William Galvão: Se vivesse em nossos dias, Jesus defenderia a causa trans

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Viviany Beleboni, 26 anos de idade, desfila na Parada Gay: “Usei as marcas de Jesus, que foi humilhado, agredido e morto. Justamente o que tem acontecido com muita gente no meio [LGBT], mas com isso ninguém se choca.”

A (in) visibilidade das travestis crucificadas diariamente

por William Galvão*

Realizada no último domingo, 7 de julho, a 19ª edição da Parada do Orgulho LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) de São Paulo, cercada de polêmicas, mostrou várias facetas dentro do próprio movimento.

Desde um grupo de evangélicos com cartazes como “Jesus cura a homofobia” e “Desculpem como a igreja trata vocês” até protestos mais extremos como o caso de uma travesti pregada na cruz, simbolizando o tratamento que recebem da sociedade. “Basta de Homofobia”, dizia o cartaz acima da imagem.

Enquanto a empatia do grupo evangélico presente emocionou quem compareceu à Avenida Paulista, muitos (incluindo LGBTs) olharam com maus olhos a crucificação da travesti.

Nas redes sociais, o de sempre: a turma ultraconservadora de Marco Feliciano e companhia – que vem denegrindo a imagem dos evangélicos brasileiros diante do mundo – vociferam na tentativa de distorcer a legitimidade do protesto acusando os envolvidos de “cristofobia”, seja lá o que se entenda disso.

No momento delicado pelo qual passa o Brasil, onde a onda conservadora tem ganhado cada vez mais força, respostas e reações à altura já deveriam ser esperadas.

O maior exemplo da guinada direitista no país veio com resultado das urnas do ano passado, com um aumento significativo das bancadas de militares, fundamentalistas religiosos e ruralistas.

Temos, em 2015, o Congresso mais conservador da história desde 1964, fenômeno que faz com que projetos importantes nos avanços dos direitos humanos sejam barrados com facilidade.

A união homoafetiva, por exemplo, só é possível por conta de uma resolução do Conselho Nacional de Justiça de 2013, que obriga os cartórios de todo o país a oficializar as uniões.

A medida é um avanço, mas ainda não é possível que casais gays tenham os mesmos direitos civis que casais heterossexuais como partilhar bens de herança, receber pensão por morte do companheiro, compartilhar plano de saúde, declaração conjunta de Imposto de Renda, sem contar na adoção.

Outro projeto estacionado no Legislativo brasileiro é o que criminaliza a homofobia (PL 122), há oito anos parado.

Criminalizar a homofobia é urgente, vistos os dados alarmantes que temos de agressões e assassinados motivados por ódio contra os LGBTs.

O cenário fica ainda mais nebuloso quando o assunto é focado na população trans. De acordo com a ONG internacional Transgender Europe, o Brasil é o país onde mais ocorrem assassinatos de travestis e transexuais em todo o mundo.

Entre janeiro de 2008 e abril de 2013, por exemplo, foram 486 mortes, número quatro vezes maior que o segundo colocado, o México. O número é baseado em casos reportados, o que indica que deve ser ainda maior. No Brasil, não temos sequer órgãos governamentais que calculem essa estatística.

O que ilustra ainda melhor esse contexto é o recente caso da travesti Verônica Bolina, de 25 anos, acusada de tentativa de homicídio, que ganhou repercussão após ter sido torturada dentro do 2º DP do Bom Retiro, em São Paulo.

Ela teve fotos divulgadas na internet onde aparecia com o rosto desfigurado, os seios à mostra, mãos e pés algemados. Apesar de o caso estar sendo investigado, o despreparo dos policiais militares atrelado ao ódio de gênero mostra uma grande fissura na sociedade.

Ainda que Bolina seja suspeita, deveria ser punida de acordo com a lei democrática brasileira, não aos moldes da ditadura.

Diante desse cenário, estranhar a analogia da travesti crucificada não deveria chocar, nem mesmo os mais religiosos.

Deveríamos, sim, nos chocar com o a crucificação diária que a população trans sofre a cada esquina.

