Ângela Carrato: Horas decisivas para o futuro do Brasil e seu povo

Tempo de leitura: 7 min
Em 21 de outubro, Juiz de Fora (MG) abraça Lula. Foto: Ricardo Stuckert

Por Ângela Carrato*, especial para o Viomundo

A eleição presidencial entrou nas suas últimas 36 horas. Mesmo sendo franco favorito e liderando todas as pesquisas de intenção de votos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabe que ainda há riscos, especialmente quando se tem um adversário que joga baixo e se vale de todas as artimanhas para continuar no poder, como o atual presidente, Jair Bolsonaro.

Na campanha de Lula, o clima é de muito entusiasmo, mas sem “salto alto”. Todos sabem que eleição só se ganha depois das urnas apuradas.

Já entre os bolsonaristas, ainda existe quem acredita que “dá pra virar” e até quem aposte num “terceiro turno”, como denominam as tentativas de questionar a possível vitória do adversário.

Não resta dúvida de que esta eleição é fundamental para o futuro do Brasil e também para o do próprio planeta, como atestam as atenções de que tem sido alvo na mídia internacional.

Até porque não se trata de uma eleição entre dois candidatos que defendem a democracia, mas de um que sonha em transformar-se em ditador e outro que quer devolver a democracia, retomar o desenvolvimento e a soberania do país.

Armações

Inconformados com a derrota que se delineia, desde o último domingo que a campanha bolsonaristas tenta, sem sucesso, criar um “fato novo” capaz de alterar o placar eleitoral.

A deplorável declaração do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), contra a ministra do STF, Carmem Lúcia, que lhe rendeu ordem de prisão, pode ser vista como mais uma tentativa dos apoiadores do presidente de tumultuarem a eleição.

A prisão de Jefferson, depois de receber a Polícia Federal a tiros, foi um banho de água fria nesta turma, mesmo que alguns ainda não tenham desistido de fazer ameaças e de criar confusão.

Prova disso é que uma das unidades da Universidade Mackenzie, em São Paulo, suspendeu as aulas hoje (28/10) devido a ameaças de uma pessoa que dizia portar um fuzil e ser defensor de Jefferson.

É importante lembrar que Jefferson, pelo menos desde 2005, vem tumultuando a política brasileira, com denúncias sem provas e armações. Partiu dele a denúncia de que o PT pagava uma mesada para parlamentares aprovarem projetos do interesse do governo.

A mídia corporativa brasileira imediatamente comprou essa narrativa, batizando-a de “Mensalão”, e é ela que está na origem da criminalização do PT, depois ampliada pela Operação Lava Jato que, igualmente sem provas, levou Lula à prisão política por 580 dias.

Curto-circuito

Mais recentemente, Jefferson se tornou o patrocinador do tal “padre Kelmon”, um aventureiro que nem padre é, mas serviu para colocar em cena, nos debates no primeiro turno, as “pautas morais” e as fake news que interessavam a Bolsonaro.

Por não ter quaisquer realizações para apresentar, Bolsonaro tentou, com esse tipo de assunto, escapar do debate sobre o que realmente interessa para a população brasileira: educação, saúde, salário, custo de vida, emprego, habitação e aposentadoria.

Outra tentativa de criar “fato novo” foi a denúncia de que rádios no Norte e no Nordeste estariam boicotando a propaganda de Bolsonaro. Quem fez a denúncia foi ninguém menos do que o ministro das Comunicações, Fábio Faria.

Além de a denúncia não ter pé nem cabeça, Faria, que é genro do dono do SBT, o bolsonarista Sílvio Santos, caiu no ridículo ao expor em público que não sabia que as determinações envolvendo propaganda eleitoral em emissoras de rádio são de competência de sua Pasta e não do TSE.

A atitude do ministro deixou a nu, no entanto, o criminoso engajamento de integrantes do primeiro escalão na campanha eleitoral. Em tempos normais, ações assim partindo de agentes públicos poderiam levar até à cassação da chapa situacionista.

De todas essas tentativas frustradas para reverter votos, a pior, para Bolsonaro, foi a informação que recebeu na última quarta-feira, quando estava em Minas Gerais e pretendia dali anunciar a virada.

Seguro de que suas cinco viagens ao estado no segundo turno, somadas à presença de vários de seus ministros, do seu atual candidato a vice, general Braga Neto, e do apoio do governador Romeu Zema seriam mais do que suficientes para “acabar com os votos que Lula recebeu”, ele ficou desorientado.

Trackings de sua própria campanha, depois confirmados pelas pesquisas Quaest e DataFolha, mostraram que apesar da derrama de dinheiro (Orçamento Secreto) e da presença maciça de fake news em Minas Gerais, Lula continua liderando com cinco pontos de vantagem, repetindo o quadro nacional.

Essa informação provocou um curto-circuito tal, que Bolsonaro decidiu viajar imediatamente para Brasília, cancelando as atividades de campanha que teria no Rio de Janeiro.

Outra aposta de Bolsonaro para tentar reverter o quadro no segundo turno é em São Paulo.

