Cunha se queixa de falta de pagamento, mas Estadão tenta enredar Haddad com ex-diretor da OAS
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Léo Pinheiro pode fazer um tremendo estrago
‘Esqueceu de mim?’, queixou-se Cunha a empreiteiro da OAS
Relatório da PF descreve tentativas do deputado de conseguir dinheiro
POR VINICIUS SASSINE E EDUARDO BRESCIANI, em O Globo 08/01/2016 6:00
BRASÍLIA — Relatório da Polícia Federal com a íntegra das mensagens trocadas entre o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o então presidente da construtora OAS, Leo Pinheiro, revela a intensidade da troca de favores entre os dois.
Ao todo, foram 94 conversas em dias diferentes entre 2012 e 2014 — uma média de um contato a cada 11 dias.
As conversas obtidas pelo GLOBO mostram um Eduardo Cunha afoito por repasses de dinheiro da empreiteira, em especial para diferentes campanhas eleitorais.
Cunha, que ainda não era presidente da Câmara, também discute com Pinheiro emendas a medidas provisórias em tramitação no Congresso e sobre projetos de lei de interesse da empreiteira.
O atual ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB), que foi presidente da Câmara, é citado nos diálogos também como beneficiário de repasses da OAS com fins eleitorais.
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As citações a Alves fizeram a PF dedicar um capítulo do relatório a explicar quem é o “Henrique” das conversas, com a reprodução dos trechos.
Uma das mensagens mais emblemáticas mostra essa conexão entre os três — Pinheiro, Cunha e Alves — e a intensidade dos pedidos de dinheiro feitos pelo presidente da Câmara:
“Vc resolveu só metade Henrique ontem, esqueceu de mim? Rsrs”, questiona Cunha a Pinheiro, por mensagem de celular, em 14 de agosto de 2012.
“Me dê um tempinho. O nosso pessoal fez uma programação que não tinha visto”, responde o empreiteiro, duas horas e 40 minutos depois.
Outra conversa de Cunha com Pinheiro sobre doações eleitorais levanta suspeitas sobre a concessão do aeroporto de Guarulhos.
A OAS faz parte do consórcio que administra o aeroporto.
Em 29 de agosto de 2014, Cunha reclamou com o então presidente da OAS que ele teria repassado “5 paus” para Michel e Moreira, que seriam o vice-presidente Michel Temer e o ex-ministro Moreira Franco, e deixado de prestigiar os amigos, que seriam Cunha, Henrique Alves, e o primeiro-secretário do PMDB, Geddel Vieira.
“Até porque Moreira tem mais rapidez depois de prejudicar vcs do que os amigos que brigaram com ele por vc, entende a lógica da turma? Aí inclui Henrique, Geddel, etc”, escreveu Cunha.
O relatório da PF, concluído em 12 de agosto de 2015, foi encaminhado à Procuradoria Geral da República por conta das diversas citações a políticos com foro privilegiado, entre eles Cunha, Alves, o senador Edison Lobão (PMDB), o deputado federal Arlindo Chinaglia (PT-SP), os senadores do PT Gleisi Hoffmann (PR), Humberto Costa (PE) e Lindberg Farias (RJ), e o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner.
O documento tem 108 páginas e ainda está sob análise dos procuradores que atuam nos inquéritos. A equipe ainda não fez um juízo de valor sobre a existência de indícios de irregularidades em relação a cada um.
Cunha fez 27 pedidos
Nenhum político aparece tanto nas conversas quanto o presidente da Câmara. A PF fez uma lista: Cunha fez 27 pedidos a Pinheiro, enquanto Pinheiro fez 26 pedidos a Cunha. As conversas todas são anteriores à prisão do empreiteiro, em novembro de 2014.
A Justiça Federal no Paraná já condenou o ex-presidente da OAS a 16 anos e 4 meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Ele responde em liberdade.
As MPs discutidas pelos dois tratam de programa de refinanciamento de dívidas tributárias, desoneração de mão de obra e medidas tributárias referentes aos Jogos Olímpicos.
Em 21 de novembro de 2012, Cunha escreveu a Pinheiro sobre a MP das Olimpíadas: “584 vou tocar lá no assunto, acho que ficou bom para Eduardo Paes assunto que ele pediu”. Quatro horas depois, outro torpedo: “Passei na comissão e ficou muito bom o texto. Eduardo Paes está feliz e alcança todas as obras no Rio”.
O presidente da Câmara disse que não conhece os diálogos e, por isso, não comentaria. Confirmou que fez pedidos de recursos ao empreiteiro.
“Sobre recursos, somente de campanhas eleitorais do partido. Nem para campanhas minhas eu tive recursos deles. Só tratei de campanhas do partido ou de interesse do partido. Nunca recebi nem dele e nem de ninguém nenhuma vantagem indevida e desafio a provar”, disse Cunha.
Um relatório da Receita indica crescimento patrimonial injustificado de R$ 1,8 milhão de Cunha, de sua mulher, Cláudia Cruz, e da filha Danielle. O valor considerado é referente ao período entre 2011 e 2014. A informação foi divulgada na quinta-feira pelo jornal “Folha de S.Paulo”.
