Dorrit Harazim: Netanyahu jamais conseguirá apagar o dano sofrido na Corte internacional

Tempo de leitura: 3 min
Estado de Israel é comandado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Foto: Reprodução de rede social

Haia existe

Por Dorrit Harazim*, em O Globo

Ninguém gosta de ser submetido a julgamento. Países, também não. E o Estado de Israel, comandado por Benjamin Netanyahu, menos ainda.

Mesmo que consiga convencer a Corte Internacional de Justiça (CIJ) a arquivar a acusação de genocídio apresentada pela África do Sul, ou mesmo que consiga evitar a petição por medidas provisórias urgentes, como a interrupção dos ataques a Gaza, Netanyahu jamais conseguirá apagar o dano moral, político, diplomático e histórico sofrido em Haia.

A sentença final a ser decidida pelos 15 juízes da Corte pode demorar dias, semanas, meses, até anos, mas a mera questão central — Israel cometeu genocídio? — é devastadora em si.

Relegada ao papel de cemitério do Direito Internacional, a Palestina como um todo, e Gaza em especial, pouco espera da Justiça dos homens. Só que a petição apresentada pela África do Sul pode ter desdobramentos inesperados.

Como previsto, foi desconsiderada como frivolidade pelo secretário de Estado americano, Antony Blinken.

Mas não por Netanyahu, que optou por apresentar sua defesa perante a Corte.

Não é de hoje que lideranças israelenses se preocupam com uma eventual percepção mundial de que a opressão sofrida pela Palestina ocupada é uma forma de apartheid.

O espectro de isolamento internacional semelhante ao imposto ao regime de minoria branca na África do Sul — que culminou na extinção do apartheid nos anos 1990 — sempre existiu. Et pour cause.

Desde as décadas da descolonização, dos movimentos de libertação, dos Não Alinhados e da Tricontinental, o partido de Nelson Mandela e a militância palestina andaram lado a lado.

— Nossa liberdade é incompleta sem a libertação dos palestinos — lembrou o líder negro em 1997.

Tinham em comum a revolta contra opressores que se ajudavam mutuamente.

O jornalista Tony Karon, nascido na África do Sul, sionista na juventude e atual produtor na Al Jazeera, lembra seus tempos de militância anti-apartheid na Cidade do Cabo.

Em artigo recente, escreveu: “Muitos de nós ficamos horrorizados quando, em 1976, Israel recebeu a visita oficial do primeiro-ministro sul-africano John Vorster, nazista convicto que trabalhou numa organização paramilitar ligada à Abwehr [serviço de inteligência militar de Hitler]”.

A venda de armas de Israel para a África do Sul era segredo de polichinelo, assim como a assistência israelense à Força de Defesa do regime bôer.

A descolonização, como se sabe, não seguiu propriamente o roteiro sonhado pelo intelectual martinicano Aimé Césaire — restituir humanidade tanto ao colonizado como ao colonizador, numa mesma comunidade de pertencimento. Fracassos se acumularam, e correções de curso continuam a coalhar a caminhada com desgraças.

Contudo a cartada da África do Sul, ao cobrar da Corte de Haia um posicionamento, tem o mérito de conseguir nos envergonhar pela cumplicidade mundial diante de décadas de desenraizamento e opressão de um povo.

Silenciadas, gerações e gerações de palestinos tiveram existência apagada, nulificada. Gaza é apenas a aberração mais gritante.

Para Netanyahu, a semana foi indigesta também no front interno.

O conservador Yedioth Ahronoth, maior jornal do país, divulgou uma notícia sombria: “Ao meio-dia do 7 de Outubro, as Forças de Defesa de Israel (FDI) ordenaram a todas as unidades de combate em ação usar a Diretiva Hannibal, sem menção explícita ao nome. A ordem era parar ‘a qualquer custo’ toda tentativa de retorno a Gaza dos terroristas do Hamas, apesar do temor de que levavam consigo reféns.(…) Estima-se em cerca de mil os terroristas e infiltrados mortos entre o assentamento de Olaf e a Faixa de Gaza. Não está claro quantos reféns foram mortos em decorrência dessa ordem”.

