A repercussão da “cassação” de Paulo Freire

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Este post nasceu de uma sugestão do leitor Cássio Muniz, que estuda Ciências Políticas em Wisconsin e pediu que acompanhassemos o assunto. Começamos com a tradução do editorial do New York Times publicado em janeiro deste ano:

Arizona, na sala de aula

16.01.2012

O serviço memorial da semana passada em Tucson [referência ao ataque que matou seis pessoas e feriu a deputada democrata Gabrielle Giffords], que começou com uma oração feita por um professor de ancestrais indígenas e mexicanos, demonstrou a rica diversidade do Arizona, bem como o amor e a tolerância de muitos dos cidadãos do estado.

Infelizmente existe outro Arizona, no qual o governo estadual frequentemente promove a discórdia e a intolerância. Isso ficou dolorosamente claro na lei estadual de imigração, que dá poder à polícia para exigir documentos de imigrantes suspeitos de viver ilegalmente nos Estados Unidos. E está dolorosamente claro na nova lei de educação, que injeta temores nativistas diretamente nas salas-de-aula públicas.

A lei, que entrou em vigor no dia 31 de dezembro, bane qualquer discurso ou aula que “promova ressentimento contra raça ou classe de pessoas” ou que “advogue solidariedade étnica em vez de tratar os pupilos como indivíduos”. O procurador-geral do Arizona, Tom Horne, usou a lei imediatamente para declarar ilegais os programas de estudos mexicano-americanos no distrito escolar unificado de Tucson.

O sr. Horne, que escreveu a lei quando era superintendente de instrução pública, acusou o programa de “lavagem cerebral” em estudantes latinos, ao ensinar “chauvinismo étnico” por usar os trabalhos de autores que são críticos da relação histórica dos Estados Unidos com a América Latina e do tratamento passado dos Estados Unidos aos latinos. O sr. Horne ainda não fez o mesmo em relação a programas similares para estudantes negros, asiáticos e indígenas.

É difícil discordar das porções da lei que desencorajam a derrubada do governo. Mas o sr. Horne vai muito além dos termos da lei ao tentar evitar que estudantes colegiais estudem trabalhos como “A Pedagogia do Oprimido”, de Paulo Freire, um texto educacional clássico, ou ao tentar evitar que os estudantes aprofundem seu conhecimento de História ou de seu lugar no mundo. Autoridades escolares de Tucson dizem que, longe de promover o ressentimento dos adolescentes, o programa ajudou estudantes latinos a manter boas notas e a continuar na escola.

O distrito foi colocado numa posição difícil: extinguir o programa ou perder o financiamento estadual. Onze professores foram à Justiça para bloquear a lei. O comitê que dirige as escolas, infelizmente, não se juntou a eles.

Educadores e pais de todo o estado deveriam resistir às tentativas de atacar a educação. A Justiça exige isso. E mesmo o texto de uma lei ruim demonstra que o sr. Horne foi além do permitido. Um trecho da lei diz: “Nada deste parágrafo pode ser interpretado como tentativa de restringir ou proibir instrução sobre o Holocausto ou qualquer outro caso de genocídio ou sobre a opressão histórica de um povo baseada em etnicidade, raça ou classe”.

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Arizona foi criticada com justeza nos anos 80 e início dos anos 9o quando negou-se a aderir ao país na declaração da data de nascimento de Martin Luther King como feriado. O estado finalmente concordou em 1992 e o país desde então caminhou em direção a maior harmonia racial. Os líderes políticos do Arizona envergonham a si mesmos e aos cidadãos do estado quando pregam e promovem o contrário.

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