Breno Altman: Judaísmo não é sionismo

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Governos sionistas, como o de Benjamin  Netanyahu fizeram Israel ocupar territórios que não lhe pertencem, impedindo a soberania de outro povo, o palestino

por Breno Altman, no Opera Mundi, via e-mail 

O presidente da Confederação Israelita do Brasil, Claudio Lottenberg, publicou nesta Folha um artigo instigante. O título embute uma premissa fundamental: “Antissionismo é antissemitismo”. Trata-se de conveniente cláusula para interdição do debate: não seria possível confrontar as ideias de Theodore Herzl sem se confundir com os que levaram seis milhões de judeus ao extermínio.

Tal escudo moral, amparado na vitimização, resvala para o cinismo. Sucessivos governos sionistas, afinal, transformaram Israel em país ocupante de territórios alheios, impedindo a soberania de outro povo, o palestino. Os requintes de brutalidade para manter essa dominação colonial, nos últimos anos, ofendem a comunidade internacional. O álibi do Holocausto, nessas circunstâncias, constitui insulto à humanidade e à memória judaica.

Lottenberg nem sequer se refere ao massacre de Gaza, mesmo diante dos corpos de mulheres e crianças. Prefere apresentar versão edulcorada do sionismo, que seria “a expressão moderna da autodeterminação nacional judaica”. Não faz qualquer questão de se diferenciar dos bandos mais reacionários, como o Likud de Benjamin Netanyahu.

O autor vai ainda mais longe. Para ele, os judeus “definem-se por uma religião (o judaísmo), uma língua (o hebraico) e uma terra (Israel)”. De uma penada, expurgou, por exemplo, os judeus que são ateus, aqueles cuja língua é a do país no qual vivem e os que não consideram primordial a existência de Israel.

Atualmente hegemônico entre os judeus, o sionismo é apenas uma corrente de opinião, que se caracteriza por abordagem nacionalista. Não equivale a eventual código histórico-cultural dos povos judeus. Trata-se tão somente de uma orientação político-ideológica fundida à religião e ao Estado.

O epicentro de seu discurso sempre foi a criação de uma “pátria judaica”. Vários dos fundadores do sionismo eram agnósticos, mas selaram aliança com chefes religiosos para reforçar seu poderio, ainda que às custas de construir o Estado de Israel como entidade confessional.

Ao contrário da autodeterminação dos negros na África do Sul pós-Mandela, forjando uma república laica e não racial, o nacionalismo sionista pressupõe supremacia judaica e religião estatal. Essa concepção levou a uma nação com tripla personalidade: democracia para judeus, cidadania de segunda classe para árabes-israelenses e regime de apartheid para palestinos dos territórios ocupados.

Nem todos os sionistas, é verdade, são defensores do colonialismo. Muitos, como o próprio Lottenberg, são partidários da solução dos dois Estados e da retirada para as fronteiras anteriores a 1967. Constitui manobra repulsiva, porém, afirmar que seja antissemitismo a contraposição ao sionismo. Essa é a lógica que dirigentes sionistas sempre quiseram impor aos críticos da política belicista e expansionista de Israel.

Não é ser antissemita negar aos grupos dominantes do sionismo o direito de cometer crimes de limpeza étnica, discriminação e agressão armada contra o povo palestino.

Não são definitivamente antissemitas os judeus que, honrando longa história de participação nas lutas pela emancipação dos povos e pela paz, se apresentam para combater a doutrina supremacista que rege o Estado de Israel.

BRENO ALTMAN, 52, jornalista, é diretor do site Opera Mundi

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Comentários

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Cláudio

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Elias

“…desde há meio século essa dívida histórica está a ser cobrada dos palestinos, que também são semitas e que nunca foram, nem são, antissemitas.” Eduardo Galeano

Portanto, há de se frisar, há de se divulgar em toda parte que antissemita não tem nada a ver com antissionista. Aliás, nem existe antissemita, existe mesmo é antissionista, apenas.

O sionismo procura confundir quando insiste em dizer que ser antissionista é o mesmo que ser antissemita. Palestinos e judeus são semitas, segundo a bíblia, são descendentes de Sem, filho de Noé. Sírios e outros povos também são semitas.

