Por que a Alemanha reformou seu futebol enquanto o Brasil perde espaço

Tempo de leitura: 8 min

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Em Gana, em 2002, durante a Copa da Coreia e do Japão: o segundo time de todos eles era o Brasil

por Luiz Carlos Azenha

Muito se falou, especialmente depois da goleada histórica da Alemanha sobre o Brasil, da reforma pela qual passou o futebol alemão desde 2000, quando o país passou por um fiasco na Eurocopa. Resumo de uma reportagem da Deutsche Welle:

Temendo um vexame nacional na Copa do Mundo realizada em casa seis anos depois, os alemães botaram a mão na massa e resolveram tratar do problema pela raiz, criando um programa nacional, inédito no mundo, de formação de jovens craques, que obrigou os 36 clubes profissionais alemães a fundarem escolinhas de futebol. Para montar os centros de formação, a Federação Alemã de Futebol (DFB, na sigla alemã) enviou especialistas para visitar escolas de futebol francesas, holandesas e espanholas. Hoje, o país exibe uma rede de cerca de 390 centros de treinamento, ligados aos clubes, supervisionados pela DFB e distribuídos em diversas cidades alemãs. Desde 2002, mais de meio milhão de euros foram investidos na formação de futuros jogadores. Um detalhe importante é que seleção dos talentos é feita explicitamente sem priorizar “qualidades alemãs”, como força e disciplina, mas observando sobretudo a habilidade das crianças e adolescentes no tratamento da bola.

Mas, os alemães estariam apenas interessados em resgatar o orgulho nacional? Com certeza, mas não apenas isso. Apontamos abaixo cinco outras razões:

1. A INDÚSTRIA DO ENTRETENIMENTO

O entretenimento é uma indústria de ponta, do futuro. Quando cresce a renda, as pessoas tendem a gastar mais com a qualidade — ou o que presumem ser a qualidade — de suas horas livres. O futebol se encaixa nisso tanto quanto o cinema.

Os bilhões de dólares recolhidos por Hollywood para a economia americana crescentemente vem de fora dos Estados Unidos, como mostra o gráfico abaixo da revista britânica Economist:

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A linha azul escura mostra o crescimento das vendas de Hollywood fora dos Estados Unidos, em relação ao mercado doméstico. Não estamos falando em trocados, mas na casa dos R$ 80 bilhões de reais anualmente. O entretenimento é uma grande indústria, com a vantagem também de exportar os valores culturais de um país.

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No estádio do Kashima Antlers, em Kashima, no Japão, em 2001, com Zico de diretor e Toninho Cerezzo de treinador: eles evoluíram e nós ficamos parados?

2. BOLAS, CAMISETAS E EMPREGOS

A Alemanha tem a maior indústria global de material esportivo, com Adidas e Puma empregando cerca de 60 mil pessoas e faturando perto de R$ 50 bilhões anualmente. É uma indústria com altíssima taxa de retorno, já que numa camiseta de futebol ela vende muito mais que tecido, mas identidade com atletas, clubes e nações. A Alemanha tem quatro entre os 20 clubes mais valiosos do mundo, segundo a revista Forbes. Na ponta da lista estão Real Madrid, Barcelona, Manchester United e Bayern de Munich. Estes clubes tem um grande potencial de faturamento no Exterior, como fonte de atração de compradores de suas camisetas, para não falar da valorização da marca para os patrocinadores globais.

3. DIREITOS DE TV

Os direitos de transmissão de TV são o coração do futebol. São a principal fonte de renda dos clubes, além de bombar o patrocínio da e a venda de camisetas e aumentar o faturamento com o público nos estádios. É esse dinheiro que permite aos clubes manter escolinhas de futebol, bons elencos e competir com adversários. Mas não basta a um clube ter uma boa escolinha de futebol se ele não pode manter os jogadores que desenvolve e é dominado pela praga dos empresários do futebol.