Sua campanha vem jogando pesado a favor do candidato Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro da Infraestrutura e militar da reserva, para tentar vencer o candidato petista Fernando Haddad, ex-ministro da Educação e ex-prefeito da capital paulista.

Haddad, que liderou as intenções de voto no primeiro turno e começou atrás de Tarcísio no segundo turno, está praticamente empatado com o adversário.

Outra péssima notícia para Bolsonaro, pois são grandes as chances de Haddad vencer.

Daí não estarem descartadas novas armações do ex-capitão e de sua turma nestas horas finais, uma vez que ele teme ser alvo de muitos processos e até ser preso quando não puder contar com a imunidade atual.

Debate e mais armações

Bolsonaro tem dito para o grupo que o cerca, que no debate desta noite na TV Globo, vai partir para o tudo ou nada e que pretende nocautear Lula.

Que ele vai tentar fazer carga máxima contra o ex-presidente, não resta dúvida, apostando que, com o fim do horário eleitoral, que termina às 24 horas desta sexta-feira, a campanha de Lula não teria como desmentir ou respondê-lo.

Esse tipo de expediente, utilizado por adversários de Lula em campanhas anteriores, dificilmente dará certo. É que a campanha de Lula está mobilizada para desmentir, nas ruas e nas redes, qualquer mentira ou acusação que for feita por Bolsonaro.

A expectativa é de que a TV Globo, promotora deste último debate, também tome providências para impedir que eventuais fake news divulgadas por Bolsonaro prosperem.

Para tanto, bastaria à emissora acionar os dispositivos de checagem de fatos em tempo real ou logo após o término do debate, atitude que a TV Bandeirantes, por exemplo, não adotou no debate de duas semanas atrás.

É sabido que emissários de Bolsonaro têm pressionado os irmãos Marinho para que essa checagem não aconteça. Eles acenam com a renovação imediata da concessão da emissora, que venceu no dia 5, tão logo Bolsonaro seja reeleito, ao passo que se for derrotado, poderá consumar a cassação.

Mesmo derrotado, Bolsonaro ainda terá dois meses de governo e neles pode criar muitos problemas para os herdeiros de Roberto Marinho, levando-se em conta que possui maioria no Congresso Nacional, a quem cabe dar a última palavra sobre o assunto.

Possivelmente, os herdeiros de Roberto Marinho nunca poderiam imaginar que o apoio ao golpe de 2016 lhes custaria tão caro.

É importante lembrar que o Grupo Globo, em especial a TV Globo, veículo de maior audiência do conglomerado, teve papel decisivo na derrubada da então presidenta Dilma Rousseff e em todos os episódios que envolveram a disseminação do ódio contra Lula e o PT nas últimas décadas.

A família Marinho foi também decisiva para a vitória de Bolsonaro em 2018, acreditando que poderia colocar “coleira” no ex-capitão e que com ele finalmente conseguiria tirar Lula da vida pública.

A edição do Jornal Nacional, de 7 de abril de 2018, dia em que Lula foi preso, deixa isso patente.

Quem se lembra que o telejornal terminou com a emblemática imagem do avião que conduzia Lula para Curitiba desaparecendo aos poucos na noite escura?

Metáfora mais evidente impossível, para uma liderança que os Marinho e a classe dominante brasileira acreditavam estar se apagando para sempre.

Os herdeiros de Roberto Marinho agora parecem se dar conta dos riscos que correm com um ex-capitão violento, antipovo e anti-Brasil no poder e que tem ao seu lado o empresário-bispo Edir Macedo, dono da TV Record, que sonha em ocupar o lugar da Globo no cenário televisivo nacional.

Nas duas últimas semanas, possivelmente preocupada a Globo parece ter liberado seus artistas e jornalistas para apoiarem a campanha de Lula, mas a família Marinho permanece em cima do muro.

Tanto que, diferentemente do conservador jornal O Estado de S. Paulo, não se pronunciou sobre apoio no segundo turno.

Aliás, com outras raríssimas exceções, como a revista Carta Capital, a mídia corporativa brasileira se mantém em cima do muro e longe de qualquer ação que possa contribuir para mostrar para a população o risco que uma reeleição de Bolsonaro pode representar.

Não está descartada também, nestas horas finais de campanha, a atuação de inúmeras igrejas neopentecostais a serviço de Bolsonaro.

Foi assim no primeiro turno nos cultos das Assembleias de Deus e da Igreja Universal do Reino de Deus.

Some-se a isso que todos devem ficar atentos para o derrame de fake news envolvendo a pauta de costumes e a “guerra religiosa” que Bolsonaro não tem medido esforços para fomentar.

Como uma espécie de antidoto a tudo isso, Lula divulgou, nesta quinta-feira, a Carta aos Brasileiros, bem diferente daquela de 2002, quando o objetivo era acalmar o mercado.

Nela, reafirma o que tem dito em sua campanha, anunciando seu compromisso com a maioria da população brasileira, especialmente aqueles empobrecidos pelos governos golpistas.