Se Jesus Cristo foi crucificado por defender trabalhadores explorados, pessoas miseráveis, prostitutas, leprosos e até mesmo quem não acreditava em suas palavras, certamente, se vivesse em nossos dias, estaria na luta pelos direitos civis LGBTs e na causa trans.

*É repórter

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Comentários

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Leo F.

Queria entender melhor alguns comentários aqui.
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Realmente entendo que o autor do texto foi presunçoso, ao tentar afirmar o que Jesus faria em termos sociais nos dias de hoje perante a população homossexual, uma vez que, talvez nem seus próprios apóstolos tenham sido capazes de entender na plenitude, os desígnios divinos divinos ou de suas palavras.
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Da mesma forma que, a mulher que praticou tal ato público da crucificação, tem de tomar cuidado ao se utilizar de uma imagem de forma a defender uma causa, sem necessariamente pensar se o ato (a crucificação de Cristo), tinha o mesmo intento. Que todos sabemos, pela ótica cristão, era levar a humindade à vida eterna.
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Mas, se admite-se que Cristo deu sua vida e Graça para o perdão dos pecadores, tendo abominado o pecado, isso automaticamente signfica que a homossexualidade é um Pecado na visão de alguns comentaristas aqui ?
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Se sim, como pode uma orientação sexual advinda de uma identidade de gênero distinta, que foge à nossa capacidade de análise psicológica ou moral, ser considerada “Pecado” pelo simples fato de não se afirmar em nosso conceito tradicional de uma suposta família ?
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Aos que invocam a Bíblia Sagrada, para determinar sua argumentação, lembro que no Antigo Testamento em passagens de Tessalonicenses haviam claramente o amparo a ideias de escravidão e exploração humanas.
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Ou seja, o texto Sagrado também o é, uma forma de visão de mundo de seus autores/profetas/santos refletida em contexto histórico e cultural diferente do nosso atual.
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Não quero aqui desautorizar qualquer um desses pontos levantados pelos amigos, mas, apenas lembrar que há valores imutáveis, pétreos, sobre os quais nos banalizamos a tanto tempo, e que não recebem o mesmo tipo de espanto religioso. Quais sejam, a perda da compaixão/empatia e de amor pelo próximo.

Renato

Se a primeira vinda de Jesus fosse hoje e não à mais de 2000 anos atrás, ele nunca defenderia a causa LGBT(casamento civil igualitário, adoção de crianças por casais homoafetivos), assim também nunca apoiaria as agressões e assassinatos sofridos por gays, lésbicas e transgeneros. E digo qual é o motivo, ele não apoia o pecado, ele o abomina.Simplesmente isso.
Em relação ao Srta. Viviany, a modelo Trans que ofendeu os valores cristãos na passeata, peço que Deus tenha misericórdia dele, pois sei que ninguém atrai a ira de Deus e fica impune. Vide por exemplo Charli Ebo e Titanic, nos tempos atuais, e Sodoma e Gomorra nos tempos bíblicos.

Lukas

Li pouco a Biblia, mas se me lembro bem, Jesus perdoava o pecador e lhe dizia Vá e não peque mais!

Talvez ele dissesse o mesmos para os gays hoje. Perdoaria seus “pecados” mas pediria que deixasse a prática homossexual.

    Mário SF Alves

    Mesma conduta talvez não fosse adotada em relação a falsos moralistas e hipócritas.

