Para salvar mandato, Trump engaja em “surrar a China”, com consequências dramáticas para o Brasil

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Da Redação

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, expôs à Fox News qual será o mote central de sua campanha à reeleição: China bashing, ou culpar a China pela pandemia de coronavírus.

No dia em que o mundo atingiu 300 mil mortes, 85 mil delas nos EUA, Trump já não tem mais onde se esconder.

Ao longo da pandemia, o presidente fez declarações públicas que agora podem se tornar poderosas mensagens de campanha contra sua própria reeleição: de que “milagrosamente” a doença poderia sumir, de que pretendia reabrir a economia do país no domingo de Páscoa, de que a hidroxicloroquina e a cloroquina seriam remédios capazes de deter a doença.

Hoje está claro que a pandemia terá impactos de longo prazo nos EUA, que podem se estender além do 3 de novembro, data da eleição presidencial.

À Fox, em recente entrevista, Trump disse que seria necessário deslocar as cadeias produtivas de volta para dentro do país, como forma de acabar com a dependência externa que ficou evidente ao longo da pandemia.

Trump agora promete uma vacina para antes do final do ano — no que apenas seu “gado” acredita.

O fato é que os Estados Unidos tiveram de importar equipamento médico da China, inclusive respiradores, por não terem capacidade interna de produzí-los.

A pandemia veio a fortalecer uma ideia que já era corrente no establishment da política externa dos EUA: a tese do decoupling.

Desde que Richard Nixon visitou a China, em 1972, mas principalmente desde a adesão dos chineses à Organização Mundial do Comércio, em 2001, as economias dos EUA e China “se acasalaram”.

Os capitalistas norte-americanos fizeram fortes investimentos na China para tirar proveito da mais-valia de milhões de chineses miseráveis que migraram do campo para a cidade em busca de empregos na indústria de transformação.

Agora, no entanto, Estados Unidos e China se tornaram competidores, em disputa por mercados de alta tecnologia, atuando cada vez mais como se fossem líderes de “áreas de influência” — uma reprise da guerra fria entre EUA e a extinta União Soviética.

Esta competição se reflete nas pesquisas feitas nos Estados Unidos, onde a ideia de que o país deixe de comandar o mundo é inaceitável: 62% dos democratas têm uma visão desfavorável da China — número que sobe para 72% entre os republicanos, de acordo com as pesquisas mais recentes do Pew Research Center (ver os gráficos acima).

A relação econômica entre a elite dos EUA e a mão de obra barata da China talvez seja muito vantajosa para um divórcio repentino.

Porém, neste momento, bater na China é eleitoralmente uma das poucas saídas para Donald Trump, já que o número de mortos pela pandemia nos EUA certamente será superior a 100 mil pessoas antes da eleição e a economia estará em frangalhos.

Perseguindo o “decoupling” — o que parece inevitável seja quem for o eleito em novembro nos EUA — o Brasil ficará no meio do caminho entre o principal mentor ideológico do atual governo e o principal parceiro comercial.

É mais ou menos o que Getúlio Vargas viveu no poder, quando tentou se equilibrar entre o Eixo e os Aliados.

A médio prazo, a tendência é de que os Estados Unidos aprofundem a disputa imperialista para controlar sua área de influência na América Latina, hoje centrada nos recursos de petróleo e gás da Venezuela e da Bolívia.

Neste cenário, preservar Bolsonaro ou um governo igualmente vassalo no poder se tornou essencial para Washington.

Para se acomodar com os Estados Unidos, é possível que os chineses, com sua diplomacia de longo prazo, façam concessões econômicas — aumentando suas compras de produtos agrícolas do poderoso lobby do agronegócio norte-americano, em detrimento do Brasil.

O lobby agrícola dos EUA, que envolve estados eleitoralmente decisivos como Ohio, arranca bilhões de dólares anualmente do Congresso para se manter competitivo.

O dólar na casa dos 6 reais favorece exportadores brasileiros do agronegócio, mas diante de mercados que tendem a se fechar se a onda nacionalista pró-Trump confirmar sua reeleição.

 O dólar na casa dos 6 reais prejudica importadores brasileiros, aqueles que poderiam trazer máquinas para eventual retomada da decadente indústria brasileira.

Dividida entre Bolsonaro e Moro, a elite brasileira é incapaz de alcançar um consenso sobre o futuro: ela se acostumou a taxas de lucro altíssimas em um país que tem um mercado interno agora empobrecido.

Este quadro economicamente pavoroso aponta para uma saída autoritária, com os militares assumindo o poder no Brasil para, como em 64, dar uma “direção” ao capitalismo dependente brasileiro.

Neste caso, como então, a repressão a qualquer demanda social será prioritária.


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Brasil de Abreu

E o bocó rindo sem saber por que. O povo morrendo às mínguas e ele só se preocupando com a segurança da família, inclusive tapando rastros.

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