 31,9%, respectivamente.

Em janeiro, eu achava difícil uma vitória de Moreno no primeiro turno. Porém, as últimas pesquisas indicam que ele pode vencer no 1º turno.

Viomundo — Rafael Correa teve um primeiro mandato muito bem avaliado, tanto que se reelegeu. Porém, não se pode dizer o mesmo do segundo. O que aconteceu?

Elaine Santos — Houve grande fragmentação entre setores de esquerda (que fizeram oposição a Correa) e de direita, que se aproveitaram desses flancos para desgastar a imagem do presidente.

Viomundo — Por quê?

Elaine Santos — Correa teve diversos momentos contraditórios. Por exemplo: colocou em votação a exploração petrolífera do Parque Yasuní; deixou de dialogar com as bases sociais indígenas que o elegeram; tratou a questão de gênero como uma anomalia e ameaçou se demitir diante a despenalização do aborto.

Devido a tais equívocos, ele recebeu críticas de ecologistas, movimentos indígenas, políticos de esquerda e de direita, obviamente. Houve protestos e manifestações contra Correa, que parecia ser um dos poucos na América Latina a se dizer anticapitalista e antineoliberal.

Agora, é inegável que grande parte de suas ações melhorou a vida dos equatorianos.

Porém, em uma sociedade cindida, o Buen Vivir, que é a expressão andina de relação com a natureza e que muitos compreendem como uma alternativa à mercantilização do capitalismo, passou a ser um empecilho para Correa.

Houve um recrudescimento entre ele e os movimentos indígenas que defendiam o Buen Vivir, que é reconhecido constitucionalmente.

Por outro lado, Rafael Correa teve no primeiro e segundo mandatos um desempenho importante no que tange à erradicação do analfabetismo, melhoria dos índices relacionados à saúde e ao emprego. Também renegociou a dívida pública em 2007, tendo sido bastante festejado por isso.

Viomundo – Supondo que haja segundo turno, qual dos oponentes teria mais chance de disputar o segundo turno com Moreno?

Elaine Santos — No Equador, não há 2º turno quando um dos candidatos obtém mais que 40% dos votos válidos e 10 pontos percentuais de vantagem sobre o 2º colocado.

Supondo que haja segundo turno, acho que quem tem mais chance de disputar é Guilhermo Lasso Mendoza, candidato do Creo – Movimento Criando Oportunidades. Ele é um banqueiro, diretor da Associação dos Bancos Privados, que se apresenta como defensor das “liberdades”. De acordo com as pesquisas, ele tem aproximadamente 23% dos votos válidos.

Na sequência, aparece Cynthia Viteri. Representa a coalizão do Partido Social Cristão com os Movimentos Soma, Podemos e Avança. Faz forte oposição a Correa. Já ofendeu Correa nas redes sociais e foi expulsa da Venezuela por intromissão em problemas internos do país.

Em terceiro lugar, vem Paco Moncayo. Em 1998, ele foi eleito deputado nacional através do partido Izquierda Democrática. De 2000 a 2009, foi prefeito da capital Quito. Tem apoios importantes da esquerda insatisfeita com Correa.

Por exemplo, o de Alberto Acosta, que foi ministro da Energia de Correa no primeiro mandato, da UNE — União Nacional de Educadores, de Morocho, atual presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador– Conaie.

Os demais candidatos não somam nem 4% dos votos.

Viomundo — Num eventual segundo turno, que candidatos apoiariam Moreno?

Elaine Santos –Neste momento, acredito que apenas Paco Moncayo, devido às suas tendências progressistas. Mas é importante ressaltar que as pesquisas apontam 11% de votos nulos, que podem ser disputados entre os candidatos e alterar o quadro até domingo.


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Comentários

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James Gressler

Vem aí mais um golpe na AL. NSA e CIA não vão aceitar, e sem necessidade de aecio pra ensinar.

lulipe

A caminho de virar uma nova “Venezuela”, meu pêsames aos equatorianos!!

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