Safatle: Doria coroa a miséria do projeto de Alckmin; colapso de PT e PSDB desloca política brasileira para o Rio de Janeiro

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Com esgotamento de PT e PSDB, cerne político do país se desloca para o RJ

Vladimir Saflatle, na Folha, 07/10/2016

É possível que um dos saldos desta última eleição seja um deslocamento importante do eixo da política brasileira.

Durante toda a Nova República, esse eixo esteve encarnado na política paulista.

São Paulo viu nascer os dois movimentos mais expressivos responsáveis pela gestão do poder nos últimos vinte anos.

Primeiro, foi em São Paulo que as grandes greves do ABC redundaram em uma aliança composta por sindicalistas, intelectuais e igreja progressista que coordenou o processo hegemônico da esquerda brasileira sob o PT.

Tal processo certamente entrou em colapso com a eleição –ao menos se pensarmos o PT como força hegemônica capaz de produzir políticas de transformação.

Haddad era a última grande aposta do PT, mas pilotou uma prefeitura com baixos índices de aprovação durante três anos e sequer foi capaz de chegar ao segundo turno.

Não esperem autocrítica deste processo, já que muito parecem ter se acostumado à limitação do horizonte de expectativas que a última prefeitura do PT representou.

Segundo, foi em São Paulo que nasceu o PSDB –de uma divisão no antigo PMDB provocada pelo controle de Orestes Quércia sobre o partido. Com inspiração inicial social-democrata e com sua aliança de intelectuais, antigos políticos que fizeram a oposição ao regime militar e grandes operadores da economia nacional, o PSDB volta à Prefeitura de São Paulo para enterrar, com chave de ouro revestida de diamante e toques de porcelana Luís 14 falsa, seu próprio ciclo.

A eleição do sr. João Doria é uma dessas piadas que só situações terminais são capazes de produzir.

Implodindo seu próprio partido, com processos nas costas sobre abuso de poder econômico, esse personagem – frequentador de negócios obscuros com verbas públicas, de socialites caricatas e de programas do Amaury Jr. – representa o coroamento da miséria do projeto do sr. Alckmin.

A sobrevida do governador é a prova mais cabal de como o Tucanistão gosta de quem tem processos do Metrô correndo nos tribunais da justiça da Suíça e da França, de quem é suspeito de casos de corrupção com a merenda escolar e cuja incompetência provoca racionamento de água, fecha escolas, deixa universidades à míngua, espanca professores e tem índices sociais pífios.

Não espere daí nenhum novo ciclo de projetos nacionais.

Na verdade, o fato novo desta eleição ocorre no Rio de Janeiro. Pois é no Rio que vemos um dos embates que, provavelmente, darão a tônica nos próximos anos.

De um lado, a candidatura de um pastor evangélico representante da ala mais bem organizada deste movimento, a saber, a Igreja Universal do Reino de Deus. O crescimento de seu partido na última eleição, o PRB, é consistente (48% a mais de voto).

Diferentemente de seu “irmão na fé”, o PSC, o partido da Universal não comunga com o conservadorismo belicista e tosco que não teme em se apoiar nos amantes da ditadura militar.

Na verdade, o PRB é um efeito colateral do lulismo, pois cresceu nas hostes do governo –o ex-vice-presidente José Alencar (1931-2011) foi um dos seus fundadores–, aprendeu a manusear a lógica da assistência, a esconder melhor seu conservadorismo e sua dinâmica teológico-política. Por isso, tem e terá muito mais densidade eleitoral.

Do outro lado, temos uma das mais impressionantes experiências políticas dos últimos tempos no Brasil. Marcelo Freixo conseguiu federar um movimento de militantes, jovens e intelectuais único no Brasil atual, que se impôs como alternativa incontornável mesmo com apenas 11 segundos na televisão e nenhum dinheiro.

Com mobilizações de rua, comícios e discussões contínuas para a elaboração de plano de governo, esse movimento tem uma dinâmica que há muito havia desaparecido da esquerda brasileira.

Ele traz novas pautas, entre elas a constituição de mecanismos de democracia direta, a defesa radical dos direitos humanos e o fortalecimento dos serviços públicos.

