Blogosfera em surto: Sobre o valor de protestar no Brasil e na Venezuela

Tempo de leitura: 3 min

por Luiz Carlos Azenha, no Facebook, com atualização

A blogosfera está indo pelo mesmo caminho da mídia corporativa: fofocas, especulações, chutes, opinionismo, exploração sensacionalista da morte e da violência, manchetismo, superficialidade, busca de audiência a qualquer custo…

Para não falar do fla-flu político do qual não se extrai absolutamente nada.

Como observou uma amiga, vai envenenando o sangue da gente. Faz bem dar um tempo e ler um livro.

*****

Uma colega me cobra uma opinião definitiva. Definitiva! Contundente! Arrasadora! Eu fico me perguntando de onde nasce o desejo.

Falta de convicção nas próprias ideias? Síndrome do rebanho? Necessidade de ter certeza de que todos pensam como ela? As redes sociais, nas quais incluo a blogosfera, criaram esta necessidade: uma opinião definitiva por dia.

Todos sabem absolutamente tudo sobre todos os assuntos, com uma convicção infernal: rolezinho, black bloc, Copa, Joaquim Barbosa…

Se você publica dois textos com opiniões distintas sobre o mesmo assunto é um Deus nos acuda: desagrada 100% dos leitores!

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As pessoas se entregam ao opinionismo apaixonado antes mesmo de terem todas as informações que poderiam educá-las sobre o caso.

Atiram rojões verbais umas sobre as outras e o fazem de novo, no dia seguinte.

No meu caso, foi instrutivo o caso da indiazinha que teria sido queimada no interior do Maranhão, “notícia” que nunca se confirmou.

Meu pedido de cautela aos internautas foi respondido com um bombardeio de ofensas e críticas que uniu a Soninha ao Altino Machado. Nunca recebi um pedido sequer de desculpas…

Onde é que está o espaço para a dúvida, a incerteza, o contraditório, a nuance?

Morreu nas mãos da ditadura do opinionismo.

*****

Tenho escrito aqui, nos últimos dias, sobre a degradação da informação provocada pela blogosfera que busca audiência a qualquer custo: opinionismo, manchetismo, descompromisso com a verdade factual.

É aquela que exige do blogueiro uma opinião definitiva e arrebatadora. Pelo menos uma por dia. Independentemente dos fatos.

Exemplo: recebi por e-mail um link da Aporrea, da Venezuela, segundo o qual um manifestante teria dito ter recebido 150 bolívares para participar de manifestações violentas em Caracas. Bolívar é a moeda local.

Já no Brasil, sem apresentar provas do pagamento, nem sobre a origem do dinheiro, um advogado diz que manifestantes receberam 150 reais para se manifestar.

150 reais não tem o mesmo valor relativo de 150 bolívares venezuelanos. São números iguais, só isso.

Não há provas definitivas: de que houve o pagamento, nem lá, nem aqui. Pelo menos por enquanto.

Não há provas: de que exista alguma relação entre os dois casos.

E, no entanto, um site muito acessado usa o número 150 no título e joga na rede. Será compartilhado muitas vezes. Vai dar muita leitura, já que teorias de conspiração são fascinantes — pelo menos eu gosto.

Mas, e a verdade factual? E o compromisso com a informação?

Dane-se, parecem dizer os que bancam isso. Eu jogo lá, o assunto gera os clicks de que preciso para vender publicidade e no dia seguinte eu invento outro assunto!

PS do Viomundo: O objetivo dessa desinformação é comprovar que existe uma conspiração internacional contra a Copa do Mundo no Brasil. Talvez seja trabalho de contrainformação. Isso sim é que é teoria da conspiração!

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