As críticas de Eduardo Campos e Aécio Neves ao rumo da economia

Tempo de leitura: 4 min

03/12/2012 às 14h41

Falta rumo estratégico ao país, diz Eduardo Campos

Por Cristiane Agostine e Cristian Klein | Valor

SÃO PAULO – Atualizada às 15h02

Potencial candidato à Presidência em 2014, o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, criticou o ritmo de crescimento da economia brasileira e disse que “às vezes, falta rumo estratégico” ao país. Campos participa nesta segunda-feira do seminário “Novos ventos na política brasileira”, promovido pelo Valor, na capital paulista.

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, durante o seminário promovido pelo Valor
“Vamos terminar o segundo ano com o crescimento muito aquém do que desejávamos. O que é preciso fazer? É o momento de abrirmos o diálogo nacional, sereno, objetivo, colaborativo para ganharmos o ano de 2013, que dá para ganhar. Todos nós teremos papel importante”, declarou.

Para o governador de Pernambuco, “esta é a hora” de debater os rumos do país na economia. “Temos até o primeiro semestre de 2013 para ganharmos essa disputa. Tem que ter a estratégia da construção dessa travessia. Se errarmos na travessia, vamos ter um ano de 2013 que não estará à altura do que o Brasil espera e merece. Começaremos a tocar no mercado de trabalho e as coisas vão começar a ter um outro contorno”, declarou.

“O nosso papel e dos novos ventos é cuidar da nova pauta e cuidar do Brasil sair organizado desse momento, para colocar o país em outro patamar, não só na vida interna mas no jogo que jogará daqui para frente no cenário internacional.

Para o governador de Pernambuco, o crescimento da economia brasileira não poderá ter como foco apenas o consumo. “Não é que o consumo perdeu importância como motor do crescimento. Vai continuar tendo importância para ganharmos 2013, mas ele, por si só, não é suficiente.

Temos que ganhar esse momento, na perspectiva do rumo estratégico. Esse [rumo] estratégico às vezes parece ao país que está faltando”, declarou nesta segunda-feira. “Precisamos alavancar o investimento, mas não é só isso. Precisamos melhorar a educação, investir em ciência e tecnologia, melhorar a infraestrutura. Tem uma pauta que não está tão clara quanto nos últimos ciclos”, disse.

Apoie o VIOMUNDO

Campos disse que no processo eleitoral de 2010 o país perdeu a oportunidade de debater propostas para o crescimento econômico. “Mas agora é hora de fazer [o debate]”, afirmou. O governador disse que nestas eleições a sociedade optou pela renovação na política, ao escolher nomes como o prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), e afirmou que essas mudanças fazem parte do “ciclo natural da vida e da política. “A população ousou a inovar”, disse.

A uma plateia de empresários, o governador defendeu a adoção nas administrações públicas de práticas comuns ao setor empresarial, como a remuneração variável e a adoção de metas.

Desonerações fiscais

O governador de Pernambuco também criticou as desonerações fiscais realizadas pelo governo federal para combater os impactos da crise economica internacional e defendeu um corte na carga tributária que atinja igualmente todos os setores e regiões do país.

“O [corte] no IPI foi um instrumento utilizado por todo mundo, que deu resultado na crise de 2009. Antes os governos perdiam no imposto, mas ganhavam na arrecadação. Mas agora esta situação não está se repetindo. Há um estresse fiscal sobre Estados e municípios. [A redução] Não pode ser para um setor ou outro. Você pode imaginar um corte de 10% para o setor de serviços, para os pequenos e médios empresários, para a agricultura familiar, que atinja a realidade de todas as regiões do país e não apenas dos setores que têm acesso à Brasília”, disse Campos.

(Cristiane Agostine e Cristian Klein/Valor)

*****

17/12/2012 – 03h30
O pior ano do século

por Aécio Neves, na Folha

Desde que o século 21 começou, a economia brasileira vive o seu pior ano: dados do PIB apontam, no terceiro trimestre, um crescimento de apenas 0,7% em relação ao anterior e indicam que fecharemos 2012 no patamar de 1%.

A inflação em alta superou o centro da meta e as projeções indicam que tende a crescer ainda mais. Os investimentos continuam em queda livre. Os dois primeiros anos do atual governo foram períodos perdidos para a economia, para o país e para a sociedade brasileira –os resultados de 2012 conseguem ser ainda pio- res que os de 2011, quando o PIB registrou medíocre crescimento de 2,7%.

Foi um período de desperdício da capacidade de crescimento do Brasil e de explícita inoperância dos sucessivos “pacotes” anunciados com estardalhaço. Desnuda, ainda, a manipulação das autoridades econômicas de tentar vender à sociedade um ambiente de otimismo, que, agora, se confirma fantasioso. O governo federal começou o ano prometendo crescimento de 4% para o PIB.

O mundo real mostra que o Brasil crescerá bem menos que os emergentes — Rússia (2,9%), China (7,4%) e Índia (5,3%) –, ficando, ainda, abaixo da média da América do Sul (2,7%) e a um terço da média da América Latina e do Caribe (3,1%), só à frente do Paraguai.

O contraditório é que, mesmo assim, a máquina governamental bate novos recordes de arrecadação. Essa exuberância fiscal pouco tem contribuído para reverter a agenda negativa ou mesmo reabilitar os entes federados, à beira da insolvência em face da grave concentração de recursos e de poder em Brasília.

Está claro que não dá mais para responsabilizar as crises externas por tudo o que acontece no país. É uma terceirização que visa absolver os que vêm adotando uma sucessão de medidas equivocadas.

É hora de retomar as reformas iniciadas sob o governo Fernando Henrique Cardoso e paralisadas pelo petismo na última década.

Não se compreende por que o governo não coloca a serviço do país a ampla maioria que possui no Congresso Nacional e os índices de aprovação indicados pelas pesquisas, que poderiam criar as bases políticas necessárias para viabilizar as grandes mudanças que o Brasil precisa.

Já disse antes que popularidade é como colesterol: tem a boa e a ruim. A boa é aquela que é usada como instrumento para a superação de desafios que sufocam o país. A ruim é aquela que inebria, que faz seus detentores, na expectativa de mantê-la indefinidamente, acomodarem-se, evitando qualquer tipo de contencioso, e que acaba custando caro aos brasileiros.

Uma transforma, a outra paralisa. Uma serve à pátria. A outra, ao poder.

Leia também:

Marco Maia: Respeitar o Legislativo é defender a democracia

Marco Maia: Câmara pode não cumprir decisão do STF

Lúcio Flávio Pinto: Ocupação da Amazônia ainda segue diretriz da ditadura

Lucro privado, prejuízo público: Um exemplo do capitalismo à brasileira

Cláudio Puty: Celpa, um caso clássico de Privataria Tucana

Exportação em Carajás é crime lesa Pátria

Ildo Sauer: O ato mais entreguista da história

Celio Bermann: Belo Monte serve a Sarney e às mineradoras

Wanderlei Pignati: O que tem na água que você bebe

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *


Leia também