Sua lógica é a de uma mutação das formas de governo, e não de adequação aos modos atuais de governabilidade. Em um momento em que a esquerda brasileira parece fechar um ciclo, o sucesso da experiência capitaneada por Freixo indicará o caminho pelo qual ela poderá se reconfigurar.

Leia também:

Raimundo Bonfim: Como enfrentar a crescente descrença dos brasileiros na política


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Comentários

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Mauricio

Pessoal, agora é hora de parar de ficar reclamando sentado na cadeira e fazer alguma coisa. No próximo dia 5/11 haverá ocupações e protestos em todo o Brasil, para remover esse governo ilegal e ladrão que se apossou do poder através de um golpe. Não adianta só reclamar e não fazer nada. Organizem protestos em suas cidades nas portas de veículos de comunicação, da PF, do STF, do congresso, etc. Todos que participaram desse golpe infame precisam responder pela traição ao povo brasileiro. A hora é agora!

https://rebeldesilente.wordpress.com/2016/10/09/marcha-para-brasilia-e-cerco-ao-palacio-do-planalto/

FrancoAtirador

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Mas Que Baita Mancada do Haddad…

https://pbs.twimg.com/media/CuWRK4pWAAAF9J4.jpg

https://twitter.com/MendesOnca/status/785193336051204096
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Francisco de Assis

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Duas observações, uma contra e outra a favor do revolucionário que escreve na Folha, Vladimir Saflatle:
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1.Sendo do PSOL, o partido da auto-crítica para os outros, poderia reconhecer que Freixo só foi ao segundo turno por causa dos eleitores de Jandira Feghali;
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2. O Freixo vai ganhar no Rio, entre outros motivos, porque a doutrinação psolista dos cariocas por Chico Alencar, direto do blog do Noblat, terá efeito mortífero sobre o adversário, e causará um terremoto, mudando o eixo da política brasileira. E se não ganhar no Rio pelo menos ganha no Leblon, onde está sendo gestada a próxima geração de revolucionários brasileiros.
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Teca

A política (ou, o que Safatle parece querer dizer, a esquerda) se desloca para o Rio? A analise estatística das eelições feita pelo Rui Pimenta nesse vídeo parece dizer algo muito diferente (https://www.youtube.com/watch?v=kUuL1jP8odM). A derrota foi de toda a esquerda, o que significa dizer que a pretensa excepcionalidade do PSOL não passa de fantasia. Aliás, uma análise que não ajuda nada na necessária união das esquerdas, que o PSOL parece não querer, enganando-se com a tese de que agora irá substituir o PT.

Arnon

A esquerda se lambuzou toda na corrupção ou apoiando a direita. Logo, subentende-se que certas lideranças de esquerda nunca foram esquerda. Só querem o poder como todos os outros.
Marina Silva é uma piada. Apoiar psdb e dem foi dar um tiro no pé. O conservadorismo desses 2 partidos vai transformar o Brasil na vigésima economia mundial, vamos andar pra trás.

Luis Carlos Saldanha

Colapso do PSDB?

O cidadão viu o resultado das últimas eleições?

Pra reconhecer o colapso do PT, é preciso fabricar o colapso do PSDB tb?

Fica mais fácil, né?

rsrs

saulo

Se Freixo não tiver uma votação expressiva, e muito distante da de Crivela, podem cravar:
O primeiro ficará abaixo da margem negativa de erro e, o segundo, acima.
Conforme nos tem advertido o Viomundo, isso vem acontecendo nas últimas 9 eleições.

francisco pereira neto

Safatle continua com seus delírios filosóficos.
Vem com nhenhenhem neste artigo dando dimensão com o momento político do RJ que não tem.
Que ele se iluda com o seu Psol, e o exército de um homem no RJ e que trilhe o mesmo caminho ao criticar o PT e cometer os mesmos erros do.
As esquerdas no Brasil é assim: uma miragem, uma tremenda ilusão.
E vai o senhor Safatle e o seu Psol caminhando para o mesmo holocausto do PT.
Não que eu seja contra a plataforma defendida pelo Psol, por sinal elogiável, assim como sempre defendi a do PT.
Agora, com essa postura de isolacionismo não chegará a lugar nenhum.
De tão “esquerdistas” que são, como dois pontos que caminham em sentidos opostos se aproximou da direita, tal qual num movimento que descreve um círculo.
E continua batendo no PT culpando-o pela ascensão do PRB.
De quem mesmo?
PRB?
Ora, tenha paciência.

