por Luiz Carlos Azenha
Lula não foi ao encontro anual com os catadores de recicláveis e pessoas em situação de rua, em São Paulo, com os quais festejou o Natal de 2002 a 2010. No ano passado, doente, não compareceu. Este ano, convidado, não foi. Mas ainda assim foi lembrado, na gafe de um dos líderes do movimento, que ao puxar um parabéns a você pelo aniversário da presidente Dilma Rousseff se enganou e na hora do pique cantou “Lula”.
Talvez pela ausência dele, o público minguou. Estavam lá os três ministros candidatos a governador de São Paulo, Marta Suplicy, Aloizio Mercadante e Alexandre Padilha.
O fato é que o ex-presidente Lula terá um ano difícil pela frente, em 2013. Não apenas pela continuidade da campanha movida pela mídia e abastecida pelo ódio de classe a partir da delação premiada de Marcos Valério. Mas entre os petistas, inicialmente, isso não foi o grande problema. Não ouvi um até agora, eleitor do partido ou petista de carteirinha, que não tenha lamentado profundamente o caso Rosemary Noronha.
Alguns, como o motorista de táxi que me levou ao evento dos catadores, por solidariedade a dona Marisa. Outros, pela revelação do que consideram falta de tirocínio político de Lula. Um terceiro grupo, melhor informado sobre os detalhes do suposto tráfico de influência do qual Rosemary é acusada, lamentam o que o caso poderá deixar como saldo para o PT.
O ex-senador Gilberto Miranda trabalhava pela liberação da ilha dos Bagres para construir seu terminal portuário privado de 2 bilhões de reais. Conseguiu, do governador Geraldo Alckmin, um decreto declarando o projeto de utilidade pública, o que abriria caminho para obter do Ibama a autorização para desmatar a ilha. Isso indica que a relação de Miranda com o governo de São Paulo também merece investigação.
Por outro lado, sabe-se que a estatal que cuida dos portos paulistas, a Codesp, já tinha pedido autorização para ampliar o porto de Santos usando a ilha dos Bagres. Pedido negado pela Antaq, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários, mas que estava em andamento para uma empresa privada.
Qual é a justificativa para um governo do PT fortalecer uma empresa privada em detrimento de uma empresa pública? Há muito mais que a Rosemary neste caso e é possível que a mídia se concentre nela para constranger o ex-presidente Lula, sem focar no que realmente interessa: Gilberto Miranda e suas relações institucionais.
No caso do PT e de Lula, o caso resvala no projeto do partido de prosseguir na linha que levou à eleição de Fernando Haddad em São Paulo: avançar sobre a classe média das grandes cidades. Diante da previsível barragem de notícias negativas sobre Lula em 2013 — sem falar na imagem da prisão dos petistas condenados pelo STF, que deveremos ver no ano que vem –, o PT vai depender de um desempenho muito acima da expectativa de Haddad como prefeito de São Paulo se quiser disputar, em 2014, a classe média que decide eleições para governador de São Paulo.
Com José Serra secretário da Saúde de Geraldo Alckmin, estejam certos de que os paulistas não desistirão facilmente de fazer uma dobradinha Bandeirantes-Planalto em 2014, atropelando Aécio Neves. É provável que um deles fique diante de mais um poste do Lula.
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O ex-presidente pode e deve correr para abraçar o povão em 2013, mas mais do que nunca o criador vai depender de suas criaturas se pretende mesmo ganhar o governo paulista. De Dilma, um desempenho econômico bem acima da média dos dois primeiros anos de governo. De Haddad, um governo dinâmico e sensível que comece a atacar imediatamente os imensos problemas herdados do tucanato em nossa maior metrópole.
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