Denise Romano, sobre o reajuste salarial de Zema e secretários: ‘Deboche extremo com o funcionalismo e a população de MG’

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Fotos: Reprodução de vídeos

Por Conceição Lemes

Nesta terça-feira, 04/04, três projetos de lei bastante controversos estão na pauta do plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Um: o PL 415/23, que propõe o rejuste do salário do governador Romeu Zema (Novo) e seus secretários.

Dois: a Proposta de Emenda Constitucional (PEC 71/2021), que tira o Detran (Departamento de Trânsito de Minas Gerais) da Polícia Civil.

Três: o projeto da reforma administativa do governo do Estado, o PL 358/23, já tratado aqui.

“Zema está comprometido apenas com as elites”, afirma Denise Romano, coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (SindUTE-MG).

”Ele despreza os servidores, persegue as entidades sindicais e dilapida os direitos do funcionalismo”, observa.

”Agora, quer reajustar em 298% o próprio salário e o dos Secretários de Estado”, denuncia. ”É o extremo do escárnio, do deboche, com todo o funcionalismo público e a população de Minas Gerais.”

Viomundo — O projeto de reajuste de quase 300% é do governador?

Denise Romano — A iniciativa foi da mesa diretora da Assembleia, mas a pedido do governador,  já que o Executivo não pode encaminhar projeto para aumentar o próprio salário.

Viomundo — Qual a justificativa?

Denise Romano — Zema diz que o reajuste é necessário para manter os quadros técnicos qualificados. Senão, ninguém quer ficar no Estado.

O último reajuste de salário de governador aqui em Minas, foi em 2007, ainda no governo do Aécio.

Então, o governo encaminhou essa proposta de 298%. O salário do governador vai saltar de R$ 10.500 para R$ 41.845, a partir de 2025.

O projeto também prevê aumento no salário do vice-governador de 267% e de 247% no dos secretários de estado, atualmente em R$ 10.000.

Acontece que o governo já tem outros mecanismos para engordar o salário dos secretários, que é através do jetons, que variam de R$ 4.300 a R$ 18.224.

Viomundo — A que se destinam esses jetons?

Denise Romano — São gratificações que os secretários de Estado recebem por atuarem em conselhos de autarquias, empresas públicas e de economia mista vinculadas ao Estado.

O caso que teve mais repercussão foi o da secretária da Educação da primeira gestão do Zema, que morava no Rio de Janeiro. Ela disse abertamente que precisava desses jetons, que complementavam seu salário. Ela era conselheira do Conselho da Cemig.

Então, a justificativa do governo de que precisa ter bons salários para manter os cargos técnicos é mais uma falácia.

Mesmo não tendo salários reajustados desde 2007, o governo utiliza mecanismos de participação nos conselhos que remuneram os conselheiros.

Viomundo — E o salário da Educação?

Denise Romano — É justamente a pergunta que nos fazem nas redes sociais quando veem matéria do governador propondo reajuste de 298% para ele mesmo, através da mesa diretora da Assembleia Legislativa.

É importante que todos continuem fazendo  essa pergunta, porque é um escárnio.

O governo Zema não pagou nenhum reajuste de Piso Salarial da Educação.

A categoria sofre o maior arrocho salarial dos últimos anos, incluindo a aberração de vencimento inferior ao Piso Salarial Nacional, definido pelo MEC (Ministério da Educação).

Viomundo — O governador diz que Minas Gerais paga o piso salarial proporcional.

Denise Romano — Não é verdade.  Nem o piso proporcional Minas Gerais paga.

Durante os 4 anos do primeiro mandato do Zema, nós não tivemos nenhum reajuste do piso salarial profissional nacional aprovado pelo MEC (Ministério da Educação).

Hoje, a Educação de Minas Gerais tem o pior salário do País. Apenas R$2.350,49, valor bem abaixo do Piso Nacional, que está em R$ 4.420,55.

Portanto, a proposta de reajuste salarial do governador e de seus secretários em tramitação na Assembleia é um escárnio.

Em Minas Gerais, a realidade econômica é muito grave. As pessoas estão desempregadas, não há projeto de segurança alimentar, não há projeto de geração de emprego e renda, não há projeto pedagógico.

Aqui, tudo é comprado de empresas privadas. Tudo é dado para a iniciativa privada.