Leo

O artigo não foi feliz, pois incorre num erro clássico.
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De fato, Jesus amou e ama a todos, incondicionalmente. Ele morreu por todos nós, a fim de perdoar nossos pecados e salvar nossas almas. Mas há um porém…
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Jesus não morreu pelo pecado, já que Ele o abomina. Ele morreu em favor do pecador.
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No mais, não se pode atribuir aos evangélicos a culpa pelas agressões aos LGBT. Estas agressões ocorrem no mundo inteiro há milênios e não se dão em decorrência do evangelho. E no Brasil, não há necessidade de leis novas para criminalizar a violência a qualquer ser humano, pois elas já existem.
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William Galvão, seria preciso ler um pouco mais a Bíblia, antes de escrever seu artigo, e não se pautar pelo ativismo. Lembre-se de que Deus ama o pecador, mas abomina o pecado. Ele lutaria para convencer os LGBT do seu pecado, inclusive repudiaria todas as violências a eles, mas não abraçaria sua causa.
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Abraços.
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PS.: Procurem as fotos das cenas dessa parada, as quais não podem ser descritas neste espaço, e tirem suas conclusões sobre o movimento.

    Mário SF Alves

    “Deus ama o pecador, mas abomina o pecado…”
    __________________________
    E como é que você soube disso?
    Afinal, pecador e pecado não são parte da mesma frágil e magnífica entidade?
    Ou você acha mesmo que alguém em sã consciência [ainda que queira] consiga ser só pecado?
    Lembra o escritor francês Antoine de Saint-Exupéry, em O Pequeno Príncipe? “O interessante no deserto é que ele esconde um oásis nalgum lugar”.
    Quem ama, ama por inteiro. Ou será que – neste caso – sob o rótulo geral de “pecado” estaria algo absolutamente condenável no âmbito geral daquilo que entendemos como sendo a Humanidade?
    Desculpe. É que às vezes, não entendo os conservadores: de um lado, não apresentam solução civilizada para o ódio e a violência urbana; de outro, em igual intensidade, realimentam esse mesmo ódio ao tentar banir, negar e discriminar aspectos da sexualidade humana que nada têm a ver com ódio ou insegurança pública.
    Pensando bem, em certos aspectos, os índios é que foram e ainda são civilizados.

Mr pin

Sou agnóstico, portanto, não me prendo a argumentos religiosos, mas, ao ler o texto, digo que esse jornalista não sabe argumentar ou passar a informação de forma a melhorar a situação atual, bem como não tem qualquer autenticidade ao apresentar suas ideias. Ao expor o atual conflito de valores que vivemos, deveria colocar-se de forma racional, mas fez o contrário, escreveu o que pensa, numa escrita carregada de ideologia, e tentou reforçar seu apelo numa interpretação, demonstrando que falta seriedade sobre o que escreve. Seria algo equivalente a tentar defender políticos corruptos e no final dizer, “se jesus fosse vivo, certamente se colocaria ao lado deles, pois disse que a todos devemos perdoar incondicionalmente”. O texto fica extremamente pobre e desqualificado quando alguém usa o artifício de combater uma posição arbitrária e vazia – no caso supostamente homofóbica – usando outra do mesmo patamar. Fazer esse tipo de exposição, ainda que com base em um episódio público – “[…] Jesus Cristo […]certamente, se vivesse em nossos dias, estaria na luta pelos direitos civis LGBTs e na causa trans […] – significa substituir a figura do religioso (mentiroso), pela pessoa do jornalista e redirecionar o discurso pra outro público, tirando proveito do espaço que tem. Se considerarmos como referência somente os textos religiosos e descobrimentos históricos, chega a ser ridículo alguém criar uma ideia e imputá-la a alguém como se verdade fosse, na tentativa de tornar real aquilo que vive somente no nosso imaginário aquelas posturas ligadas as nossas preferências.

Edgar Rocha

Apoio a atitude da travesti mas, temos que admitir: Jesus Cristo tem as costas mais largas do mundo! Explico: párias, discriminados, pobres, acusados de crimes (não necessariamente culpados de algo), todos que saíam do riscado de Roma eram crucificados. Faltou madeira num certo momento, pra fazer tanta cruz (sem exageros). Antes de se comparar a travesti a Cristo, a comparação que se pode fazer deveria ser entre o sistema violento e os “valores” discriminatórios que ainda imperam no mundo atual e a carnificina implementada pelos romanos contra seus questionadores, incluindo neste meio o próprio Jesus. E isto inclui não só o assassinato, mas a exposição pública, a humilhação clara e ameaçadora diante da sociedade, como forma de coibir qualquer atitude contestatória ou qualquer diferença de pensamento em relação ao “statu quo”. Só isto já tornaria louvável e repleta de significados a imagem da travesti crucificada. Ela expõe o sistema, a parcela pré-histórica da sociedade, ao invés de desdenhar da imagem do Cristo. Afinal, não teria ela o mesmo fim desde os tempos do Messias?