Perto de 70 veículos foram encontrados na mesma área, atingidos por um helicóptero de combate ou mísseis antitanque das FDI.

“Diretiva Hannibal” é o nome dado a um procedimento militar oficialmente abandonado pelas FDI em 2016. Visava a impedir a captura de soldados israelenses por tropas inimigas.

Sua versão mais genérica ensinava: “A tomada de reféns precisa ser impedida por todos os meios, mesmo ao preço de alvejarmos e causarmos danos a nossas próprias forças”.

Sujeitas, portanto, a interpretação e aplicação elásticas. No mês passado, o diário liberal Haaretz já havia aventado a hipótese de a Diretiva Hannibal ter sido usada no fatídico 7 de Outubro, quando 40 terroristas do Hamas foram alvejados por dois disparos de canhão numa casa em Be’eri, assentamento israelense. Havia 14 reféns civis na casa. Apenas uma saiu com vida do horror. Hadas Dagan, cujo marido foi uma das vítimas, não culpa as equipes de socorro israelenses:

— Eles também deram a vida por nós.

Hoje é o centésimo dia de cativeiro para mais de 130 reféns ainda em mãos do Hamas. Quanta tragédia entrelaçada!

*Dorrit Harazim é jornalista e documentarista

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Marcelo Zero: África do Sul tem boas chances na Corte Internacional de Justiça


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Zé Maria

EUA Mais Uma Vez Atacam Iêmen
Enquanto Iemenitas Houthis
Atacam Navio de Carga Grego

Empresa de Gestão de Risco Marítimo Ambrey
disse que um “graneleiro de propriedade grega,
com bandeira de Malta, teria sido alvejado e
atingido por um míssil enquanto transitava
pelo sul do Mar Vermelho em direção a isRéu,
ao norte.

Os Houthis, que dizem atacar o que consideram o transporte marítimo
ligado a Israel em solidariedade aos palestinos em Gaza desde que
os bombardeios israelenses começaram em 7 de outubro, assumiram
a responsabilidade pelo ataque ainda nesta terça-feira.

Eles disseram que suas forças “realizaram uma operação de seleção
de alvos” contra o navio com múltiplos mísseis navais depois que
a tripulação não respondeu aos avisos, prometendo continuar tais
ataques “até que a agressão (israelense) cesse e o cerco à Faixa
de Gaza seja levantado”.

As Operações de Comércio Marítimo do Reino Unido, uma agência
de segurança marítima dirigida pela marinha britânica, também
relataram um “incidente” numa área a noroeste de Saleef, no Iémen,
sem dar mais detalhes.

Os Houthis também lançaram ataques a navios americanos no domingo
e na segunda-feira, após os ataques dos EUA e do Reino Unido no seu
território [do Iêmen] na semana passada.

Eles declararam os interesses dos EUA e da Grã-Bretanha
como “alvos legítimos” depois que os aliados ocidentais
atacaram vários locais no Iêmen controlados pelos Houthis
na sexta-feira, em retaliação aos ataques anteriores no
Mar Vermelho.

A gigante petrolífera britânica Shell suspendeu indefinidamente
todos os embarques através do Mar Vermelho na semana passada
devido à ameaça Houthi, informou o Wall Street Journal na terça-feira.

Junta-se a várias grandes companhias marítimas no desvio de navios
da principal rota entre os mercados asiáticos e europeus, que normalmente
transporta cerca de 12 por cento do comércio marítimo global,
num importante desvio em torno da África Austral.

[Fonte: AFP, via Talek Harris da Yahoo News]

Zé Maria

Vocês não perdem, por esperar…
https://twitter.com/i/status/1747317442877981161

Zé Maria

.
Sobe para 118 Nº de Jornalistas Palestinos Assassinados por isRéu em Gaza.
https://twitter.com/HoyPalestina/status/1746911890582679776
.

Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/GD0Ag09XoAIVuqY?format=jpg
https://twitter.com/HoyPalestina/status/1746558907630207261
https://www.aljazeera.com/wp-content/uploads/2024/01/INTERACTIVE-100-days-of-Israels-war-on-Gaza-Injured-1705235780.png
https://www.aljazeera.com/wp-content/uploads/2024/01/INTERACTIVE-100-days-of-Israels-war-on-Gaza-Killed-1705235791.png

https://t.co/JCBxUczcWt
https://youtu.be/2Zw56fNjOfo

“Os 100 Dias de Massacre Implacável de ‘isRéu’ em Gaza”

Por Mat Nashed e Simon Speakman Cordall, na AL JAZEERA
https://twitter.com/AJEnglish/status/1746612243100230009

Hoje (14/01/2024), Marca 100 Dias desde que ‘isRéu’ iniciou
os seus Bombardeios à Faixa de Gaza em 7/10/2023.

Nesse período, o número de mortos entre os palestinos que vivem em Gaza aumentou para quase 24 mil (incluindo 9.600 Crianças e 6.750 Mulheres)
[Sem Contar as Pessoas Assassinadas Soterradas nos Escombros (https://pbs.twimg.com/media/GCdpcXyWwAAiScu?format=jpg)],
à medida que Israel lançava mais de 65 mil toneladas de bombas sobre o
enclave sitiado e na sua população de 2,3 milhões de pessoas presas
em menos de 400 quilômetros quadrados.

O ataque de Israel a Gaza começou em 7 de Outubro, em resposta
a um ataque de combatentes armados das Brigadas Al-Qassam,
o braço armado do Hamas e de outros grupos palestinos.
Cerca de 1.140 israelenses morreram durante o ataque e cerca de 240
foram levadas cativas para Gaza.

Em retaliação,’isRéu’ iniciou uma cruel campanha de bombardeios e reforçou o que já era um cerco esmagador que Gaza tem sofrido desde 2007.

“Estamos lutando contra animais humanos”, disse o Ministro da Defesa
israelense, Yoav Gallant, em 9 de Outubro, anunciando que alimentos,
água, combustível, medicamentos, tudo, não seriam permitidos em Gaza.

Desde então, desafiando condenações e apelos de organizações
internacionais e grupos de direitos humanos,’isRéu’ continuou uma
campanha indiscriminada que semeou o terror entre a população de Gaza,
matou famílias inteiras de várias gerações e destruiu enormes extensões
de terras urbanas e rurais.

‘isRéu’ é agora acusado pela África do Sul de cometer genocídio em Gaza
no Tribunal Internacional de Justiça (CIJ) em Haia, na Holanda.

Falando no sábado (13), após apresentações de ambos os lados na CIJ,
o primeiro-ministro [genocida] de ‘isRéu’, Benjamin Netanyahu, disse:
‘Ninguém nos impedirá, nem Haia, nem o eixo do mal e nem ninguém’.
O ‘eixo’ refere-se ao Irã e a seus grupos aliados’.

Alternando entre alegações de que este nível de matança e destruição
é de alguma forma justificado em nome da autodefesa e declarações
de que está fazendo tudo o que está ao seu alcance para evitar vítimas civis, Israel tem muitas vezes se afastado das suas declarações sobre os diferentes aspectos desta guerra [chacina] em Gaza.

Sobre o Assassinato de Civis Palestinos
https://youtu.be/ysmWN3pJxIA

As mensagens de “isRéu” sobre os civis confundiram os observadores.

Embora alegue, por um lado, não ter como alvo civis, também promoveu
uma narrativa que retrata todos os civis em Gaza como membros armados
do Hamas (https://twitter.com/i/status/1712489646536482827).

Além disso, Omer Tishler, o brigadeiro-general que chefia a Força Aérea Israelense, disse ao Jerusalem Post, já em 11 de outubro, que a campanha
de bombardeios estava destruindo bairros habitados inteiros, a fim de
atingir um ou dois “comandantes do Hamas”.
A [Agência Militar de] ‘Inteligência’ disse que estavam escondidos lá.

