Bruno Ladvocat Cintra: Barbaridades de Jair Bolsonaro no palco das Nações

Tempo de leitura: 2 min

Bolsonaridades no Palco das Nações

Por Bruno Ladvocat Cintra*, especial para o Viomundo

Em fevereiro de 1933, o governo militarista do Japão anunciou a saída do país da Liga das Nações.

O regime, que invadira a China em 1931, ocupando a província da Manchúria, estava repudiando o relatório da Liga que condenava a agressão.

Em outubro de 1933, o governo nazista da Alemanha anunciou a saída do país da Liga das Nações.

O regime, que pretendia expandir e intensificar suas forças armadas, violando as restrições de tratados internacionais, estava rechaçando a conferência da Liga que planejava o desarmamento mundial.

Em dezembro de 1937, o governo fascista da Itália anunciou a saída do país da Liga das Nações.

O regime, que atacara a Etiópia em 1935, triunfando pouco depois, estava afrontando as sanções econômicas que a Liga impusera como resposta.

Àquela época estava nítido às potências nazifascistas que o pertencimento à Liga era uma inconveniência para seus projetos de supremacia nacional.

Apesar das tendências fascistóides de Jair Bolsonaro, ninguém nega que as maiores vítimas de suas agressões, violações, ataques, e afrontas são os próprios brasileiros.

A comunidade internacional protestou muito, mas reagiu pouco às ofensivas do nazifascismo, até que elas se intensificaram e desaguaram na Segunda Guerra Mundial.

A Organização das Nações Unidas, substituta da Liga das Nações, até discute ataques de um país a outro, mas o caso brasileiro é de crime, ódio, descaso e fúria, e perpetuação de uma pandemia de dimensões genocidas, tudo com autoria interna.

A dinâmica destrutiva do governo não vê inconveniência em pertencer à ONU—pelo contrário, ele busca participar, e até discursar na Assembleia para defender-se do repúdio da população brasileira.

Mas as mentiras que ele conta na ONU nada devem às mentiras que a Itália fascista, a Alemanha nazista, e o Japão militarista contavam à Liga.

Porém, o seu projeto nem é de supremacia nacional, mas de submissão, ainda que seu líder, Donald Trump, já não governa o país ao qual ele quer nos submeter.

E enquanto Jair subia à ONU para vituperar os piores delírios, seu filho Eduardo se preparava para subir ao picadeiro televisivo da Fox News para expelir falas igualmente insanas.

Eduardo, dublê frustrado de embaixador brasileiro nos States, compareceu ao canal campeão de “fake news” para uma entrevista com Tucker Carlson.

Fez questão de responder em inglês, exibindo, tragicomicamente, uma péssima noção do idioma, mas, tipicamente, o conteúdo político conseguiu ser pior.

Entre outras pérolas, ele chamou o prefeito novaiorquino, Bill de Blasio, de “marxista” da linha de Antonio Gramsci (pronunciou “Grammish”).

Afirmou que os EUA não estão longe de ficar como a Venezuela (seja lá o que isto signifique).

E, em habitual hipocrisia, o contumaz adversário dos direitos humanos falou em liberdade.

Não é o contexto dos anos 1930, de ditadores confessos rejeitando entidades multilaterais. Hitler, Mussolini e Tojo fizeram a Segunda Guerra, encorajados pelo apaziguamento.

Os Bolsonaros não estão prontos para invadir outros países, basta arruinar o próprio.

Na ONU são tolerados, não apaziguados, porque o apaziguamento ocorre no Brasil, onde ainda há gente demais encorajando a barbárie governista.

*Bruno Ladvocat Cintra é historiador, jurista e membro do Coletivo Judaico de Esquerda.


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Comentários

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Daniel Feldman Israel

Belíssimo texto, uma reflexão simples, breve, carregada de profundo senso histórico. Parabéns ao autor pela argúcia e a capacidade sintética. Merece e precisa ser compartilhado largamente.

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