Mauricio

A propósito, falando no Freixo, saiu hoje uma excelente reportagem sobre como grupos ultraconservadores e fanáticos religiosos têm operado no submundo da internet para atacar o candidato do PSOL. Pra variar, liderando essa cruzada abjeta, estão o inefável Silas MALAfaia, a família BolsoASNO e a “revista” veja.

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-papel-de-um-blog-da-veja-e-do-site-antagonista-na-rede-de-difamacao-de-freixo-por-zambarda/

Pedro Augusto Pinho

QUEM É A BOLHA?

Nelson Rodrigues, com o sarcasmo que comentava a sociedade de sua época, escreve que a granfina, chegando ao Estádio do Maracanã, pergunta “quem é a bola?”.
Os pretensos analistas financeiros e econômicos que ocupam as páginas de jornais e revistas do Rio de Janeiro e São Paulo, assim como os comentaristas das redes de televisão, me sugeriram o título deste artigo, modesta homenagem à granfina das narinas de cadáver.
Desde os anos 1980, com crescente quantidade e densidade, o mundo tem conhecido “crises” fabricadas pelo sistema financeiro internacional – a banca. Elas foram importantes para o crescimento, fortalecimento e empoderamento da banca.
A partir de 2008 a condução da economia, em quase todos os países e com maior ou menos ortodoxia, tem sido realizada pela banca. Isto vem destruindo instituições, construções de cidadania e mesmo o modelo democrático, apesar das aparências formais.
Hesitaria em qualificar os governos militares brasileiros como ditaduras pois também tivemos eleições para os poderes executivo e legislativo naqueles anos? Se os eleitos não agradavam havia o recurso da cassação. Hoje este se dá previamente. Ao candidato inconveniente faltarão recursos financeiros e a comunicação de massa totalitária o desconstruirá, sendo cassado mesmo antes mesmo de ser eleito.
A eleição para Prefeito do Município de São Paulo foi uma clara e insofismável prova da ditadura midiática e financeira, o que vimos também em outros municípios nesta eleição de 2016. E as instituições, já corroídas pelas anteriores ações da banca, onde destaco apenas a espionagem com recursos norteamericanos, nem se moviam, mesmo em sua paquidérmica velocidade, como da tradição e feitio.
Quem é a bolha? Quem é a crise?
O presidente do Conselho de Desenvolvimento Global, nomeado por Barack Obama, economista, doutor por Oxford, novaiorquino Mohamed El-Erian, que por quinze anos serviu ao Fundo Monetário Internacional (FMI), no livro recém editado “A Única Solução”, nos traz as seguintes apreciações:
1 – o mundo pós 2008 tem sido governado pelos Bancos Centrais;
2 – as tensões e contradições desta gestão são crescentes e se estendem para além da economia e chegam ao terreno da política; e
3 – dentro de três anos haverá a ruptura deste “sistema” e a saída dependerá das decisões políticas que sejam adotadas ainda em 2016.
Pelo pouco que me é dado conhecer das situações internas de outros países, apenas a Bolívia, na América do Sul, está se aparelhando para sobreviver a esta crise. Não quero afirmar, pois desconheço, estarem outros países nas Américas e outros continentes sem capacidade de adotar e manter decisões que os fariam superar as nefastas consequências desta crise, que avalio se dará mais cedo. Talvez a Federação Russa, mas nenhum outro europeu.
O Brasil poderia, pelos recursos efetivos já disponíveis e pelos potenciais, ter condição saudável para enfrentar este caos anunciado. Infelizmente, a sujeição dos governantes à geopolítica norteamericana e o domínio das instituições da República pelo poder dos financistas, ruralistas e corruptos e corrompidos de diversas ordens, além da desinformação do povo pela ditadura da mídia não nos deixam esperançosos.
Esta eleição de outubro sepultou o pouco que restava. Assim como as decisões judiciárias, em todos os níveis, subordinando o direito social ao individual, casuisticamente.
Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

    francisco pereira neto

    Pois é Pedro.
    E o Safatle acreditando em duende, Papai Noel, Sacy… no Psol.

FrancoAtirador

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Um dos Efeitos Positivos da Não Reeleição de Fernando Haddad

é que certamente não concorreria ao Governo Estadual em 2018.
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