A ‘Inteligência’ em questão parece ser um Sistema de IA (Inteligência
Artificial) conhecido como “Habsora” (“Evangelho”)* que estava produzindo
alvos potenciais mais rápido do que os ataques a esses alvos poderiam ser
realizados e certamente mais rápido do que qualquer achado humano pudesse ocorrer – procedimento que não era seguido.

Ao nomear os alvos “militares” gerados por “Habsora”, Tishler conseguiu
concluir, de forma assustadora:
“Há sempre um alvo militar, mas não estamos sendo cirúrgicos”.

No solo, isto significa que deliberadamente “isRéu” lançou bombas
sobre campos de refugiados, hospitais, escolas – e bairros inteiros,
todos destruídos.

“isRéu” afirma que o seu sistema de “alerta” às pessoas, de que está prestes
a bombardeá-las, é adequado e isenta-o de qualquer culpa.

O sistema em questão consiste em lançar panfletos aéreos nos bairros
que informam aos moradores que as suas casas estão prestes a ser bombardeadas, dando-lhes qualquer coisa entre horas e um dia ou dois
para abandonarem completamente as suas casas e vidas e partirem – a pé,
como os civis em fuga têm feito, proibidos de usar veículos desde os
primeiros dias dos bombardeios em Gaza.

https://www.aljazeera.com/wp-content/uploads/2024/01/INTERACTIVE-100-days-of-Israels-war-on-Gaza-Journalists-Killed-1705215174.png

Sobre o Assassinato de Jornalistas

A mídia estrangeira apelou oficialmente da proibição de entrar em Gaza,
mas em 9 de janeiro, o Supremo Tribunal de Israel recusou a petição,
alegando que a presença de jornalistas estrangeiros em Gaza poderia
pôr em perigo as tropas israelenses ao revelar os seus locais operacionais.

Quanto aos jornalistas em Gaza, encontram-se em perigo crescente, sendo
pouco respeitadas às marcas de imprensa (“PRESS”) que usam todos os
dias.

Até esta data, 100 jornalistas e trabalhadores dos meios de comunicação
palestinos foram mortos em Gaza, uma pessoa por dia.

As duas últimas vítimas, Hamza Dahdouh da Al Jazeera e o freelancer Mustafa Thuraya, foram mortos num ataque aéreo direcionado ao
seu carro em Khan Younis, em 7 de janeiro.
[Hoje os Sionistas Genocidas Assassinaram Mais Um:
“Israel mata o Jornalista Palestino Yazan Al-Zwaidi
após bombardear sua Casa na Faixa de Gaza.”
(https://twitter.com/HoyPalestina/status/1746550744797393112)]

Em 15 de dezembro, o exército israelense atacou uma escola em Gaza,
de onde Samer Abudaqa, cinegrafista da Al Jazeera, e Wael Dahdouh,
chefe do escritório de Gaza, faziam reportagens.

Não houve relatos de distúrbios nas proximidades que pudessem explicar
o ataque.

Dahdoud foi atingido no braço e conseguiu chegar até uma ambulância
próxima.
Abudaqa ficou gravemente ferido nas pernas e não conseguiu fugir.

Durante as cinco horas seguintes, descobriu o Intercept,
ele ficou sangrando enquanto numerosos apelos eram feitos
ao exército israelense para permitir que uma ambulância
fosse salvar o jornalista.

O exército de “isRéu”recusou e ameaçou qualquer veículo
que se aproximasse.

Depois de uma vigília angustiada, Abudaqa sangrou até a morte.

Sobre Pôr em Perigo as Instalações Médicas Durante os Ataques Militares

Numa contínua indefinição dos limites entre alvos aceitáveis ​​e crimes
de guerra, “isRéu” sustentou desde os primeiros dias da sua guerra em Gaza
que o Hospital al-Shifa estava a servir de cobertura para um enorme centro
de comando das Brigadas Qassam que estava em túneis por baixo do maior
hospital de Gaza.

Depois de marcar al-Shifa como alvo – enquanto proclamavam que as
dezenas de milhares de doentes, feridos e deslocados ali amontoados
não eram alvos – as forças israelitas cercaram o hospital no início
de Novembro e o centro médico, já em dificuldades, mergulhou na
escuridão ao perder autonomia.