Diálogos suspeitos
Cunha conversa com Leo Pinheiro em 14/08/2012
Cunha: “Vc resolveu só metade henrique (Henrique Eduardo Alves, atual ministro do Turismo) ontem, esqueceu de mim? rsrs”
Leo Pinheiro: “Me dê um tempinho. O nosso pessoal fez uma programação que não tinha visto”
Cunha conversa com Leo Pinheiro em 29/08/2014
Cunha: “E vc ter feito 5 paus para MICHEL direto de uma vez antes, todos souberam e dá barulho sem resolver os amigos. Até porque Moreira (Franco, ex-ministro da Aviação Civil) tem mais rapidez depois de prejudicar vcs do que os amigos que brigaram com ele por vc, entende a lógica da turma? Aí inclui Henrique, Geddel (Vieira Lima, 1º secretário do PMDB), etc”
Leo Pinheiro: “????? Cuidado com sua análise. Lhe mostro pessoalmente a qte dos amigos!!!!!!!”
Cunha: “Eles tão chateados porque Moreira conseguiu de vc para Michel 5 paus e vc já depositou inteiro e eles que brigaram com Moreira vc adia, é isso. Vc dar, ninguém tem nada com isso, é só a preferência”
Leo Pinheiro: “Te explico pessoalmente. O assunto foi GRU (sigla do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo)”
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A política de vazamentos da Lava Jato
QUI, 07/01/2016 – 18:55
Ontem, a ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) soltou uma nota curiosa. O mote da nota é o vazamento de informações visando comprometer o senador Randolfo Rodrigues (Rede-AP).
“No que se refere a denúncias sobre senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e um suposto recebimento de dinheiro ilícito, já foi esclarecido pela Procuradoria Geral da República que as informações colhidas não são suficientes para indicar a autoria de crimes”.
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Na verdade, a nota é um protesto contra alguém (não se sabe quem) que atribuiu o vazamento aos procuradores da Lava Jato.
“É notório que a sociedade possui direito à informação e que a liberdade de imprensa é um pilar da democracia, bem como a verdade. No entanto a veiculação de fatos desabonadores sem a devida informação, que usam o Ministério Público Federal para atingir pessoas públicas, presta um desserviço à população no intuito de prejudicar o trabalho dos procuradores da República”.
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Ou seja, a ANPR admite que os vazamentos (acompanhados de interpretações maliciosas) são práticas espúrias. Mas rejeita como espúria a interpretação de que procuradores vazam. Rejeitando, admite que essas práticas podem comprometer a imagem do MPF.
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Conforme já explicitado em trabalho de 2004, sobre a Operação Mãos Limpas, a estratégia de Sérgio Moro é o vazamento amplo e diuturno de notícias, para controlar o noticiário. E, na outra ponta, parceria com editores sem discernimento, dispostos a aceitar qualquer fato manchetável.
Quando ambos – Operação e imprensa – compactuam do mesmo objetivo – adotar viés partidário – o jogo fica perfeito.
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Tome-se o Estadão de hoje. As três manchetes principais são um primor de vazamentos maliciosos de informação.
A primeira tenta incriminar o Ministro-Chefe da Casa Civil Jacques Wagner quando governador da Bahia. A matéria menciona conversas entre Wagner e dirigentes da OAS. O primeiro tentaria liberar recursos em Brasília, os segundos liberariam apoio para a campanha. Segundo o próprio jornal, é material mantido sob sigilo em Brasília e em Curitiba.
Provavelmente o vazamento foi feito pelo rapaz do cafezinho.
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O segundo vazamento diz que empreiteiro fez lobby com Cunha para Haddad. O lobby visava aprovar a rolagem de dívida de municípios. O relator do projeto era Eduardo Cunha e o homem que influenciava Eduardo Cunha era o presidente da OAS. Obviamente, sem a rolagem as capitais não teriam recursos para obras. E quem faz obras são empreiteiros.
Provavelmente o vazamento da conversa entre o presidente da OAS e Eduardo Cunha foi da faxineira do prédio da Lava Jato.
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O terceiro é a tentativa de incriminar o ex-presidente do Banco do Brasil – e atual presidente da Petrobras – Aldemir Bendine, em operação de compra de debêntures da OAS.
A operação não saiu. Ou seja, não havia o mote do crime. Mas, segundo o jornal, a PGR (Procuradoria Geral da República) viu “indícios” de crime no fato de Bendine pedir para conversar pelo telefone fixo.
Provavelmente Bendine fez o pedido com receio de que o motorista do PGR pudesse vazar a conversa para a imprensa, com ilações só possíveis para um motorista de procurador, não para um procurador.
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Pelo menos a manifestação da ANPR ajudará a conter o ativismo de alguns procuradores avulsos, em busca de notoriedade, abrindo representações a torto e a direito em cima de qualquer factoide.
Fica claro que, agindo como agiram, comprometeram a imagem do Ministério Público Federal.
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Por Charlie
O que se passa é que o senador Randolfe é linha de frente dos interesses corporativos da ANPR e do MPF no Senado Federal. Desde que a tal delação vazou, muitos procuradores passaram a defender o senador publicamente, como Helio Telho e Monique Chequer. É comum isso, procurador defender publicamente político suspeito do que quer que seja…?
Portanto, a tal nota não é para repreeder “procuradore avulsos” que praticam vazamentos (mesmo porque vazamento é regra no MPF, não exceção), mas sim limpar a barra com o Senador amigão, para que não restem dúvidas que ele mantém o total apoio da ANPR e pode continuar a ser o cão de guarda da instituição no Senado, ainda que um procurador desafeto tenha feito o vazamento.
Por LN
Seria conveniente que a ANPR instituísse um carimbo para os vazamentos: “a favor” e “contra”.
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