Ângela Carrato: Terrorismo econômico do “andar de cima”, inclusive da mídia corporativa

Tempo de leitura: 5 min

 

Terrorismo econômico

Por Ângela Carrato*

Engana-se quem acredita que o fascismo à brasileira, que atende pelo nome de bolsonarismo, se deu por vencido com o fracasso do golpe em 8 de janeiro.

A tentativa de derrotar o governo Lula segue firme e se volta agora para o terrorismo econômico. Neste kit estão incluídas ações como as do Banco Central “independente” que, mesmo a inflação estando em 5,75% ao ano, fixou, sem qualquer explicação plausível, a taxa de juros em 13,75% ao ano, a maior do mundo.

Como observa o insuspeito economista Luiz Carlos Bresser Pereira, o máximo que esta taxa de juros poderia estar é em 8%. Acima disso, garante, o Banco Central age contra a economia brasileira.

Com os juros na estratosfera, nenhum empresário vai investir em novo negócio ou expandir o que já possui. Não sendo criadas vagas, num quadro de amplo desemprego e precarização do trabalho como o deixado por Bolsonaro, a economia brasileira caminhará para a recessão.

E não há governo que resista ao baixo crescimento permanente e, pior ainda, à recessão.

Integra também o kit terrorista deixado contra o governo Lula, a privatização da Eletrobrás, ocorrida no governo Bolsonaro, e o desmonte da Petrobras, iniciado no governo Temer.

O golpe contra Dilma Rousseff teve como objetivo principal exatamente entregar o pré-sal brasileiro para os interesses imperialistas e transformar a Petrobras, a maior empresa nacional, em vaca leiteira para meia dúzia de oligarcas locais e estrangeiros.

Juros nas alturas, geração e distribuição de energia elétrica privatizada e em mãos de um grupo empresarial preocupado apenas em rapinar por onde passa, como o 3G Capital, responsável pela derrocada das Lojas Americanas, deveriam ser assuntos na mídia brasileira.

Mas o que esta mídia faz? Ignora os absurdos praticados pelos golpistas e seus parceiros na iniciativa privada e vai para cima de Lula por ele criticar e denunciar esta situação.

Se a mídia corporativa brasileira tivesse um mínimo de compromisso com o país e com a maioria da população, era para estes juros e os crimes cometidos contra a Eletrobrás e a Petrobras serem manchetes.

Mas o que ela faz? Passa pano para bilionários como Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira e assume a defesa do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Para esta mídia, o errado é Lula!

Editoriais de O Globo, Folha de S. Paulo e Estado de São Paulo, de forma orquestrada, apoiam a “independência” do Banco Central. Nenhuma palavra sobre o fato desta “independência” ser na prática balela, uma vez que o atual ocupante do cargo, além de bolsonarista de carteirinha, atuou por quase duas décadas no banco Santander e faz descaradamente o jogo dos rentistas nacionais e internacionais.

Se, no passado, podia-se dizer que a mídia corporativa brasileira se calava diante de assuntos envolvendo o interesse dos seus anunciantes, a situação agora é bem mais complexa. Com razão apelidada de velha mídia, ela passou a ser administrada pelos próprios rentistas como é o caso do Estado de S. Paulo e da Folha de S. Paulo, ou por pessoas que possuem fortunas em especulação, como os irmãos Marinho, do grupo Globo. Obviamente essa gente não quer nem ouvir falar em baixa de juros.

Não por acaso, as sete famílias que controlam a mídia corporativa brasileira integram aquele 1% da população conhecido como “andar de cima”. Para essa turma, inaceitável é Lula ter conseguido trazer de volta e ampliar o Programa Bolsa Família, garantindo R$ 600,00 para cada família carente e mais R$ 150,00 por criança até seis anos de idade.

Tanto que ela fala em “gastança”, quando se trata de políticas sociais e se cala em relação aos bilhões de reais destinados anualmente ao pagamento dos juros da dívida interna.