Os sionistas fazem o mesmo que os poderosos da mídia que também insistem em confundir corações e mentes de que liberdade de imprensa é o mesmo que liberdade de expressão, quando são duas coisas bem distintas.

Judeus, palestinos, sírios, libaneses são todos irmãos. Não fosse o sionismo, estariam todos vivendo juntos em paz, harmonia e progresso.

    HMS_TIRELESS

    Parabéns meu caro! Você é mais um inocente útil usado para criminalizar o sionismo

Edgar Rocha

A culpa de tudo que acontece no mundo é dos árabes! Sim, porque, se um Estado comandado por nazistas como os EUA não puder culpar judeus, já que são seus aliados (ao menos os sionistas, que são hegemônicos), alguma minoria há de pagar o pato. Se não colar, ainda existe a regra três: gays! A quatro também: imigrantes ilegais! A cinco: pretos! A seis: comunistas! A sete: os jovens pobres! A oito: ateus! A nove: feministas! A dez: jornalistas subversivos! Não faltam culpados! Nunca! Mas, é bom que cada um lute apenas pela sua categoria. Que haja movimentos voltados apenas para o interesse de sua minoria. É bom que judeus entendam que qualquer um que discorde do sionismo não será considerado judeu! É dever dos que pertecem a uma panela zelar pela “causa” e pela imagem do grupo, defendendo cegamente a “categoria” não importa sob qual discurso ou prática! Petistas, apoiem todo petista incondicionalmente, sem questionar! Pretos, não vejam no branco alguém que possa se beneficiar pelos direitos os quais vocês justamente reivindicam! Brancos, pensem nos pretos como inimigos e defendam cegamente a todos que forem do seu pedigree!
É exatamente isto que apregoa o referido Claudio Lottenberg. É isto que se espera hoje de qualquer militância ativa na defesa de qualquer bandeira: não olhe para o lado!!! Infelizmente, é aí que está a raíz da grande desarticulação social, do individualismo, da susceptividade a mentiras e discursos vazios da maioria dos cidadãos e que vem sendo instaurada e solidificada há anos. A denúncia presente no post acima é um grito uníssono no deserto. Talvez, porque só uma gente que sofreu na carne, da pior forma possível, os efeitos do discurso de manipulação de massas, seja capaz de detectar e defender-se do corporativismo generalizado que serve de caldo de cultura para o que se vive no Brasil e no exterior. Um judeu com vergonha na cara deveria ter arrepios quando tentassem lhe impor algum cabresto ideológico. Ao menos os mais velhos deveriam ter ensinado isto aos seus descendentes. Será que fizeram direito?

mineiro

parabens ao texto , é isso mesmo. nao podemos confundir o povo judeu que é exemplo para todos nos , atraves da biblia e mais recente , com o holocausto sofrido na segunda guerra mundial , nao pode ser conivente com isso que esta acontecendo com a palestina. o que esses ditadores de israel esta fazendo a mando do maior desgraçado na humanidade o famigerado maldito eua. nao tem nada a ver com o povo judeu e a sua historia , esses ratos sao da mesma laia de hitler e se tivesse na 2ºguerra mundial com certeza seria contra o seu proprio povo , porque quando nasce para ser ruim , é ruim em qualquer lugar. o que a maioria fez criticas a e eu tambem foi contra essa politica suja e nao o povo, é a mesma coisa os eua , com certeza a maioria o povo americano nao é ruim quanto a sua politica dominante.

Jair de Souza

O sionista Claudio Lottenberg não se preocupou em mencionar (claro, não era de sua conveniência) que a esmagadora maioria dos judeus que foram barbaramente trucidados pela monstruosa máquina de matar do nazismo não eram sionistas.

Não interessa ao sionista Claudio Lottenberg que o mundo saiba que o pensamento sionista era rechaçado pela ampla maioria das pessoas de origem cultural judaica na época em que o nazismo resolveu partir para a chamada “solução final’ (o extermínio dos judeus da Europa).

