André Siqueira: Nem com reza brava

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Nem com reza brava

André Siqueira 18 de outubro de 2010 às 15:38h, na CartaCapital

Sem rasgar a cartilha de gestão pública do PSDB, é impossível cumprir as promessas de Serra para a área social

Em uma campanha presidencial marcada pela apuração de escândalos de compreensão um tanto complexa para o eleitor, é de causar espanto a falta de olhar crítico da mídia para as promessas do candidato José Serra, impraticáveis diante dos paradigmas de gestão tucanos. O presidenciável promete elevar para 600 reais o salário mínimo, hoje em 518 reais, reajustar em 10% as aposentadorias e pensões pagas pelo INSS e criar um 13º pagamento para o Bolsa Família. O rosário é mais comprido, mas não é preciso acompanhar o devaneio para revelá-lo como tal.

Consta no Orçamento de 2011 a proposta de elevar o salário mínimo para 538,14 reais. Serra propõe desembolsar 61,86 reais a mais por assalariado, para atingir os 600 reais. Apenas essa promessa de campanha custaria, portanto, 12,3 bilhões de reais. O montante é próximo ao orçamento total do programa Bolsa Família, atualmente em 13,7 bilhões de reais. Aliás, criar uma parcela a mais para o programa acrescentaria 1,14 bilhão de reais ao cálculo – em valores correntes. Finalmente, há o reajuste dos benefícios da Seguridade Social. Nesse caso, apelo ao cálculo do economista do Ipea Marcelo Caetano, que avaliou em 6,2 bilhões de reais o esforço adicional exigido pelo presente oferecido pelo tucano aos aposentados e pensionistas.

Acompanharam? No total, as promessas de campanha de Serra – uma vez eleito, e uma vez cumpridas – custariam a bagatela de 19,6 bilhões de reais aos cofres públicos. Há outros meios, talvez até mais precisos, de se realizar esse cálculo, mas dificilmente a cifra final será menos portentosa.

Para dar prosseguimento ao exercício, é forçoso imaginar que, apesar da mão aberta de Serra, a agenda neoliberal dos anos FHC não será rasgada, e um esforço fiscal terá de ser feito para pagar a conta da eleição. Contemos, a partir de agora, com a ajuda do especialista em contas públicas Amir Khair, ex-secretário de Finanças de São Paulo. Cumpre destacar que essa simulação foi feita por ele, em uma entrevista recente a CartaCapital, apenas para mostrar as limitações das estratégias de ajuste fiscal, seja qual for o candidato eleito. Mas o resultado se presta bem ao nosso exercício.

O gasto federal corresponde a uma parcela de 43% dos desembolsos totais do setor público. O restante fica a cargo das prefeituras e estados, acostumados a viver no limite da Lei da Responsabilidade Fiscal. Ou seja, é com essa base que o presidente da República pode trabalhar. De acordo com Khair, cerca de 80% do orçamento federal está legalmente engessado. Tratam-se de salários e outras obrigações constitucionais, que, como tais, só podem ser mudadas após exaustivas negociações no Congresso.

Da pouca margem de manobra que resta ao Executivo, o economista se dispõe a imaginar que um “choque de gestão” permita um corte de 30%. O extraordinário sacrifício equivaleria a 2,58% do gasto público nacional – o equivalente a 0,4% do PIB. Em cifras, 9,9 bilhões de reais. Conclusão: o máximo de “competência” na gestão pública não levaria Serra a cobrir sequer a metade de suas promessas de campanha.

Ele continua a criticar o endividamento público. Ao mesmo tempo em que promete elevar gastos sociais, ampliar investimentos e cortar impostos. Como, José?
André Siqueira

André Siqueira é subeditor de Economia de CartaCapital. [email protected]


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Comentários

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gilamrdeconti

quanto aos comentário de ruypenalva, que 40 propostas estão no PAC, vale lembra-los que o pais esta como esta graças ao PLANO REAL, iniciado no governo do PSDB, e a partir dai o seu candidato não fez nenhuma mudança de impacto

Maria Alvim

O Serra quando diz alguma coisa,os olhos , os gestos, a postura dizem outra. Vendo-o pela TV não como enganar.

Arlindo

O Serra diz que é do bem, imaginem se fosse do mal.

