Coletivos judeus repudiam Lottenberg em jantar com Bolsonaro: “Quem aceita o mal sem protestar, coopera com ele”

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Cláudio Lotttenerg, presidente da Confederação Israelita do Brasil e do Conselho da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. Foto: Reprodução

Da Redação

Nessa quarta-feira (07/04), Cláudio Lottenberg, presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), reuniu-se em um jantar com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido/RJ) e alguns empresários.

O evento, realizado em São Paulo, foi amplamente noticiado pela mídia.

Para o coletivo Judeus pela Democracia SP, é algo inaceitável.

Em sua página de rede social, postaram:

“Não nos representa como judeus ou brasileiros”.

“Ir a um jantar com alguém que colabora com o genocídio e negacionismo da pandemia, no Dia da Lembrança do Holocausto, é uma página triste para a história da Conib”.

Em carta aberta, o Observatório Judaico dos Direitos Humanos e o Judeus pela Democracia SP repudiaram a ida de Cláudio Lottenberg ao evento.

Além de presidente da Conib, ele é Conselho da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.

Abaixo na íntegra.

Carta aberta ao presidente da Conib, Sr. Cláudio Lottenberg

São Paulo, 08 de abril de 2021

Ao presidente da Confederação Israelita do Brasil, Sr. Claudio Lottenberg,
Às demais entidades da comunidade judaica brasileira

“Quem aceita o mal sem protestar, coopera com ele”
Martin Luther King

É com indignação que tomamos conhecimento da participação do presidente da CONIB Sr. Claudio Lottenberg, no jantar promovido pelo presidente da República Jair Bolsonaro em São Paulo, no dia 7 de abril de 2021.

Aquele não se tratava de um encontro protocolar entre o presidente da República e o presidente da CONIB, mas de uma reunião com empresários com o objetivo de reconstruir a base de apoio político ao governo, abalada desde que foi divulgado o posicionamento conjunto de diversos empresários em repúdio à maneira como o governo federal tem lidado com a pandemia.
Dessa forma, a presença no evento indica possível confusão entre as agendas institucional e pessoal de Lottenberg.

A participação em um evento dessa natureza não condiz com o cargo de representante político de uma comunidade que se orgulha de ser plural, nem com uma entidade que se propõe, entre outros objetivos, a combater a intolerância.

Por uma infeliz coincidência, a “confraternização amistosa” aconteceu em Yom Hashoá, dia em que lembramos as 6 milhões de vítimas do Holocausto nazista.

Desde 2018, diversos grupos da comunidade judaica se colocaram contra Jair Bolsonaro, em repúdio a seus ataques à institucionalidade, aos demais poderes da República, à imprensa, à sociedade civil organizada, aos direitos humanos, à memória do Holocausto e a qualquer voz de oposição.

As ideias, falas e ações do presidente o colocam à margem do campo democrático brasileiro, pois partem sempre da violência, da intolerância, do repúdio à diversidade e da negação à ciência.

Como o filósofo judeu Karl Popper nos ensina, não se deve tolerar o intolerante, sob o risco de ter demolido o espaço de convivência entre os diversos.

Para além de autoritário, o presidente Jair Bolsonaro é o maior responsável pelas mais de 340 mil vidas perdidas pela crise de saúde da Covid-19, por sua gestão errática e irresponsável da pandemia.

A ausência de coordenação nacional, a falsa dicotomia entre economia e saúde, a negação da ciência, as críticas recorrentes aos protocolos sanitários mínimos e os estímulos à aglomeração colocam na conta do presidente as centenas de milhares de mortes, números dignos de grandes guerras da história mundial.

A crueldade em rir e fazer chacota de quem padece da doença passa de qualquer limite aceitável, e a humilhação internacional pela qual o atual governo nos faz passar deveria ruborizar qualquer cidadão brasileiro.

O presidente já demonstrou em inúmeras situações a indisposição de mudar de comportamento.

Não há cooperação possível com Jair Bolsonaro. Há apenas a cooptação.

A presença do Sr. Cláudio Lottenberg no jantar, representando a CONIB, visa dar legitimidade à ideia de um apoio de judeus a um projeto político que vai contra os mais altos valores humanistas e democráticos, legados a nós pela tradição e história do povo judeu.

Por isso, repudiamos a atitude irresponsável, ambígua e perigosa do Sr. Cláudio Lottenberg.

**

Observatório Judaico dos Direitos Humanos e o Judeus pela Democracia SP estão recolhendo assinaturas para a carta.

Entidades, organizações e pessoas físicas da comunidade judaica podem subscrevê-la.

Para isso, clique aqui

Martin Luther King com o rabino Abraham Joshua Heshel e o reverendo Abernathy no Cemitério Nacional de Arlington, 6 de fevereiro 1968

“NÃO ADIANTA FAZER BIQUINHO DE CONTRARIEDADE”
Por Pedro dos Anjos
A morte em escala industrial – não importa se planejada ou resultante de negligência deliberada – revela um animus necandi genocida, inegável, por parte de JB.
Uma prática de extermínio inspirada no nazismo hitlerista.
JB já ultrapassou mais de 10 vezes o desejo por ele confessado de uma matança em guerra civil, professado em TV em 1999. Viu na guerra virológica uma oportunidade, como reconheceu Tales Ab’Sáber:

“Bolsonaro, como grande fascista [hoje, eu o chamaria de nazi] que é, necessita da morte e do extermínio do outro como contraponto e como ponto de fuga de sua política. Se não pode matar ativamente, como um dia disse que faria e como fez o ditador latino americano Pinochet que ele tanto admira, ele o faz por decisão de eximir o governo de responsabilidade, e de governo, diante de uma pandemia global mortal”

Em outras circunstâncias bem diferentes e formação social totalmente distinta, Cláudio Lottenberg repete o padrão ético e politicamente miserável de Max Naumann, da Associação de Judeus Nacionais Alemães (em alemão: Verband nationaldeutscher Juden), na ascensão de Hitler – e não adianta ele fazer biquinho de contrariedade.


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Comentários

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Patrice L

Como sugere o manifesto e o comentário final à matéria, já seria repulsivo que, mesmo em caráter personalíssimo, um judeu se sentasse à mesa pra confraternizar, junto a outros apoiadores, com um governante genocida e de tendências nazistas. Que dirá de ainda coincidir de ser nada mais, nada menos do que presidente e conselheiro de instituições judaicas, uma das quais a própria confederação brasileira. E pior: em desrespeito exatamente às datas em que se lembra o crime humanitário do Holocausto contra a população judaica e outros. Em todos os sentidos, injustificável!

Zé Maria

As Elites Econômicas e Religiosas Alemãs apoiaram a Ascensão de Adolf Hitler, na Alemanha, no Início da Década de 1930.

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