Logicamente, o sionista Claudio Lottenberg não tem nenhum interesse de que o mundo saiba que os dirigentes sionistas alemães eram grandes entusiastas das políticas segregacionistas postas em prática pelo governo de Hitler em seus primeiros anos. Eles adoravam as medidas que obrigavam a segregação de “raças” e a proibição de cruzamento entre pessoas de diferentes grupos étnicos. É que os sionistas viam nessas medidas um valioso instrumento para deixar sob seu total controle (na verdade, sob o controle da grande burguesia financeira judaica à qual os sionistas serviam) os enormes contingentes de trabalhadores de origem cultural judaica.

E por que o sionista Claudio Lottenberg não quer que essas coisas se tornem conhecidas? É que, desde seu surgimento, o sionismo depende incondicionalmente da ocultação da verdade para sua sobrevivência. A verdade é o mais forte veneno para a erradicação do sionismo. E disso os sionistas militantes têm plena consciência.

Flavio Wittlin

Sobre Gatos & Ratos

Não conheço a posição de Art Spiegelman no conflito do Oriente Médio.

Mas, se fosse-lhe encomendado adaptar o seu “Maus” àquela região, como ele representaria os povos e as forças presentes ali?

Eu que descendo diretamente dos ratos, pergunto: honestamente, quem seriam os gatos e os ratos?

Ao verem tremulando as bandeiras de Israel e Palestina, qual delas assustaria de fato os ratos e seus filhotes? Qual reafirmaria a glória ingloriosa dos gatos?

Art arriscaria mostrar quem são os gatos do OM que lançam todo tipo de perversidade contra os ratos: ratoeiras, “ratorturas”, raticidas, etc?

Teria a sinceridade de mostrar quem são os ratos que perderam — pela morte, ferimentos ou prisão — seus filhotes, fêmeas e velhos? E viram desmoronar suas famílias? E tiveram arrancados o alimento, a água, o abrigo, sua dignidade, a alegria da vida, teria esta sinceridade?

Nomearia, claramente, os gatos e ratos nesta história de atrocidades sem fim? Nesta história em que os felinos confinam centenas de milhares de murinos em guetos, imundície e doença, privando-os de tudo?

Art mostraria que os gatos são bacanas por que defendem sua espécie? Ou demonstraria que a sua força de defesa tem sido desde 1967, na verdade, uma força de agressão e ocupação da terra dos ratos?

Ele acataria –ou desmontaria– as felinas alegações que sustentam que os terroristas murínicos usam sua colônia civil como escudo? Aceitaria — ou rebateria — que por isso, exterminam-se os ratos civis, varando-os de bombas e balas para supostamente atingir os militantes murínicos do terror?

Art tentaria explicar como parte da atual geração nascida de ratos sobreviventes da opressão felina do passado transmutou-se em gatos? Falaria sobre como estes, com a ética dos kapos, passou a barbarizar uma colônia de ratos que historicamente são seus primos-irmãos? E adotou, em terra alheia, o apreço por escombros, morte e horror, onde as únicas cores que são vistas vêm do cinza, do fogo e do sangue?

Concluo aqui e quem souber me diga que posições Art Spiegelman tem sobre o Oriente Médio.

Urbano

Clareia, e claridade é do que o mundo precisa, a fim de ver melhor a verdade sobre Israel e Palestina, sem que a redoma adredemente reflita as luzes e ofusque a todos nós.

    Urbano

    Azenha, peço-lhe licença para que, se possível, eu possa passar o endereço digital do ‘Somos Todos Palestinos’, a fim de que os leitores do VIOMUNDO possam complementar as informações sobre a verdadeira situação vivida pelos palestinos, sob a covardia em alta dose do Estado de Israel. O caso dessa criança não é um caso fortuito, não. É pura praxe. Sorte daquele que não levar logo um tiro no meio da testa. Qual o provável crime dessas crianças? Uma careta ou uma pedra jogada ao léu.

    http://somostodospalestinos.blogspot.com.br/

    Urbano

    Falei sobre uma criança e me esqueci do endereço do vídeo, que mostra o seu sequestro.
    http://www.youtube.com/watch?v=wTY-1C5CPgE

    Urbano

    Azenha, muitíssimo obrigado.

FrancoAtirador

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Os Árabes também são Semitas.

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Semita#Origens)
(http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas_sem%C3%ADticas)
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