O Brasil derrota o Brasil. Para delírio do Brasil

Tempo de leitura: 2 min

por Luiz Carlos Azenha

A população brasileira vibra. “Forças de segurança” garantiram a vitória do Brasil contra… quem mesmo? O Brasil.

Finalmente, nossa gloriosa bandeira está hasteada em Iwo Jima.

A foto foi publicada no site do Sidney Rezende.

O discurso é grandiloquente: o território teria sido “libertado”, o “momento simbólico entra para a história”, é a “atitude emblemática”.

Na cobertura dos acontecimentos do Rio de Janeiro só está faltando aquela vinheta “Brasil!” que a Globo usa na Copa do Mundo.

Em uma única edição do Jornal Nacional, dois populares apareceram falando na vitória do “bem”.

É a negação, pela força, de que o “mal” também somos nós, brasileiros.

Ou fomos invadidos por uma força estrangeira de traficantes? Seriam seres extraterrestres os bandidos do Alemão? Seriam resultado de geração espontânea?

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Por trás do heroísmo do BOPE, dos blindados que sobem o morro com a bandeirinha do Brasil tremulando, dos repórteres que usam coletes à prova de bala, por trás de todo o circo há uma guerra do Brasil contra o Brasil.

Os “ratos” que fogem pelo esgoto somos todos nós, brasileiros.

É nessa hora da “exceção” que reconhecemos o verdadeiro Brasil: o que clama pelo fuzilamento, o que nega direitos básicos elementares para os outros (inviolabilidade do domicílio, por exemplo), o que se concentra em soluções de curto prazo, o que esconde a miséria quando vai receber visita (o mais importante é ‘preparar o Rio’ para a Copa e as Olimpíadas).

A maconha, a cocaína e as anfetaminas amplamente consumidas nas festas e casas da classe média brasileira, afinal, aparecem lá por “geração espontânea”, do mesmo jeito que os traficantes do Alemão e da Vila Cruzeiro.

Como escreveu o Sakamoto, o Brasil perdoa o Brasil que usa métodos criminosos contra criminosos.

Como escreveu o Luiz Eduardo Soares, o Brasil busca as soluções fáceis, pirotécnicas, maniqueístas.

Para que tudo continue como está, eu acrescentaria. Para que o Brasil continue gastando mais com juros do que com saúde, educação e salários.

Para que, assim que a farsa acabar, os “heróis” de hoje sejam acusados de abalar as contas públicas, se continuarem a reivindicar a aprovação da PEC 300, a que visa criar um piso salarial para os policiais brasileiros.

Deveríamos ter vergonha de ter deixado as coisas chegarem onde chegaram. Deveríamos ter a decência de não usar o patriotismo onde cabe a vergonha.

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