Não vi, até agora, nenhum editorial condenando explicitamente o calote praticado pela turma do “homem mais rico do Brasil”, que deve trazer prejuízos recordes para os fornecedores das Lojas Americanas e deixar mais de 30 mil pessoas desempregadas.

Em qualquer país, a mídia estaria, com razão, tratando a possível falência das Americanas como “crise com gravíssimas consequências sociais”. Aqui, reina o silêncio.

Dez entre dez comentaristas de emissoras como a GloboNews defendem com unhas e dentes as privatizações, a independência do Banco Central e o que há de mais perverso socialmente falando. Para essa turma, Lula seria o melhor presidente do mundo se mantivesse intocada a política econômica ultraneoliberal da dupla Guedes-Bolsonaro.

Por outro lado, falta ao público de classe média brasileira, que se acha rico por ter R$ 100 mil aplicados na bolsa, um mínimo de informação e de cultura para perceber que ao concordar com os juros altos e as privatizações, está apenas sustentando os interesses do “andar de cima” contra os seus próprios interesses.

Até o momento a mídia corporativa fez de tudo para passar pano no rombo da turma do Lemann nas Americanas, mas não vai ser fácil esconder o mesmo tipo de ação, praticada pelo mesmo grupo, na Eletrobras e na AmBev.

Indícios de que há bombas-relógio prestes a explodir nos dois casos são grandes.

A Light, empresa privada de energia que atende a região metropolitana do Rio de Janeiro, alega situação financeira delicada para manter a concessão até 2026. Leia-se: fazer os investimentos necessários para manter a empresa em funcionamento.

Os novos donos da Eletrobras estarão dispostos a fazer os investimentos necessários para que o país volte a crescer a taxas de 3 a 4% ao ano, como quer o governo e a maioria da população necessita? Talvez esteja aí o caminho para o governo Lula recuperar a Eletrobras para o povo brasileiro.

Assunto de tamanha relevância igualmente deveria merecer reportagens aprofundadas e análises por parte da mídia, mostrando o que está em jogo e como agem esses grupos privados. Mas, novamente reina o silêncio.

Outro silêncio eloquente na mídia brasileira envolveu até o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que, na última terça-feira, proferiu o tradicional discurso sobre o Estado da União. Na oportunidade, ele anunciou que dará início imediato a um vasto conjunto de obras de infraestrutura destinadas a dinamizar a economia.

Sob o aplauso de democratas e republicanos, enfatizou que as obras serão realizadas exclusivamente por empresas estadunidenses e com material fornecido por fabricantes nacionais.

Se muitos aspectos da política externa de Biden podem e devem ser duramente criticados, suas propostas voltadas para as questões domésticas merecem elogios. Ele está certíssimo ao priorizar a economia de seu país, que voltou acrescer exatamente em função da ênfase no mercado interno e de taxas de juros que não ultrapassam 4,75% ao ano.

Mesmo Lula tendo se reunido com ele, na Casa Branca, na última sexta-feira, a mídia corporativa brasileira sonegou do público esta importante informação. Não seria conveniente que a população brasileira soubesse que na “pátria do neoliberalismo” a prioridade é para o mercado interno? É para a produção e não para a especulação financeira?

Claro que não seria nada fácil para Sardenbergs e Mervals explicar o fato sem deixar patente como é tosco e antinacional o “andar de cima” brasileiro. E como são subservientes eles próprios, os seus capachos, que, mais uma vez, destacam acriticamente os lucros exorbitantes dos três maiores bancos privados nacionais em 2022, insistem na defesa da “independência” do Banco Central e nas vantagens das privatizações.

As batalhas de Lula contra o terrorismo do mercado e da mídia corporativa estão apenas começando.

P.S. Defensor de privatizar tudo, o minúsculo Zema deve ter sentido que seus planos de vender empresas como Cemig e Copasa subiram no telhado. O anúncio de que a Light está com problemas para manter a concessão deve ter servido como ducha de água fria para ele.