Quanto aos que dizem ser uma afronta à imagem do Cristo crucificado, isto tem lógica, desde que você glorifique e exulte o ato de assassiná-lo na cruz, e não a misericórdia e o sacrifício de quem, contra a própria vontade, passou o maior dos suplícios, a fim de mostrar que o certo é ser capaz de morrer pelo próximo e não matar por si mesmo ou por uma causa qualquer. Aos sádicos que amam a crucificação e acreditam que a sacralidade está nela, que demonstrem sua devoção e seu amor por este símbolo pendurando-se pelos punhos e calcanhares num madeiro qualquer (não vale fazer de conta!), já que devem ser mais dignos de ocupar o sagrado lugar do que uma traveca herege.
Quando chegarem no Céu (se chegarem), façam o favor de não voltar, pra não dar ponto pra macumbeiros e espíritas. Amém?

FrancoAtirador

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O INTOLERANTE E HIPÓCRITA
FASCISMO PSEUDO-CRISTÃO:
(http://imgur.com/263kZmC)
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Modelo Transexual ‘crucificada’ na Parada Gay
relata Agressões e Ameaças, inclusive de Morte:
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“Muito obrigada por todos os agradecimentos,
porém o negócio está ficando sério,
recebendo ligações de morte e agressões
inúmeras em minhas fotos e por inbox”,
disse Viviany Beleboni, nas Redes Virtuais.
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(http://jornalggn.com.br/blog/spin-ggnauta/transexual-crucificada-na-parada-gay-sofre-ameacas)
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Raymundo Júnior

A causa não.
Mas as pessoas LGBT, sim.
Inclusive, e a propósito, digo ainda que Ele morreu por causa dos pecados destas pessoas.
Mas não, Ele não morre mais.
E virá em glória.

Paulo Guedes

Não misture o sacro com o profano.
Jesus NUNCA – mostre-me no Novo Testamento – comportamentos. Sempre defendeu o respeito ao indivíduo frente à hipocrisia – foi assim no caso da mulher adúltera ( a Lei determinava que homem e mulher adúlteros deveriam ser apedrejados).
E respeito nunca significou aceitação automática de posturas sócio-comportamentais diferenciadas. O Cristo aceita o pecador, nunca o pecado, pois foi para livrar-nos deste que se ofereceu em sacrifício vicário.
A Bíblia – e nela creio sem ressalvas – diz que Deus criou homem e mulher. As múltiplas sexualidades são criação humana decorrentes de um culto ao corpo que dessacraliza o indivíduo para entregá-lo a práticas que o apequenam e afastam de Deus.
Cristo, HOJE, continua amando e defendendo o indivíduo de ações hipócritas. Os comportamentos que as geram continuam a sangrá-lo na cruz.
Simples assim.

Caracol

Não daria tempo.
Se Jesus reaparecesse em nossos dias ele seria imediatamente metralhado.

    Leo

    Ele reaparecerá, mas não será metralhado. Na primeira vez Ele foi humilhado, morto, mas ressuscitou. Quando reaparecer, virá em glória e, dessa vez, não será mais escarnecido, tampouco sofrerá agressões.
    .
    Abraços

    Caracol

    Gostaria que você tivesse razão, Leo. Pelos preceitos ORIGINAIS de Cristo eu garanto, o que não garanto é pelos vendilhões do Templo: naquela época eles eram camelôs, hoje o shopingue é o próprio templo.
    Tem muito mais vendilhões do Templo do que fiéis. Aliás… só vejo vendilhão do Templo pra tudo quanto é lado. A Sociedade não se transformou em “Mercado”?

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