Um clube sem acesso à TV é um clube praticamente morto. A venda de direitos domésticos de TV rende aos clubes alemães cerca de R$ 2 bilhões anuais. Na Alemanha tanto as emissoras públicas ARD e ZDF quanto a Sky detém direitos, ou seja, não existe monopólio. Quem define prioridades são a federação e os clubes, exatamente o inverso do Brasil, onde quem tem a faca e o queijo é o conluio Globo-CBF. Quando o clube dos 13 tentou desafiar isso, como descrevemos detalhadamente em O Lado Sujo do Futebol, foi esmagado!

Os jogos da Bundesliga, a liga alemã, são transmitidos para 204 países no mundo. Com isso aumenta o faturamento dos clubes alemães com a venda de patrocínios, camisetas e propagandas em placas nos estádios.

Existe uma tremenda competição entre as principais ligas europeias pela venda de direitos de TV. As cincos maiores delas — Inglaterra, França, Alemanha, Itália e Espanha — recolhem o equivalente a R$ 15 bilhões anuais, segundo a Bloomberg.

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A lista acima é a dos clubes que mais faturam com a venda de direitos de TV, em euros. Real Madrid e Barcelona lideram porque, dos cinco países acima citados, só na Espanha os direitos não são vendidos coletivamente. Juntos, eles faturam metade dos direitos de todo o futebol espanhol, às custas de um maior desequilíbrio do campeonato. O mesmo acontece hoje no Brasil, com domínio completo de Corinthians e Flamengo.

Porém, como disse Sean Hamil, professor do centro de negócios do esporte de uma universidade de Londres, à Bloomberg, uma forma mais equitativa de distribuição garante que qualquer clube possa ganhar de outro no campeonato. A fórmula de sucesso de qualquer competição é o equilíbrio, que traz emoção a cada rodada e evita as disparadas de líderes inalcançáveis. É por isso que todas as ligas dos Estados Unidos, de basquete, futebol americano e beisebol (NBA, NFL e MLB) trabalham pelo equilíbrio entre os clubes e o desenvolvimento de mercados locais onde o clube do coração tenha relação direta, cotidiana, com os moradores da cidade ou região.

Um campeonato equilibrado fortalece o conjunto dos clubes.

Hoje, a final da Champions League já é vista por cerca de 300 milhões de pessoas em todo o mundo. Na África, vi pessoalmente em Freetown, Serra Leoa, em Beira, Moçambique e até na maior favela do mundo, em Kibera, Nairobi, no Quênia: pequenos empresários montando cinemas improvisados para ver os jogos de campeonatos europeus.

O futebol tem imenso potencial nos negócios do entretenimento do futuro, especialmente quando Índia e China forem incorporados plenamente a ele, e os alemães estão de olho em uma fatia cada vez maior deste bolo.

E há, além de tudo, grande potencial de segmentação. Aguardem: é questão de tempo até que os grandes jogos sejam transmitidos em cinemas de altíssima definição ou pela internet, como se faz hoje com as óperas do Metropolitan de Nova York e da Filarmônica de Berlim.

4. TURISMO ESPORTIVO

Infelizmente esta pauta escapou à mídia brasileira durante a Copa, talvez por desconhecimento. Existe uma legião dos assim chamados mochileiros do futebol. Não, não são os argentinos acampados no sambódromo de São Paulo. São fãs do bom futebol, não necessariamente desta ou daquela seleção. Vi pessoalmente sete jogos da Copa no Brasil. Poloneses, tunisianos, chineses, malaios, indianos… Na Índia, em 2002, fui à casa do craque Barreto, desconhecido no Brasil mas goleador do campeonato local. Era praticamente um centro de peregrinação de Kolkata, a antiga Calcutá. Fui a uma partida do time dele, o Mohun Bagan, em Goa, um espetáculo inesquecível (para delírio da torcida local, o time de Barreto tomou uma virada inacreditável, vencia por 2 a 0 e perdeu de 4 a 3).

E a Índia nunca disputou uma Copa do Mundo… ainda.

Eu não sei se ainda é, mas o Brasil até recentemente era campeão absoluto de torcedores na África, Ásia e Oriente Médio.

O chamado “turismo futebolístico” tem imenso potencial de crescimento e independe da Copa do Mundo. O viajante vem ao Rio de Janeiro e inclui ver uma partida no Maracanã no roteiro, assim como o brasileiro que vai a Nova York quer ver pelo menos um show da Broadway. Os alemães também estão correndo atrás disso.

