Associação de advogados criminais repele operação/carnificina: “Abatidos como animais”

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Rio de Janeiro (RJ), 29/10/2025 - Protesto contra a operação policial que deixou mais de 119 pessoas mortas no Complexo da Penha, em frente ao Palácio Guanabara, sede do governo do Estado. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Nota da Anacrim — Associação Nacional da Advocacia Criminal

“A Anacrim (Associação Nacional da Advocacia Criminal), legítima representante de milhares de criminalistas associados por todo o país, atenta aos acontecimentos das últimas horas na cidade do Rio de Janeiro, vem manifestar, inicialmente, e com muito pesar, solidariedade às famílias de todos os mortos, vítimas da temerária operação realizada em 28/10/25.

O resultado daquilo que os políticos e os responsáveis pela segurança do nosso estado chamaram de “operação policial”, foi catastrófico, nos mais diferentes aspectos, ceifando violentamente a vida de policiais, moradores, de pessoas inocentes, e sim, de criminosos.

A escalada da criminalidade e da violência no estado são resultado de uma política tão antiquada, quanto equivocada, que não se envergonha de repetir padrões falidos, ineficientes e violentos, que se especializou em vitimar, historicamente, a mesma parcela pobre, preta e periférica da nossa população.

Nem que se fale que, numa associação séria e consciente, o discurso seja apelativo, ideológico ou vitimista, a nossa indignação não é seletiva, nosso luto é idêntico para as famílias de policiais e todos os outros seres humanos “abatidos feito animais”, posto que enviados irresponsavelmente para uma guerra, esta sim, historicamente seletiva, vez que sempre travada às portas da população trabalhadora mais pobre da nossa cidade.

Relativamente à segurança pública do estado do Rio de Janeiro, não existe solução simplista, que possa justificar uma operação como esta, na medida em que, qualquer resultado oriundo da mesma, em absolutamente nada mudaria o cenário geral e territorial da expansão criminosa, que no mais das vezes, conta com o apoio logístico, intelectual e financeiro de lideranças outras, que habitam os espaços mais nobres da cidade.

A Anacrim repudia a conduta dos autores da iniciativa política que autorizou a sanguinária ordem de invasão, que não pensou nos seus próprios policiais, nos cidadãos, nas crianças, na repercussão em toda a cidade, alimentando a ideia irresponsável e, politicamente tosca, de que uma operação/carnificina pudesse alterar, ainda que minimamente, o cenário do tráfico e da (in)segurança pública do Rio de Janeiro.

A Anacrim propõe e sugere uma imediata união de esforços e diálogos entre atores políticos e a sociedade civil, numa iniciativa supra partidária e anti-ideológica, para produção de uma política de segurança pública séria, justa, humana e eficaz, de longo prazo, para um problema que é estrutural e histórico.

Finalmente, sobre os dantescos fatos, reiteramos os pêsames às famílias enlutadas, sem distinção entre classes e cargos, repudiamos veementemente os responsáveis por esta catástrofe social e aguardamos que, como ocorrido em versões outras deste mesmo equívoco político, de invasões e carnificinas, as responsabilidades sejam atribuídas a cada um, não em tribunais de tiroteios, mas de forma civilizada e observando-se o devido processo legal, na medida das suas responsabilidades, incluindo-se quem deu a ordem, quem extrapolou limites, quem desprezou a legalidade e, evidentemente, quem estava agindo na prática criminosa do tráfico de drogas.

Rio de Janeiro, 29 de outubro de 2025.

James Walker Jr, presidente da Anacrim

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