O mundo assistiu com horror à forma como os funcionários do hospital
foram forçados a retirar 36 bebês prematuros das suas incubadoras,
agora inúteis, e a fazer o seu melhor para mantê-los aquecidos
e respirando sem equipamento.

https://youtu.be/6VyYrZyHiiw

Oito bebês morreram enquanto os ataques israelenses a pessoas
que se deslocavam entre os edifícios aumentaram o medo das que
já estavam aterrorizadas no hospital.

“isRéu” invadiu o hospital em 15 de novembro e disse às pessoas que estavam
abrigadas lá para sair, a pé, e seguir para o sul, em Gaza.

“isRéu” negou ter emitido ordens de evacuação para o hospital.

https://www.aljazeera.com/wp-content/uploads/2024/01/INTERACTIVE-100-days-of-Israels-war-on-Gaza-Hospitals-1705215162.png

Seis dias depois, os bebês sobreviventes foram finalmente autorizados
a ser evacuados para o sul, em direção a Rafah.

Eles acabaram sendo levados ao Egito para o tratamento de que necessitavam desesperadamente.

Um dia depois, o programa de divulgação do Ministério da Defesa de “isRéu”,
a Coordenação de Atividades Governamentais nos Territórios (COGAT),
disse ter entregue grandes quantidades de alimentos ao hospital,
incluindo bolos, pasta de chocolate e picles.
https://pbs.twimg.com/media/F_d3rtOWIAAlNcK?format=jpg
https://twitter.com/COGATonline/status/1726980645447213354

No entanto, não mencionou como decidiu as quantidades de alimentos,
quantas pessoas permaneceriam vivas no hospital ou por quanto tempo
essas quantidades deveriam sustentá-las.

O Hospital Al-Shifa não foi o único a ser atacado.

“isRéu” parecia estar a atacar sistematicamente os hospitais em Gaza.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS/ONU), “isRéu” atingiu
cerca de 94 instalações médicas, incluindo 26 hospitais, desde 7 de outubro.

https://www.aljazeera.com/wp-content/uploads/2023/12/2023-11-18T000000Z_43119656_RC2HF4AVWJD3_RTRMADP_3_YEAR-END-ISRAEL-PALESTINIANS-1703619151.jpg

Entre os hospitais devastados estavam o Hospital Indonésio,
o Hospital dos Mártires de Al-Aqsa e outros.

Houve quase 600 ataques israelenses a hospitais e postos de saúde
em Gaza desde outubro, relatam as Nações Unidas.

Nestes ataques, “isRéu” matou cerca de 606 pessoas e devastou
um sistema de saúde já em dificuldades, impedindo que os médicos
prestassem cuidados vitais a milhares de vítimas no enclave.

Os hospitais que ainda estão de pé trabalham com uma chocante
falta de suprimentos, realizam cirurgias sem anestesia e só conseguem
fornecer paracetamol a amputados – como Ahmad Shabat, de 3 (três) anos,
que perdeu ambas as pernas num bombardeio israelense – para controle
da dor.

https://www.aljazeera.com/wp-content/uploads/2024/01/INTERACTIVE-100-days-of-Israels-war-on-Gaza-womens-health-1705215197.png

Os médicos também relataram ter tido que realizar partos cesáreos
sem nenhum alívio da dor, temendo que fossem mínimas as chances
das mães sobreviverem a essa dor física.

Mohammed Mhawish, da Al Jazeera, escreveu sobre a impossibilidade
de ter acesso a analgésicos ou antibióticos depois que a casa dele
e de sua família foi destruída em um ataque israelense.

Mohammed descreveu noites inteiras privadas de sono enquanto ossos
quebrados e feridas abertas os atormentavam.

“A infecção é uma preocupação constante”, escreveu ele,

“Cada vez que aparece o primeiro vestígio de contaminação, as feridas têm
que ser limpas com água quente, um fluido tão quente que queima a pele
saudável ao redor da ferida. Foi difícil fazer com que Rafik [o filho de dois anos de Mohammed] entendesse que não estávamos tentando queimá-lo.”