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Ronaldo (à direita, atrás do repórter) num blindado, chega ao estádio de Porto Príncipe para um jogo diplomático: foi 6 a 0 para o Brasil, em 2004

5. DIPLOMACIA INTERNACIONAL

É óbvio e não é de hoje o esforço da Alemanha para projetar uma nova imagem no mundo.

Neues Museum, em Berlim. Minha filha Ana Luisa me leva para ver uma exposição sobre a relação de altos e baixos entre Alemanha e Rússia. Os “baixos” significam uma guerra atroz em que morreram 20 milhões de soviéticos; em que, na sua contra-ofensiva, soldados soviéticos cometeram milhares de estupros. Ou seja, não é nada comparável à rivalidade entre Brasil e Argentina. Mas, de fato, a relação entre alemães e russos é muito mais ampla que uma guerra devastadora.

Dou uma olhada no catálogo da exposição. A mostra é promovida por entidades ligadas diretamente ao governo alemão, parte de um esforço diplomático de reaproximação com os russos.

Hoje a Alemanha se propõe a ser a ponte entre o ocidente europeu e a Eurásia, através de Moscou. Existem sólidos negócios entre os dois países.

Mas, no campo das relações humanas, as memórias associadas a Hitler são impeditivas desta relação.

No livro German Genius, o jornalista Peter Watson descreve em algum detalhe o esforço dos alemães para mudar sua imagem no Reino Unido com o objetivo de atrair turistas, estudantes, investimentos e gente interessada em aprender alemão. Registre-se que, em todo o planeta, os alemães das novas gerações são campeões no conhecimento do inglês: 97% tem conhecimento básico e 25% são fluentes.

O futebol dispensa o idioma. É linguagem praticamente universal. É um poderosíssima arma diplomática. Atravessando de automóvel a Jordânia, a caminho do Iraque, minha equipe de televisão correu risco até se identificar: “Ah, brasileiros, o Ronaldinho!”.

O diretor de marketing da seleção alemã, que acompanha a delegação ao Brasil, em entrevista à ESPN Brasil, admitiu o que sempre me pareceu óbvio: as atividades de jogadores alemães no Brasil foram programadas para apresentá-los aos brasileiros como pessoas comuns, interessadas em nossa cultura. Ele falou isso com todas as letras.

Eu acrescentaria: talvez para desfazer a imagem de alemães frios, calculistas, cruéis e autômatos, que foi espalhada pelo mundo nos filmes de Hollywood durante e depois da Segunda Guerra Mundial.

*****

Nas minhas viagens mais recentes à África, notei um fenômeno curioso: agora, as camisetas amarelas da seleção brasileira dividem espaço com as do Barcelona e do Manchester United. Estamos perdendo espaço. O campeonato brasileiro, por outro lado, tem mínima expressão internacional: é dominado por jogos sofríveis.

Como demonstrado acima, o futebol não é apenas um patrimônio cultural do Brasil. Ainda que mal explorado, é também um importante patrimônio econômico e diplomático, como ficou explícito quando o Brasil levou a seleção para jogar no Haiti. Eu estava lá e vi em Porto Príncipe uma das cenas mais impressionantes de minha carreira jornalística: Ronaldo pendurado em um blindado, acompanhado nas ruas por imensa multidão de torcedores do Brasil.

No Mineirão, cercado de turistas estrangeiros cujas seleções nem se classificaram para a Copa, vi gente incrédula que veio ver o Brasil jogar se perguntando: o que está acontecendo? Há alguma briga entre os jogadores? Algum motivo obscuro para tamanho vexame?

Talvez a Alemanha perca a final da Copa para a Argentina por 7 a 0. Ou o Brasil goleie a Holanda por 8 a 0. Talvez os 7 a 1 tenham sido apenas um desastre fortuito, coisa do Sobrenatural de Almeida.

