Carone e Nilton Monteiro começam a responder ação penal que dizem ter sido armada contra eles

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por Conceição Lemes

Acontece nesta segunda-feira (09/07), às 13h30, na 2ª Vara Criminal de Belo Horizonte,  a primeira audiência de instrução na ação penal que investiga as acusações que fundamentaram as prisões preventivas do jornalista Marco Aurélio Carone e do ex-lobista Nilton Monteiro.

Nilton delatou à Policia Federal (PF) e ao Ministério Público Federal (MPF) os esquemas das listas do Mourão – o mensalão tucano, ou mineiro – e de Furnas, que são comprovadamente verdadeiras.

Carone editava o site NovoJornal, o único veículo em Minas que não se curvou à censura comandada pela então toda poderosa Andrea Neves durante os governos do irmão, Aécio Neves,  e de Antônio Anastasia, ambos do PSDB.

Em 12 novembro de 2013, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG)  denunciou Carone e Nílton  por formação de quadrilha, falsificação de documento público, falsidade ideológica, fraude processual, denunciação caluniosa.

Em sua denúncia, o promotor André Luiz Garcia de Pinho, da Promotoria de Combate ao Crime Organizado, tachou Nilton de “midas da falsificação” e “chefe de quadrilha” e Carone, de “relações públicas do bando”.

O promotor Pinho acusou o NovoJornal de atuar  “como verdadeiro balcão para intimidação e desmoralização das vítimas da quadrilha”.

Segundo ele, uma das vítimas de“ textos e documentos infamantes” de Carone é Eduardo Azeredo – ex-senador, ex-governador e ex-presidente nacional do PSDB – atualmente preso em Belo Horizonte.

Entre os documentos que o promotor diz que Nilton Monteiro fraudou e Carone divulgou está a lista do mensalão tucano, que levou Azeredo para a cadeia em 23 de maio de 2018.

Azeredo foi condenado em segunda instância a 20 anos de prisão por seu envolvimento mensalão tucano, esquema denunciado por Nilton Monteiro.

Azeredo teria recebido R$ 3,5 milhões (em valores atualizados, R$11.897.429,60)  desviados das estatais Comig, Copasa e Bemge para abastecer a sua campanha de reeleição ao governo de Minas, em 1998.

Marco Aurélio Carone ficou preso preventivamente de 20 de janeiro a 4 de novembro de 2014.

Nilton Monteiro, de maio de 2013  a 4 novembro de 2014.

Desde 14 de  junho de 2018, Nilton está encarcerado  novamente devido à condenação, em segunda instância, de 20 de abril de 2017.

Só que investigações conduzidas pela equipe do delegado Rodrigo Bossi, da Polícia Civil de Minas, demonstraram que tanto Marco Aurélio Carone quanto Nílton Monteiro são inocentes.

Os investigadores têm plena convicção de que os dois foram vítimas de uma organização criminosa que operou em Minas Gerais para perseguição política.

Porém, só agora – quatro anos e oito meses após a denúncia de Pinho —  Carone e Nilton vão ser ouvidos nesse inquérito.

“O promotor André Pinho disse que eu era ‘relações públicas’ da organização criminosa e utilizava o NovoJorrnal para defender o Nilton Monteiro e pressionar as vítimas. O que foi desmentido por todos”, afirma Carone.

“O que eu fazia publicar denúncias do Nilton Monteiro, que estão se comprovando verdadeiras”, prossegue.

Coincidentemente, o promotor é mesmo que três semanas antes de Carone ser preso, ele denunciou numa reportagem, mostrando que havia forjado provas contra o irmão, o advogado Marco Antônio Pinho, para poder prendê-lo e tomar-lhe todos os bens.

“Um negócio horroroso, mesmo. O irmão foi para a cadeia, a vida dele acabou”, relembra Carone.

“Havia uma desavença em família, com envolvimento da esposa do promotor, ele decidiu utilizar o cargo, para acabar com a vida do irmão. E acabou!”, expõe Carone.

O caso era de amplo conhecimento do Ministério Público.

Os advogados de Marco Antônio tinham ido ao MP, denunciado na Corregedoria e o MP não nada fez.

Até hoje a denúncia contra o promotor está parada no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).

Em 20 de janeiro de 2014, dia em que Carone foi preso, saiu no portal do MPMG:

A Polícia Civil de Minas Gerais cumpriu, na manhã desta segunda-feira, 20 de janeiro, mandado de prisão preventiva contra o proprietário do portal Novo Jornal. A decisão, decorrente de Investigação Criminal e de denúncia do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por meio da Promotoria de Combate ao Crime Organizado, determina ainda que o site seja retirado do ar.

De acordo com o promotor de Justiça André Luis Garcia de Pinho, a prisão preventiva foi necessária para impedir que o jornalista continuasse a intimidar, por meio do portal, testemunhas do processo no qual é réu. André Pinho afirmou que, de 11 testemunhas arroladas no processo, 10 sofreram ataques caluniosos no Novo Jornal a partir do oferecimento da denúncia.

Segundo a Promotoria, o dono do jornal fazia parte de uma quadrilha que agia em Minas Gerais, Espírito Santo e Distrito Federal há mais de 10 anos. Além da formação de quadrilha, as acusações incluem falsificação de documentos públicos e particulares, denunciação caluniosa, extorsão. Outro integrante da quadrilha já está preso na penitenciária Nelson Hungria e um terceiro se encontra foragido.

O outro “integrante da quadrilha” a que se refere a notícia veiculada pelo portal do MPMG é Nílton Monteiro.

“Uma denúncia sem pé nem cabeça, com documentos ideologicamente falsos”, afirma Carone.

Segundo Carone, o promotor juntou denúncias que tinham sido apuradas e Carone, inocentado. Só que deixou de fora as decisões.

Ele juntou também o depoimento de uma pessoa acusando Carone, mas não incluiu a conclusão do inquérito, dizendo que aquilo não era verdade.

“Ele chegou ao ponto de juntar nos autos um parecer dizendo que era crime as matérias que eu havia publicado sobre a Andrea [Andrea Neves], na condição de presidente da Servas”, diz.

Servas é o Serviço Social Autônomo de Minas Gerais.

“Só que o parecer era apócrifo. Ninguém assinava. Não fazia parte de qualquer processo ou denúncia”, descreve. “É como se você pegasse um parecer e arrancasse a última folha dele.”

A principal pergunta até hoje não respondida: quem fez o “parecer” e como ele chegou nas mãos do promotor André Pinho?

“Já existem na ação penal certidões e sentenças que comprovam que todos os documentos juntados no inquérito pelo promotor são ideologicamente falsos”, completa Carone.

Estão convocadas para depor como testemunhas de defesa de Carone: Andrea Neves, Frederico Pacheco de Medeiros (primo do Aécio que foi preso com mala de dinheiro que o dono da JBS, Joesley Batista, enviou para Aécio) e Marco António de Pinho.

Entre as testemunhas de defesa de Nilton Monteiro, Eduardo Azeredo e Aécio Neves.

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