No entanto, a mensagem de “isRéu” continuou a afirmar que estava fazendo
todo o possível para ajudar a fornecer cuidados de saúde à população devastada de Gaza.

De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF),
as condições de vida das crianças continuam a deteriorar-se rapidamente
em Gaza, com casos de diarreia e doenças de pele a aumentar e a aumentar
o risco de mais mortes infantis.

Sobre Matar a População Civil de Fome

Num movimento que remonta às táticas de cerco medievais,
“isRéu” passou a limitar severamente a quantidade de alimentos,
água e combustível que poderia entrar no enclave de Gaza.

De cerca de 500 caminhões de ajuda humanitária todos os dias úteis
– além do comércio normal e do movimento de vegetais, frutas, lacticínios
e gado cultivados localmente – Gaza foi reduzida a nada durante duas
semanas.

As estações de purificação de água e tratamento de esgoto foram
paralisadas, pois ficaram sem o combustível necessário para continuar
funcionando.

Desesperado, o povo de Gaza começou a beber água salgada imprópria
e a tomar banho e lavar a roupa no mar, resultando na propagação de
doenças de pele em consequência do contato com a água do mar poluída.

https://youtu.be/YWzFOR23eAY

Para a Faixa de Gaza, onde 80 por cento da população já dependia
de ajuda humanitária, estas semanas sem fornecimento de alimentos
foram angustiantes, pois a fome tornou-se uma realidade diária e os pais
temiam que os seus filhos morressem de fome diante dos seus olhos.

Os carregamentos de ajuda humanitária que acabaram por ser autorizados
a entrar não foram nem de longe suficientes para alimentar uma população
já desamparada e sitiada.

A ONU afirma que cerca de uma em cada quatro pessoas passa fome
em Gaza e que dois terços das famílias em algumas áreas passaram
pelo menos um dia e uma noite inteiros sem comida .

Antes da guerra de “isRéu” contra Gaza, a ajuda humanitária também era
permitida através de várias travessias, que foram reduzidas a uma,
a passagem de Rafah com o Egito, e sobrecarregadas com um longo
e tortuoso protocolo de inspecção que atrasou ainda mais as entregas.

De acordo com as agências de ajuda humanitária em Gaza, o território atravessa agora a pior crise de fome do mundo.

As equipes das agências de ajuda humanitária relatam que as famílias estão
vasculhando os escombros em busca de restos de comida que encontram.

De acordo com a escala de cinco fases, reconhecida internacionalmente,
utilizada para classificar as crises alimentares, considera-se agora que
mais de meio milhão de pessoas em Gaza – um quarto de toda a população –
vivem a fase 5, mais grave, o “nível catastrófico”.

Por outras palavras, correm atualmente um risco crítico de fome e morte
em massa.

https://www.aljazeera.com/wp-content/uploads/2024/01/INTERACTIVE-100-days-of-Israels-war-on-Gaza-Food-insecurity-1705215154.png

Sobre Atingir Áreas Civis

Desde o início do ataque israelense, o sofrimento em Gaza tem sido
em vários níveis.

Além de as pessoas sentirem que estão em perigo físico, passando fome,
não tendo acesso a cuidados médicos e não conseguindo contactar
familiares que se encontram noutras localidades, têm sido atormentadas
pela constante incerteza sobre onde devem ir para procurar algum mínimo
de ajuda e segurança.

“isRéu” instruiu as pessoas no norte a “rumarem para o sul” constantemente
nos primeiros dias do seu ataque militar.

Entre as pessoas que atenderam ao apelo estava Dina, uma jovem mãe
que colocou as filhas num caminhão que saía da Cidade de Gaza no dia
13 de Outubro e se dirigia para o Sul num comboio.

Apesar dos anúncios israelenses de que a rota de evacuação era segura,
o comboio foi bombardeado e Dina foi morta, deixando para trás as duas
filhas e o marido angustiado.

A destruição avançou cada vez mais para o Sul na Faixa de Gaza, apertando
crescentemente uma população desesperada numa área cada vez menor
perto da fronteira sul com o Egito.