Mas minha impressão de leigo é de que, enquanto a Alemanha trabalhou para reconstruir seu futebol, o Brasil está a caminho de destruir um patrimônio importante de nossa jovem civilização. Tudo indica que teremos mais do mesmo. Muda-se o treinador, mas permanecerá uma estrutura que favorece cartolas pilantras, uma entidade “sem fins lucrativos” milionária — que comanda clubes majoritariamente falidos — e um grupo midiático que age como dono do futebol brasileiro.

PS do Viomundo: Obviamente que a tendência de uma mídia quase tão fraca quanto nosso futebol é de focar no acessório e esquecer do essencial, por motivos políticos, econômicos ou por pura incompetência

Leia também:

Saul Leblon: Autópsia do exportador de jogadores, mastigado pela Alemanha


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Comentários

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Brancaleone

Observem:

Times estrangeiros contratam nosso jogadores pagando muita grana, mas muita grana mesmo – fora o que é pago por fora.

Mas alguem aqui sabe de algum técnico brasileiro que tenho ido trabalhar em algum time “dos bão”? não vale timecos de algum putaqueopariuquistão qualquer.

E aí lembraram? Técnico brasileiro tem valor lá fora? Um Luxemburgo? Um Tide? algum time europeu de ponta contratou algum nem que seja para lavar as cuecas dos jogadores?

Pois é. Ninguem. Nenhum.

Isso ai deve significar alguma coisa…

FrancoAtirador

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18.01.2006
Diário do Nordeste

DESVIO
Executivo da Fifa se envolve em escândalo
de ingressos para Copa [de 2006, na Alemanha]

Zurique – Um dos mais tradicionais dirigentes da Fifa está envolvido no desvio de mais de R$ 40 milhões em ingressos para a Copa do Mundo da Alemanha.

O dirigente acusado é Jack Warner, vice-presidente da Fifa, presidente da Concacaf (Confederação da América do Norte, Central e Caribe) e ainda conselheiro da entidade de Trinidad e Tobago.

Todo o lote de entradas locado para o país caribenho foi parar na agência de turismo de propriedade de Warner, a Simpaul Travel.

Segundo o jornal ‘Trinidad Express’, seriam 7.000 ingressos para cada jogo da seleção na 1ªfase (a seleção caiu no grupo de Inglaterra, Paraguai e Suécia).

Informações obtidas pelo jornal inglês ‘The Independent’ dão conta que Warner também está vendendo pacote entradas (mais hospedagem) por R$ 10 mil quando o preço máximo oficial não sairia por mais de R$ 800.

Ou seja, o dirigente e sua agência estão cobrando pelos bilhetes valor mais de 10 vezes maior que seu preço oficial.

(http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/jogada/executivo-da-fifa-se-envolve-em-escandalo-de-ingressos-para-copa-1.603607)
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Maria Célia

Para uma iniciante torcedora e que não entende muito bem das regras do futebol a reportagem trouxe informações interessantíssimas de como funciona a fábrica do futebol. Estou cada vez mais curiosa e interessada em conhecê-la.

assalariado.

Então quer dizer que temos um assalariado fake.

Saudações Socialistas.

assalariado.

Conceição/ Azenha e internautas. Tem um comentarista se passando por mim. Então que se desmascare este, que não tem a mesma visão dos fatos políticos como eu. Este (Assalariado), não sou eu em (qui, 10/07/2014 – 13:38)

Saudações Socialistas.

    Conceição Lemes

    Assalariado, sabemos que vc é o assalariado verdadeiro, que comenta no Viomundo há um tempo. Vou conversar com o Azenha, mas acho que não temos como impedir que alguém o mesmo nick. Por que vc não usa junto com o assalariado? Alguém teria outra sugestão? abs

Cláudio

Lei de Mídias Já!!!! … “Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma” *** * Joseph Pulitzer. … … “Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” *** * Malcolm X. … … … Ley de Medios Já ! ! ! . . . … … … …

Cláudio

… “Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma” *** * Joseph Pulitzer. … … “Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” *** * Malcolm X. … … … Ley de Medios Já ! ! ! . . . … … … …