JUNIOR

Todo mundo que vota no Serra,sabe que estas promessas são fachada.Conversando com seus eleitores,a maioria,ou grande maioria contra o bolsa familia,todos dizem que assim que eleger-se ele vai acabar com o beneficio…mas questionados sobre a spalavras do candidato,eles dizem…"ele fala estas coisas mas,no fundo,a gente sabe que ele nao vai continuar….".Entenderam?O Serra mente,seus leitores entendem a mensagem e aceitam a mentira para elege-lo.´Caso eleito,será o Presidente da mentira.

terezinha

se eleito fosse,ele não cumpriria as promessas e, já que tem problemas de amnésia, diria que não lembra que prometeu.Se fosse confrontado com vídeos de suas promessas diria que isso seria cumprido ao longo dos 4 anos.E se algum reportér insistir muito nas perguntas,perde o emprego.Mas serra está tranquilo: se eleito terá toda a grande mídia ao seu lado,as cobranças serão mínimas e o não cumprimento das promessas serão defendidas pelo PIG.

Marcos C. Campos

A única alternativa pro Serra cumprir o prometido é dando um corte brutal no pagamento de juros da divida publica. Sabe-se que o pagamento de juros da divida atingiu 184 bilhões nos ultimos 12 meses.
http://economia.estadao.com.br/noticias/economia+

LAGUERRE

O serra usa a ignorancia como método de análise. A dele e a do eleitor tucano. Gostaria de saber onde ele tirou o diploma. Até agora não apareceu esse tal diploma. Deve ser de curso vago.

Simão Bacamarte

Pergunta de leigo: seria possível cumprir as promessas, considerando recursos do pré-sal? Se sim, porque o Serra sequer menciona esta como fonte de recursos…seria porque o governo Serra não veria nem o cheiro de recursos do pré-sal, deixando tudo para nossas amigas multinacionais?

easonnascimento

Se estas promessas fossem oriundas da campanha petista, as análises e cobranças seriam evidentes. Programas na Globo News por exemplo seriam feitos exclusivamente para rebate-las. Mas foi e é promessa tucana. Então deixa assim. Faz de conta que a gente acredita. Esta nossa mídia precisa de correção de rumos.
http://easonfn.wordpress.com

Urbano

A palavra de zé contra-rampa, o mitômano, não vale absolutamente nada. Nem a dele nem as dos seus pares. Alimamar, nunca mais.

Mônica

Ele vai cumprir essa promessa do mesmo jeito que cumpriu o compromisso firmado de ficar na prefeitura de SP até o final do mandato.

duarte

Acabou de dar na folha, serra elevaria pra mais de 46 bi as despesas do governo com suas promessas. Ações típicas de quem tá chutando….

    Carlos

    E "economista competente", "doutor" na coisa, pode "chutar"?

Marcos

Se ele fosse eleito (porque não sera!!!!) iria dizer que o rombo é maior do que imaginava e por isso não podera cumprir a promessa !!!!

Cleverton Silva

Desculpem, a auto-crítica do DEMos é essa: http://www.youtube.com/watch?v=tx98PgF2e1o&fe

Cleverton Silva

Os DEMos fazem auto-crítica. Prestem atenção na mala do Cururu: http://www.youtube.com/watch?v=l2vc8NMYJYo&fe

Baixada Carioca

É… Mas quem não entende de economia, números e gestão pública não vê isso não. Ele tá jogando para o principal eleitor da Dilma que é a classe mais pobre e menos culta. Tem gente aqui em Japeri/RJ que acredita e fica chateado com aquele que diz que não dá pra fazer.

Mas os mais escolarizados que estão com o tucano ou acreditam ou sabem que isso é só pra tentar levar a eleição na base do trololó, da mentira, do terrorismo.

Ricardo Aguiar

Isso demonstra que o Serra não sabe o que está fazendo. Como em sua campanha. Hora, é contra tudo o que o governo está fazendo, em outra, dará continuidade. Afinal, o governo petista é bom ou ruim? Se dará continuidade é porque é bom.
Vale tudo pela eleição.
Essa já tem dono. É Dilma 13, com a graça de Deus!

ruypenalva

Eu já tinha apontado isso, inclusive no seu Blog, é absolutamente inviável, levaria o país a uma inflação enorme, por demanda, a um déficit público imenso, tudo isso num época que precisamos baixar juros, diminuir despesas públicas, depreciar o real. Agora, é interessante notar que das 47 promessas de Serra 40 já estão contempladas no PAC, ele está gozando com o pai dos outros.

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