No início de Dezembro, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres,
disse ao Conselho de Segurança da ONU que as pessoas em Gaza
“estão sendo instruídas a mover-se como bolas de pinball humanas
– ricocheteando entre fatias territoriais cada vez menores do sul,
sem qualquer dos elementos básicos para a sobrevivência”.

A destruição de centenas de milhares de unidades habitacionais
também significou que as pessoas deslocadas que se deslocavam
das suas próprias casas destruídas não encontraram onde se abrigar,
e centenas de milhares de pessoas acamparam o melhor que puderam
em terrenos de hospitais, nas estradas e em campos vazios, o que
acrescenta uma realidade assustadora às notícias, de que “isRéu”
atingiu também terras rurais.

Em 10 de Janeiro, quatro crianças foram mortas por bombas israelenses
lançadas em terras agrícolas perto de Rafah, onde pessoas deslocadas
estavam abrigadas.

A região perto da passagem fronteiriça é um labirinto de tendas,
enquanto os palestinos deslocados procuram abrigo contra os
ataques israelenses.

https://www.aljazeera.com/wp-content/uploads/2024/01/INTERACTIVE-100-days-of-Israels-war-on-Gaza-Destruction-1705215141.png

Milhares de casas foram atingidas durante a guerra em Gaza,
em vários locais, muitos dos quais estavam em áreas que
o exército israelense afirmava serem “seguras”.

Quando ocorre um ataque, famílias, vizinhos e socorristas voluntários
correm para o local e começam a escavar freneticamente os escombros,
muitas vezes com as próprias mãos, para salvar quem ainda possa estar
vivo.

Durante todo o processo, “isRéu” afirmou que está a operar tendo em mente
a segurança dos civis de Gaza e que está envidano todos os esforços para
evitar quaisquer mortes desnecessárias.

De acordo com o Euro-Med Human Rights Monitor, com sede em Genebra,
“isRéu” tem visado deliberadamente abrigos em Gaza, numa tentativa de
forçar os residentes a procurarem saídas da Faixa de Gaza, caso existam.

Num comunicado, a organização sublinhou que os ataques direcionados
de “isRéu” aos centros de abrigo de Gaza constituem uma violação flagrante
do Direito Internacional, especialmente do direito humanitário internacional.

À medida que o sofrimento humanitário do povo de Gaza continua,
resta saber se a condenação internacional e a pressão sobre “isRéu”
servirão para pôr termo aos seus ataques implacáveis.

https://youtu.be/JSLe7sMov3w

* “Did Israel’s overreliance on tech cause October 7 intelligence failure?”:
(https://www.aljazeera.com/features/2023/12/9/did-israels-overreliance-on-tech-cause-october-7-intelligence-failure)

Íntegra da Reportagem na AL JAZEERA:

https://www.aljazeera.com/features/longform/2024/1/14/israels-100-days-of-relentless-war-on-gaza

Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/GDyeUYwWcAEehqE?format=jpg
https://pbs.twimg.com/media/GDyeOeTXIAAY-UI?format=jpg
https://pbs.twimg.com/media/GDyeWpeWwAENJCH?format=jpg
https://pbs.twimg.com/media/GDyeQ9SXgAAn7X6?format=jpg
“Centenas de Milhares de Pessoas em todo o Mundo
saíram às Ruas no Sábado para exigir o Fim da Chacina
de Israel em Gaza, que atinge a Marca dos 100 Dias.”
https://twitter.com/AJEnglish/status/1746445181178556731
.
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Zé Maria

Excerto com Adendo

“Relegada ao papel de cemitério do Direito Internacional,
a Palestina como um todo, e Gaza em especial, pouco espera
da Justiça dos homens [da OTAN (USA/UK/UE) na ONU].”

“Só que a petição apresentada pela África do Sul
pode ter desdobramentos inesperados.”

“A sentença final a ser decidida pelos 15 juízes
da Corte [Internacional de Justiça (CIJ)] pode
demorar dias, semanas, meses, até anos, mas
a ‘mera’ questão central – Israel cometeu genocídio? –
é devastadora em si.”

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