Fernando

E põe isso tudo na mão de Ricardo Teixeira, Havellange, Faustão e Galvão Bueno…

João Vargas

A síndrome do vira-lata grita forte após a derrota por 7 x 1. O ufanismo ao futebol eficiente dos alemães beira à adoração. Esquecem que eles jamais formarão um Pelé, um Ronaldinho gaúcho, um Garrincha, um Neymar. E isto, por uma simples razão: o futebol, a ginga, o drible é patrimônio brasileiro, e isso, por mais que se esforcem, jamais poderão copiar. O vexame sofrido frente aos alemães se explica mais por nossa culpa do que pelos méritos dos alemães. Fomos vítimas de um megalomaníaco chamado Felipão, que teve a cara de pau de dizer em entrevista coletiva que não sabia o que tinha acontecido…que deu apagão. ora, qualquer torcedor pode falar isto, menos ele, que é regiamente pago, e muito bem pago, pela CBF. Tinha que ter a hombridade de dizer que errou na escalação, que subestimou a seleção alemã. Felipão, o futebol te deu uma grande lição: Não adianta fazer caminhada para adorar Nossa Senhora do Caravággio se o teu coração está cheio de orgulho e prepotência, aprende um pouco de humildade que isto não te fará mal algum.

Zanchetta

Obrigado Lula!!!

https://www.youtube.com/watch?v=f8VHY3yHAG0

DARCY BRASIL RODRIGUES DA SILVA

Um artigo bastante convincente. Agora, há um diferencial no futebol brasileiro que ninguém parece enxergar, e que não pode ser copiado dos alemães, porque é uma marca nacional e o segredo de nosso sucesso, de nosso modo peculiar de jogar bola: no Brasil, as “escolinhas” eram os campos de várzea. E precisam continuar sendo. A qualidade de nosso futebol começou a baixar precisamente no momento em que a especulação imobiliária entrou em campo e transformou os campos de várzea em empreendimentos imobiliários. Não tenho uma estatística, mas intuitivamente quero crer que o número de praticantes de futebol relativo ao conjunto da população diminui acentuadamente, principalmente entre as crianças da periferia.E mais: o jeito malandro, moleque, de jogar futebol do brasileiro está sendo destruído precisamente pelo afã de imitar o futebol europeu ( não me refiro à estrutura profissional descrita pelo artigo). O drible brasileiro é inigualável, tem vínculo com a jinga da capoeira e com o passe do sambista, tem influência africana, portanto. A meu ver, a primeira coisa que deveria ser feita é um programa de resgate dos campos de várzea, agora de novo tipo, não mais sediados em terrenos baldios privados, aguardando valorização imobiliária , mas em áreas públicas definidas e mantidas pelos municípios como espaços de lazer. Quero ver de novo as peladas ao longo da Avenida Brasil, ou em Bangu, locais onde o velho Neca, olheiro do Botafogo, ia descobrir valores como Jairzinho e Paulo Cesar Caju . Essa deve ser a base de nosso futebol, entendida como um valor cultural e como uma manifestação cultural. As escolinhas, análogas às alemãs, seriam o local para onde se encaminhariam os talentos forjados nesse mesmo ambiente que produziu , no passado, jogadores como Pelé, Garrincha, Didi,Zico, Adílio, Junior, Dirceu Lopes , Ademir da Guia, e tantos outros. Agora, como fazer tudo isso se continuar existindo o poder ditatorial da CBF?

A propósito da famigerada Lei Pelé, esta poderia ceder lugar a uma nova relação contratual, liquidando com os parasitas travestidos de empresários,por um lado, e preservando os interesses dos jogadores e dos clubes, por outro. Os contratos dos jovens jogadores poderiam ter uma dupla cláusula. A primeira seria um vínculo de 7 a 8 anos ( trabalho com a ideia de que os jogadores têm assinado o seu primeiro contrato até mesmo com 16 anos) com a Liga Nacional ( essa ainda não existe, mas defendo a sua criação). Decorrido esse prazo, os jogadores estariam livres para jogar no exterior e os clubes receberiam um valor destinado apenas a reproduzir a estrutura formadora de novos talentos. Assim, os jogadores assinariam o seu primeiro contrato com 17 anos, obrigando-se a permanecer no país por 8 temporadas. Por outro lado, o contrato com o clube não poderia ser superior a 2 anos. Desse modo, haveria ampla liberdade de o jogador mudar de clube, dentro do Brasil, durante os 8 anos em que permanecesse jogando no país, por força de seu contrato com a federação, assinando com o clube brasileiro que aparecesse com a melhor oferta.

