Ângela Carrato: Petições públicas por cassação do mandato de Nikolas Ferreira já têm quase 500 mil assinaturas

Tempo de leitura: 4 min
A deputada federal Érika Hilton (PSOL/SP) e o também deputado federal Nikolas Ferreira (PL/SP). Créditos: reprodução de imagem do perfil e de transmissão da TV Câmara

NIKOLAS, AMBICIOSO, OPORTUNISTA E GOLPISTA

Por Ângela Carrato, no NovoJornal 

Existem pelo menos duas petições públicas pedindo a cassação do mandato do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG).

Ambas lideradas por deputadas federais também.

Uma, por Erika Hilton (PSOL/SP).

A outra, por Sâmia Bonfim (PSOL/SP).

Às 21h30 deste domingo, 12/03, tinham, respectivamente, 342.656 e 144.733 assinaturas.

Juntas somavam 487.389 apoios.

Nikolas é o bolsonarista que, na última quarta-feira, 8 de março, quando se comemorava o Dia Internacional de Luta das Mulheres, ocupou a tribuna da Câmara dos Deputados para atacar e achincalhar mulheres trans e travestis, em flagrante discurso de ódio e violência política de gênero.

Não é a primeira vez que o parlamentar ataca as mulheres e destila ódio contra pessoas trans e travestis.

Quando vereador em Belo Horizonte, Nikolas se valeu de ataques à vereadora trans Duda Salaberte (PDT) com o objetivo de ganhar as manchetes e ampliar sua base junto ao eleitorado de extrema-direita. Foram muitas as ameaças de morte que Duda passou a receber.

Bastante jovem, Nikolas ingressou na política do lado errado da história e, pelo visto, sonha em seguir por esta trilha.

Quando, em 2014, a presidenta Dilma Rousseff foi eleita para um segundo mandato, Nicolas era quase um pré-adolescente.

Mesmo assim, aprendeu rápido a lição ministrada pelos golpistas mineiros, Aécio Neves à frente, de que destilar ódio e disseminar mentiras é um recurso que, em tempos de guerra híbrida, costuma dar dividendos.

Tanto que, dois anos depois, já se colocava a favor do golpe contra Dilma e, a partir daí, não parou mais em sua sanha de ódio e de destruição.

Foi assim que ele se elegeu vereador em Belo Horizonte em 2020.

Suas mentiras contra mulheres, LGBTQIA+, setores progressistas e de esquerda propagadas em redes sociais o transformaram no mais votado da história da capital mineira.

É importante lembrar que para essa vitória contou muito o fato dele e de sua família ser evangélica, o pai é pastor, num momento em que várias destas denominações ditas religiosas se deixavam usar por Bolsonaro.

Os quatro anos de desmandos de Bolsonaro na presidência da República foram igualmente fundamentais para que Nikolas encontrasse guarida para seguir na mesma pegada e não parar de subir o tom, ao mesmo tempo em que mudava três vezes de partido: esteve no PSL, no PRTB e foi parar no PL.

No Natal de 2020, por exemplo, ele publicou vídeo em suas redes sociais portando fuzil e sugerindo que aquele deveria ser o presente a ser dado.

A postagem visava reforçar as ações de Bolsonaro para armar a população.

O resultado é conhecido: o Brasil passou a liderar a triste relação de países que mais matam mulheres no mundo.

No ano passado, foram 1,4 mil casos de feminicídio, o maior já registrado desde que a lei entrou em vigor em 2015. Feminicídio, como se sabe, é o nome que se dá ao assassinato de mulheres, pelo simples fato de serem mulheres.

O resultado de toda a pregação machista, anti-LGBTQIA+ e alinhada ao que há de mais atrasado, preconceituoso e odiento foi a vitória para a Câmara dos Deputados, como o deputado federal com maior votação em Minas e no país: 1,47 milhão.

Nikolas, sem dúvida, está se sentindo empoderadíssimo. Talvez por isso não tenha percebido que os tempos mudaram.

