“Ele bebeu o leite imperialista”
por Luiz Carlos Azenha
Estive hoje no lançamento da campanha de meu amigo Gilberto Maringoni à Câmara de Vereadores de São Paulo. Sempre fomos transparentes quanto a nossas escolhas políticas — os leitores mais antigos sabem até em quem votei nas últimas eleições, Dilma, Mercadante, Newton Lima, Carlos Gianazzi e Jamil Murad. Um leque de partidos que, desde lá atrás, inclui o MDB, o PMDB, o PT, o PCdoB e o PSOL. Até no Fernando Henrique eu votaria, contra o Jânio, em 1985, se àquela altura já tivesse transferido o título para São Paulo…
Também estava presente o Rodrigo Vianna, que se juntou a um time de apoiadores que inclui Ermínia Maricato, Carlos Nelson Coutinho, Leandro Konder, Milton Temer e muitos outros.
Foi apresentado um vídeo ótimo, que é bem o espírito do Maringoni e indica que ele fará uma campanha inovadora, capaz de despertar interesse sobre os problemas da cidade.
Eu conheço o Maringoni desde cedo. Fomos colegas no quarto ano primário do Grupo Escolar Rodrigues de Abreu, em Bauru. Posso atestar a firmeza ideológica do colega: naqueles tempos bicudos, na hora do recreio, o Maringoni se negava a beber o leite em pó fornecido pela Aliança para o Progresso, do presidente John Kennedy. Piada, viu?
Ele bebia com gosto o leite com groselha imperialista. Piadas à parte — vai ser difícil para o Maringoni fazer campanha a sério — o cara é bom: cartunista, jornalista, doutor em História, arquiteto, professor, escritor e pesquisador.
Duas coisas me chamaram a atenção durante o evento: em sua fala, Maringoni lembrou que uma campanha de vereador em São Paulo pode custar entre 3 e 5 milhões de reais, mas o ganho salarial de um vereador ao longo do mandato de 4 anos não chega a 700 mil reais. Portanto, enquanto não temos financiamento público de campanha, quem manda cada vez mais nas Câmaras de Vereadores é o poder dos que financiam as campanhas milionárias.
Aqui ele fala um pouquinho a respeito disso:
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A segunda foi o depoimento do próprio Rodrigo Vianna, que contou que um parente dele, ao completar dezesseis anos de idade, disse que não pretendia tirar o título eleitoral. Orientado de que era necessário, disse: “Tudo bem, desde que eu possa anular meu voto”.
Sinal dos tempos.
Como mudar isso?
Parcialmente, em minha opinião, trazendo a política de volta para o cotidiano das pessoas, para os problemas concretos: a calçada quebrada que derruba os senhores e senhoras da terceira idade, o shopping que não cria as vagas prometidas de estacionamento, o ônibus que anda lotado, a creche em que falta um professor. É a partir disso que vamos chegar às questões transcendentais: quem paga imposto, como o imposto é gasto, quem coloca o interesse privado acima do interesse público, o que é e quem pratica o higienismo social, etc.
Daí a necessidade de eleger bons vereadores, o que é impossível quando milhões de eleitores chegam às urnas sem saber em quem vão votar.
Por isso, no espírito de dar uma minúscula ajuda para mudar isso, peço a vocês que indiquem em quem pretendem votar para vereador este ano em suas cidades de origem, com uma breve explicação do motivo da escolha. Este post vai circular pelo sítio até as eleições. Deixem também indicações de candidatos a vereador que, em sua opinião, a gente deva entrevistar.
Eu sei que muita gente se horroriza com as miudezas da política partidária, acha um tédio debater candidatos, mas creio que este comportamento é um dos motivos pelos quais aquele menino pensava em anular o voto.





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