PS: tudo que o artigo tratou foi relevante. Porém, o fator desencadeante dessa discussão foi a derrota do Brasil para a Alemanha. Entretanto, essa derrota não teria ocorrido fosse outro o treinador da seleção que não o Felipão. Coloque um técnico como o Marcelo , do Cruzeiro, à frente desse mesmo elenco ( que ele, Marcelo, não convocaria integralmente). Marque 5 jogos entre o Brasil e a Alemanha. Eu apostaria numa vitória brasileira no conjunto dos jogos. A “poderosa” Alemanha quase perdeu para Gana e quase foi para os pênaltis com a Argélia. Domingo, não duvido – ao contrário de uma mídia esportiva cega- da vitória da Argentina. Por sinal, o melhor artigo que li a propósito da nossa derrota foi de um comentarista da Carta Capital, que eu não conhecia e que infelizmente não guardei o nome.

Elaine

Até concordo com a Materia, mas sabendo-se que o Ministro ja fala em “estado no controle” do futebol, que a Dilma chamou o Bom Senso FC para conversar, me da um certo medo. TUDO que o estado põe a mão vira b… Tem que ter uma outra solução, não é possivel que viveremos entre a ganancia ladrões e a imcompetencia do estado, pra sempre. Triste.

    DARCY BRASIL RODRIGUES DA SILVA

    “Tudo que o Estado põe a mão”…Como tem gente afetada pelo neoliberalismo nesse país! Arautos da propriedade privada. O país é uma grande bosta por conta precisamente da propriedade privada. A Rede Globo é uma propriedade privada. Foi a propriedade privada que governou o Brasil desde sua inauguração. Foi ela que articulou o Golpe Militar que infelicitou o país por 21 anos. A propriedade privada controla as principais instituições. As eleições se definem pela atuação marcante da privada. É a propriedade privada e os partidos que a representam que têm postergado todas as reformas estruturais que o país reclama. A CBF é um gritante exemplo dessa regra. E apesar disso, a velha tese de que o Estado deve deixar o mercado agir ressurge com a frequência dos pernilongos depois da chuva.

Gumercindo Saraiva

Esqueci de dizer. O artigo do Azenha está ótimo.

Gumercindo Saraiva

É impressionante como a maioria dos jornalistas brasileiros são pessimamente informados. O Brasil perdeu de 7 e daí? Outras equipes também sofreram derrotas humilhantes e nem por isso forma execradas da maneira como a seleção brasileira tem sido. Em 1954 na primeira fase a ALEMANHA PERDEU DE 8 X 3 para a Hungria e depois na final sagrou-se campeã vencendo por 3 x 2. Se houvesse um novo jogo entre Brasil e Alemanha por certo o placar seria diferente. O Brasil é “péssimo” e está entre os semifinalistas, o que dizer da Inglaterra, Itália, Uruguai, Japão, etc. Esperar o que da classe média fascista que torceu contra a seleção?Há alguns “jacus ” aqui no Sul cujos ascendentes são de origem alemã que torcem pela Alemanha. A elite brasileira tem vergonha de ser brasileira gostaria de ser holandesa, alemã, estadunidense…Já o povo torceu e para decepção da tucanalha votará em Dilma…

Fábio

Quanto do dinheiro que a Alemanha usou para reformular seu futebol veio da Grécia?

Hell Back

Tudo bem; mas como você explica a derrota da Espanha e sua volta para casa antes de chegar às semifinais? Essa tese não procede.