Bolsonaro, seu mentor, é nome execrado mundo afora e teme retornar ao Brasil, diante dos mais de 30 processos que o aguardam. O escândalo mais recente, o das joias/propina prega de vez na testa de Bolsonaro o rótulo de corrupto.

O ministro Alexandre de Moraes está de olho em Nikolas, que já teve suas redes sociais suspensas e está proibido de publicar “notícias fraudulentas”, sob pena de multa a ser descontada de seu salário como parlamentar.

Até Romeu Zema, o minúsculo governador de extrema-direita de Minas Gerais, que também sonha em ocupar o vazio político deixado por Bolsonaro, dá mostras de querer distância de Nikolas, temendo graves consequências para o seu futuro.

É nesse contexto que Nikolas, oportunisticamente, tenta navegar.

Destilando ódio, tenta seguir à risca as pegadas de Bolsonaro. É importante lembrar que se Bolsonaro é carta fora do baralho, o bolsonarismo não morreu.

Diferentemente de Nikolas, o ex-capitão, por quase três décadas, soube ficar quieto, aguardando a sua vez, aparecendo o mínimo enquanto enriquecia às custas de rachadinhas e demais expedientes corruptos.

Nicolas, ao contrário, é impaciente. Acredita que sua hora é agora. Daí estar batendo na porta dos extremistas de direita e assimilados tentando dizer “olha eu aqui”.

Seu sonho é se tornar governador de Minas Gerais. Vale lembrar que em 2026 ele terá exatos 30 anos, idade mínima para concorrer ao cargo.

Até o momento, o presidente da Câmara, Arthur Lira, ex-bolsonarista, lhe passou uma reprimenda, uma vez que os integrantes da Comissão de Ética ainda não foram empossados.

No STF, o relator do caso será o ministro André Mendonça.

Indicado por Bolsonaro, possivelmente ele quisesse passar pano no caso, mas a lei é clara: Nikolas cometeu crime.

Associações representativas da comunidade LGBTQIA+ e 14 parlamentares ingressaram na Corte com uma notícia-crime para que o deputado seja investigado por transfobia. Mendonça vai arcar com o desgaste?

As chances de Nicolas ter o mandato cassado são grandes, especialmente se os integrantes da Câmara dos Deputados perceberem que mantê-lo lá equivale a abrir espaço para crimes e molecagens de toda ordem, consumando a suprema desmoralização de uma das casas legislativas.

PS1. Este artigo foi publicado originalmente no NovoJornal, onde Ângela Carrato é colunista. No Viomundo, atualizamos as informações referentes às petições.

PS2. A quase defunta imprensa mineira minimiza e esconde o crime de Nikolas.

O jornal Estado de Minas, por exemplo, dedicou ao assunto diminuta chamada na capa, na edição de 9/3, sob o título de “Discurso de Nikolas enfurece esquerda”.

Fundado por Assis Chateaubriand, o arquiconservador ex-grande jornal dos mineiros também deveria estar incluído entre os que mentem e distorcem os fatos. Afinal, será que só os setores de esquerda se “enfurecem” com a prática de crimes de ódio? O jornal está atestando que é a direita que apoia mentiras e destila ódio.

PS3. As petições das deputadas federais Érika Hilton e Sâmia Bonfim ainda estão abertas para assinaturas.

Para apoiá-las, clique aqui e aqui.

*Ângela Carrato é jornalista e professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG.

Leia também:

Jandira Feghali: Não seremos cúmplices de atos criminosos que fazem com que o Brasil seja um dos países que mais matam LGBTQIA; vídeo

Altamiro Borges: O ”moleque” Nikolas Ferreira pode ser cassado, merece até cadeia


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Comentários

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Zé Maria

A Dondokinha Mineira Fascista Bolsonarista

tem Aversão a Mulheres e Ódio de Trans.

O Psicalista Alemão Wilhelm Reich explica:

https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/57165

Olavo Melo

Talvez ela não tenha mãe.

Olavo Melo

Alguém caça esse deputado.

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