Resta saber o que fará à frente do governo de Minas, pois a dívida do Estado não para de crescer, ele não tem projeto de desenvolvimento e parte do funcionalismo se mostra inquieto com os baixos salários e o não pagamento do piso salarial para os professores. Para agravar a situação, Zema nem pode mais jogar a culpa no governo anterior.

*Ângela Carrato é jornalista e professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG.

Leia também:

Jair de Souza: Banco Central independente é crime contra o povo

Jeferson Miola: Banco Central autônomo é dogma do pensamento único neoliberal para alimentar voracidade do mercado


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Comentários

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Zé Maria

https://twitter.com/i/status/1623480358695014400

Emenda Constitucional Nº 106/2020:
A Maior Trapaça Financeira de Guedes/Bolsonaro
em Conluio com o Presidente do Banco Central

“De acordo com a EC 106, o Banco Central poderá comprar,
sem limite, qualquer tipo ativo, inclusive papéis podres
acumulados na carteira de bancos e fundos há 15 anos.”
“Mais de R$ 1 TRILHÃO c/ JUROS e CORREÇÕES!”

https://twitter.com/ZellFlorizel/status/1623480358695014400

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc106.htm

https://auditoriacidada.org.br/conteudo/senado-foi-enganado-ec-106-autoriza-bc-comprar-qualquer-ativo-sem-limite/

https://t.co/4HknqqY9w5
https://auditoriacidada.org.br/conteudo/jornal-integracao-ec-106/

https://twitter.com/AuditoriaCidada/status/1267481579502346247

ADI 6417 foi Extinta pelo Relator no STF Sem Resolução do Mérito
https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=443088&ori=1
https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5908151

https://auditoriacidada.org.br/conteudo/acao-direta-de-inconstitucionalidade-contra-a-ec-106-2020/

Zé Maria

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“Um prefeito não pode ser dono de uma empresa com contrato com a prefeitura.
É imoral! É ilegal! É corrupção!
Um juiz não pode julgar um caso em que ele é também parte interessada.
Fere o princípio de imparcialidade do juiz!
É imoral! É ilegal! É corrupção!
E o Banco Central do Brasil pode ser administrado por banqueiros privados?!?”

https://twitter.com/xandevermelho/status/1625711356832890881
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Zé Maria

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O Presidente do Banco Central é da mesma Estirpe
do Presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM)
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https://pbs.twimg.com/media/Fo9tGOxXwAExObT?format=jpg

“CFM sela matrimônio com o nazifascismo no Brasil.
Parceiro da desinformação que mata?
Quer reduzir a pena de seu Autocrata favorito?
O Ministério Público Federal precisará de auxílio técnico
da OPAS e da OMS nos inúmeros processos contra
o ex-presidente [Genocida].”

Vanessa Vigna Goulart
Médica Ginecologista e Obstetra
Mestra em Ciências (USP)
https://twitter.com/GoulartVigna/status/1625637948430381062
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Zé Maria

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Os Agentes Financeiros e os Papagaios do Mercado na Mídia Venal
querem fazer com Lula o que fizeram com Dilma de 2013 a 2016.

NÃO PASSARÃO!

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    Zé Maria

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    “Hoje fui nomeado presidente da EBC.
    Há 42 anos, no dia de hoje [14], era presidente
    do sindicato dos jornalistas do DF e estava
    preso na Polícia Federal sob a acusação
    de colar cartazes pedindo a revogação
    da lei de segurança nacional.
    Ditadura nunca mais!”

    Jornalista HÉLIO DOYLE
    Escritor
    Professor Aposentado da UnB
    Consultor de Comunicação e Política
    Documentarista Bissexto e
    Membro da ABI, Camp e Abradep.

    https://twitter.com/HeliomDoyle/status/1625510125040435205
    .
    .
    Esperamos um Contraponto à Mídia Venal.

    .

    Zé Maria

    .

    Ao menos, que os Veículos da EBC deem Voz aos Pensadores que se

    distinguem do Pensamento Único da Imprensa-Empresa Neoliberal.

    .

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