Antonio

Todo comentário é perfeito exceto por um ponto….grupo midiático que age como dono do futebol brasileiro.
Errado, hoje o grupo midiático é dono do futebol brasileiro.

augusto2

oh luiz azenha: marque um golaço ai pra gente.
Peça agora, agora mesmo nestes dias, uma entrevista por e-mail q seja, na na ex cortina de bambu, com o grande lider, da Longa Marcha mas que ja deu o 1º passo, o jogador Paulo André sobre o que ACABA de acontecer, os remedios e o nome aos bois. Ele tem 31 anos acho, nao deve ter receio de falar.
E publique aqui.

manoel

Brilhante, patrício Azenha!
Em que pese alguns néscios entenderem que você esteja pregando o comunismo no futebol, na verdade estás a falar sobre economia capitalista, com viés nacional.
Quebrar o monopólio da tv ajudaria e dimensionaria demais nosso futebol…

FrancoAtirador

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A GLOBALIZAÇÃO DO FUTEBOL

(http://migre.me/knIzP)
(http://migre.me/knIxd)
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FIFA: O VATICANO SUÍÇO DO FUTEBOL

(http://migre.me/knIKw)
(http://migre.me/knINX)
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    FrancoAtirador

    .
    .
    RESPOSTA AOS NEONAZISTAS XENOFÓBICOS

    A MultiÉtnica Seleção Alemã de Futebol
    (http://migre.me/krjhA)

    Boateng: filho de pai ganês e mãe alemã, nasceu em Berlim;

    Khedira: filho de pai tunisiano e mãe alemã, nasceu em Sttutgart;

    Klose: nascido na Polônia, mudou-se aos 8 anos para a Alemanha;

    Özil: descendente de turcos, nasceu em Gelsenkirchen;

    Tasci: também com ascendência turca, nasceu em Esslingen;

    Aogo: filho de nigeriano e mãe alemã, nasceu em Karlsruhe;

    Cacau: nasceu no Brasil, naturalizou-se alemão no ano passado;

    Mario Gomez: filho de espanhol e alemã, nasceu em Riedlingen;

    Marin: nascido na Bósnia, naturalizou-se alemão ainda criança.

    Podolski: nasceu na Polônia e foi para Alemanha com 2 anos;

    Trochowski: também polonês, foi para Hamburgo aos 15 anos;

    Leia também:

    BRASIL 2014

    Uma Copa de imigrantes e descendentes

    (http://migramundo.com/2014/06/16/uma-copa-de-imigrantes-e-descendentes)
    (http://migramundo.com/2012/10/11/a-multietnica-selecao-alema-de-futebol)
    .
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Maria Rita

Excelente matéria. Para mim, o interesse por jogos estava restrito aos jogos da Copa. Embora criada numa família com 8 irmãos de times diferentes como Botafogo, Flamengo e Fluminense. Aí, sim, as discussões e as histórias contadas em clima de paixão, disputas e razão técnica eram um espetáculo à parte. A Internet , mais do que TVs abertas e a cabo, foi mais uma vez o canal que dá a todos o mesmo pé na discussão. Informação, conhecimento, bastidores que antes ficavam restritos a quem detinha o poder de pingar ou editar essa ou aquela matéria. Mais do que nunca, acredito que o trauma não será mais o ingênuo trauma que afastou o Barbosa de 1950. Aquele foi um jogo diferente. Nas discussões que escuto por aqui na cidadezinha em que vivo, todo mundo está reinventando o futebol brasileiro. Te cuida, clube dos cartolas, brasileiro quer mais! Não sei por que, acho que, afinal, vencemos a primeira copa. A da Informação!x

Fernando

Alemanha investe no futebol e esquece o social.

Já são 7,5 milhões de anafalbetos, desemprego igual ao do Brasil e marginalização dos estrangeiros.

Dane-se que perdemos a terceira Copa seguida. Estamos distribuindo renda como nenhum outro país do mundo.

É nisso que devemos nos concentrar, e cada vez botando mais nossas crianças nas salas de aula, e não em campos de futebol.

    Lukas

    Depois do comentário acima do Fernando, você aí que mora no interior do Maranhão ligue pra um alemão que mora em Dortmund e dê aquela sacaneada.

    Educação, distribuição de renda é com a gente, seu chucrute!!!

    Assalariado

    é impressionante a capacidade que o fernando tem de falar besteira….

    Narr

    Mas onde é que está escrito que futebol e social são contraditórios?

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