Viomundo — E a história de que o governador vai doar o seu salário?

Denise Romano — Não é verdade. O compromisso do governador de não receber era enquanto havia parcelamento do salário dos servidores públicos. Há muito tempo não há mais parcelamento.

Minas Gerais paga o pior vencimento básico da Educação do país. Então, com esse vencimento não há o que se falar em parcelamento de salário, porque o salário já é tão pequeno. Vai parcelar a miséria?!

Portanto, aprovar reajuste de 298% para o governador é um escárnio com a população mineira.

Hoje,  junto com outros setores do funcionalismo também indignados, vamos ficar o dia todo na Assembleia, para acompanhar a votação, cobrar, pressionar.

Queremos ver que deputado terá coragem de votar a favor de um projeto com esse nível de deboche da população mineira.

É chacota com quem paga os impostos em Minas Gerais.

Viomundo — O governo Zema diz que defende os pagadores de impostos.

Denise Romano — Na verdade, ele defende os que pagam impostos reduzidos devido aos privilégios  que ele próprio concede. É o caso, por exemplo, das locadoras de veículos.

Aliás,  Zema encaminhou à Assembleia Legislativa projeto que isenta as locadoras de veículos de dívidas que elas têm com o Estado.

Viomundo — Além de já pagarem IPVA menor do que a população em geral paga?!

Denise Romano — Isso mesmo, mais uma facilidade.

Por isso, insisto. É vergonhoso o governador Zema pagar salário de fome aos trabalhadores da Educação e, ao mesmo tempo, articular a aprovação de um projeto que reajusta o seu próprio salário em 298%.

Nenhum setor do funcionalismo teve reajuste salarial dessa magnitude!

Viomundo — O governador alega que precisa desse reajuste para manter os quadros técnicos qualificados.  Só que isso não vale para a Educação, por exemplo. 

Denise Romano — Não, não vale. Essa justificativa do governo também também não é verdadeira. Como disse há pouco os secretários de Estado, além do salário, recebem também jetons, por participação em conselhos de autarquias, empresas públicas e de economia do Estado.

A propósito. Para remunerar e complementar a renda dos secretários, as empresas públicas servem. Mas para servir a população, elas não servem. O governo Zema, inclusive, quer vender todas, quer privatizar absolutamente todas.

Uma contradição flagrante, bem estabelecida. Esse é o Partido Novo, do Zema.

Na Assembleia, Câmara dos Deputados, no Congresso, eles votam contra tudo aquilo que é para melhorar a vida da população, dos pobres, dos servidores públicos.

É o partido da destruição do serviço público e que se roga como herdeiro do espólio do desgoverno, do genocida do Bolsonaro.

Aqui, em Minas Gerais, temos ainda o aparelhamento pelo Novo dos conselhos das autarquias, empresas de economia mista e a excelente ”relação”com as mineradoras.

O governo Zema libera tudo para as mineradoras e depois faz política com o dinheiro de sangue do crime da Vale, em Brumadinho.

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Comentários

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abelardo

Imagino que o percentual solícitado para aumento de salário do governador e da enxurrada de servidores, que irão surfar felizes no vácuo dessa Imoral, gananciosa e abusiva mamata, além de parecer um escárnio/grande deboche, também será um grave abuso de poder. Digo abuso, devido ao uso de todos os meios, após duas derrotas, para barrar e recusar a solicitação de aumento de pouco menos de 34% pedidos pela categoria da educação, após quase quatro anos sem reajuste com ganho real. Digo também deboche, pelo acintosa cara de pau do governador em pedir 300% de aumento, após toda maldade que provocou, junto com a justiça mineira, quando impediu o aumento da classe educacional.
Talvez, o mesmo governador mereça um processo junto à Comissão de Ética, não apenas pelo deboche e abuso, como também por fazer pouco da inteligência da população e também por transformar assuntos sérios e responsáveis, como é o caso de polícia salarial, em um grande espetáculo que denigre o estado de MG, o cargo de governador, a casa do povo e dos deputados estaduais e a própria justiça brasileira, ao impor um aumento de 300% em um país que sofre duras penas com uma inflação pouco abaixo de 6%.
Talvez um tratamento possa ajudar ao governador voltar a realidade brasileira e deixar de se comportar como um sem noção, como deixa transparecer.

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