Trump depende dos homens brancos para se reeleger, mas Biden promete salário mínimo de R$ 15 mil a eles

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Alan Santos/PR, via /Wikimedia Commons

Biden lidera em Michigan, na Pensilvânia e em Wisconsin, mas por pequena margem

Da Redação

“É a economia, estúpido”, disse o assessor de Bill Clinton, James Carville, antes da improvável vitória de seu candidato contra um presidente que poucos meses antes havia ganhado uma guerra — George Bush pai, presidente de um mandato só, expulsou tropas iraquianas do Kuwait.

Esta é a principal diferença entre 2016, quando Trump surpreendeu Hillary Clinton, e 2020.

Agora, há milhões de desempregados e o número de novos casos de covid nos Estados Unidos deve bater novo recorde — há 41 mil pessoas internadas e foram mais de 75 mil novos casos ontem.

A máquina de fake news de Trump diz que só há mais casos porque a testagem aumentou. O problema é que as internações cresceram 40% nos últimos 30 dias.

É possível, inclusive, que a nova curva da doença supere o pico anterior, voltando ao patamar de mil mortes por dia.

Por isso, Carville hoje está entre aqueles que acreditam num vendaval democrata: vitória folgada não só no Colégio Eleitoral, como controle da Câmara e do Senado.

Imediatamente, os democratas tratariam de instalar uma comissão para fazer mudanças no Judiciário — foi assim que Franklin Delano Roosevelt driblou a maioria conservadora da Suprema Corte, quando implantou o New Deal que desagradava industriais e a elite conservadora dos Estados Unidos.

Trump, porém, não pode ser completamente descartado. O voto nos EUA não é obrigatório.

Para vencer, ele precisa convencer uma fatia razoavelmente grande de homens brancos a sair de casa e votar no dia 3 de novembro, eleitores que acreditam no discurso trumpista de que os comunistas vão tomar o poder.

As questões do bolso em geral decidem as eleições americanas — Trump diz que o mundo voltará a ser rosa assim como — ao menos na versão dele — era, antes da pandemia.

Por larga maioria, as mulheres não acreditam mais nas promessas do presidente. Nem os mais velhos, que estão entre as grandes vítimas do coronavírus.

Resta a Trump acusar Joe Biden de querer trancar de novo os Estados Unidos por causa do vírus, o que pode mover um bloco relativamente grande de eleitores que não suportam mais as medidas de isolamento em estados-chave, como a Pensilvânia, Michigan e Wisconsin.

Trump, idealmente, teria de vencer em dois destes três estados para ter alguma chance de reeleição.

Por isso a ênfase dos democratas na Pensilvânia, onde até o ex-presidente Barack Obama foi usado como reforço para a campanha de Biden.

Mas, por que os homens brancos afinal apoiam Trump?

Ele fala não apenas ao machismo e aos portadores de armas, mas também aos moradores da zona rural e de pequenas cidades que desprezam completamente não só o poder do governo federal — deep state, na linguagem de Trump, que se mete na vida cotidiana dos americanos e lhes retira a liberdade — como a elite das duas costas dos Estados Unidos (Nova York e California, ambos estados liberais governados historicamente por democratas).

Para milhões de americanos do Meio Oeste e do Cinturão da Bíblia, Nova York e Los Angeles são a casa do diabo.

Mesmo tendo tomado decisões econômicas que beneficiaram majoritariamente os mais ricos, Trump retém o poder de atrair esta grande fatia do eleitorado, que vê em Biden um político tradicional que passou a vida “mamando nas tetas do Estado”.

A essa altura, 50 milhões de eleitores norte-americanos votaram antecipadamente — e foram os democratas que fizeram campanha para que isso acontecesse. 

É um recorde que os republicanos terão de superar com uma mobilização em massa no dia da eleição, tirando de casa os eleitores que não se dão conta de que na Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos eram “antifascistas”.

Trump, com sua retórica, conseguiu colar “antifa” em “negros” e “arruaceiros” — nada assusta tanto um americano quanto a possibilidade de fazer parte de uma minoria branca sob ataque de negros e cucarachas.

Por isso, no último debate entre os dois candidatos, a ênfase na promessa que Biden herdou do socialista Bernie Sanders teve um papel essencial: aumento do salário mínimo para 15 dólares a hora, aproximadamente R$ 15 mil mensais, o que Trump não pode prometer sob o risco de perder o apoio do dinheiro grosso.

Pode ser o suficiente para garantir a Biden uma vitória convincente entre os eleitores que não são filiados a nenhum dos dois partidos e representam cerca de um terço do eleitorado, selando o destino de Trump como presidente de um mandato só.


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