Tanto que as primeiras medidas do seu governo serão para resgatar da fome 33 milhões de pessoas e resgatar da pobreza mais de 100 milhões de brasileiros.

Lula também afirmou que, em termos de desenvolvimento econômico, pretende em seu governo, que empresários e trabalhadores elaborem juntos uma legislação que assegure direitos trabalhistas e previdenciários, além de salários dignos, competitividade e investimentos.

Lula deixou claro, igualmente, que defende um salário mínimo forte e um novo Programa Bolsa Família de R$ 600 como valor permanente e mais R$ 150 por cada criança de até seis anos de idade, além de renegociar a dívida das famílias, com desconto e juros baixos.

Essas propostas são exatamente o que os empresários brasileiros, que doaram R$ 85 milhões para a campanha de Bolsonaro – 42 vezes mais do que as doações para a campanha de Lula -, não gostariam de ouvir.

Razão pela qual é possível supor que nesta reta final de campanha tudo farão, junto com o próprio Bolsonaro, para tentarem derrotar o petista.

Não por acaso, a militância petista e todos os 15 partidos políticos que integram a Frente Ampla que apoia a candidatura de Lula estão nas ruas nesta sexta-feira e nela permanecerão até as apurações do próximo domingo.

Um dos aprendizados de uma campanha tão dura é que o voto se constitui num ponto de partida na derrota de Bolsonaro e do bolsonarismo.

A defesa do governo eleito contra quaisquer tentativas de “terceiro turno” precisará ser permanente, feita nas ruas e nas redes.

Ângela Carrato é jornalista e professora do Departamento de Comunicação da UFMG.

Leia também:

Jeferson Miola: A batalha central da guerra fascista contra a democracia

Dr. Rosinha: Derrotar o fascista é questão de vida para nós e as futuras gerações


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

“O Terrorismo das Pesquisas Favoráveis a Bolsonaro parece ter sido Combinado”

“Que sentido faz soltar na véspera da eleição uma pesquisa
com 59% das entrevistas tendo sido feita há 4 dias antes?”

“A tática é exatamente essa.
Gritar vitória para animar a tropa
e também para ter discurso
em caso de derrota amanhã.”

Nenhuma dessas enquetes pró-Bolsonaro
ouviu eleitores neste sábado (29)
e soltaram seus resultados ainda pela manhã.

Lula foi muito melhor do que Bolsonaro no debate
de ontem (28, sexta).

Tracking contratado pelo PT aponta crescimento de LULA sobre Bolsonaro
A Diferença pró-Lula de ontem para hoje passou a ser de 8,9% (53,5% a 44,6%)

Datafolha, Ipec, Quaest e Atlas, com dados atualizados, ainda serão publicadas.

Por Renato Rovai, na Revista Fórum

https://revistaforum.com.br/blogs/2022/10/29/terrorismo-das-pesquisas-favoraveis-bolsonaro-foi-combinado-125685.html

Mario borges

Complementando o comentário anterior:

Digo servidor bolsonarista dentro do TSE.

Mario borges

Complementando o comentário anterior:

Considerando que tinha um servidor bolsonarista atuando no caso da tramoia das rádios, será que é só ele capitão de m…..? CARA DE PAU!!!!!!

Mario borges

https://www.cnnbrasil.com.br/politica/parana-pesquisas-lula-tem-504-dos-votos-validos-bolsonaro-496/

O Paraná pesquisas foi o único instituto do país que se aproximou do resultado entre Dilma e Aécio no segundo turno das eleições de 2014 no que concerne ao estado do Paraná não é mesmo capitão?

Mario borges

URGENTISSIMO

Alguém por gentileza avise ao Boulos que tem uma mensagem urgentíssima no email da equipe dele.

Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/FeGs4wjWQAUJeFV?format=jpg

Atlas: LULA GANHOU TODOS OS 4 BLOCOS DO DEBATE

Na visão de 57,1% do eleitorado consultado,
o terceiro bloco foi o melhor bloco de Lula

1º: Bloco: https://pbs.twimg.com/media/FgNJ65aXEAcPgpT?format=jpg
2º: Bloco: https://pbs.twimg.com/media/FgNJ65dX0AQ7I_W?format=jpg
3º: Bloco: https://pbs.twimg.com/media/FgNJ65dWYAAHqGG?format=jpg
4º Bloco: https://pbs.twimg.com/media/FgNJ65gWYAALxi5?format=jpg

https://twitter.com/choquei/status/1586192775590051842

Zé Maria

O Bolsolão passou a Campanha Eleitoral Inteira, senão desde antes,
chamando de ladrão o Melhor Presidente da História do Brasil.
Agora há pouco, pela primeira vez, chamou-o de “o Candidato “LULA”.
Tá ‘Educadinho’ o Bolsolão … Até o começo do Debate, claro.

Zé Maria

.

“Não Permitiremos Descaso Com a Saúde”

LULA

https://youtu.be/ho2lWh_JQ1c

.

Deixe seu comentário

Leia também