Washington Araújo: E se as Genis exigirem respeito à sua privacidade?

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Manda recolher! E pergunta à família do Médici se aprova aquela biografia…

“Impeça Saber” seria melhor que “Procure Saber”

por Washington Araújo, via e-mail

A pendenga das biografias autorizadas e as não-autorizadas continua a render amplo noticiário. Todos são favoráveis à mais ampla liberdade de expressão?

São, mas com uma ressalva. E a ressalva é  de um cabotinismo atroz: desde que essa liberdade não prejudique a imagem que a história reservará para essa ou aquela celebridade.

A organização Procure Saber, encabeçada por Paula Lavigne e, pelo jeito, escudada pela fama de seus representados – gente famosa do naipe de Milton Nascimento, Caetano Veloso e Chico Buarque – é nada mais que o avesso do avesso em se tratando de busca da verdade.

Seria mais apropriado que se chamasse “Impeça Saber”.

Porque é isso que a citada instituição procura fazer: impedir que o público leitor de biografias saiba da vida real, da vida tal como é, de seus ídolos, seja dos esportes, seja das artes, seja da política.

E impede de forma acintosa: (1) biografia precisa ter prévia anuência do biografado e (2) biografados devem receber parte dos possíveis lucros comerciais advindos com sua publicação.

No primeiro aspecto fica patente que “conseguir anuência prévia do biografado” nada mais é que liberar a mais despudorada avalancha de elogios, bom-mocismo, e dar relevo a tudo quanto coloque o biografado “bem na foto e bem no painel da História”.

Desaforos e despautérios, falas, gestos, atos ou mesmo decisões consideradas impensadas com o decorrer do tempo em que aconteceram, se protagonizadas por gente famosa provavelmente serão aniquiladas ainda no nascedouro da biografia.

E o público-leitor ficará ignorante sobre a falibilidade humana de seus ídolos, sobre as páginas menos lisonjeiras da vida de seus artistas, pensadores, filósofos, autores, profissionais preferidos e admirados.

E se um desses ídolos, mal acostumados com o despejo indiscriminado de elogios e loas, de repente for apresentado ao público por outro viés, não menos verdadeiro que as bases que lhes granjearam a admiração, aí o trem em busca da verdade descarrila de vez.

Seria o caso de um biógrafo sério e competente, esforçado e meticuloso, deparar com declarações do biografado em favor do nazifacismo, em favor de Hitler, Franco ou Idi Amin Dada, ou seu apoio financeiro através de laranjas para o aparato de segurança dos longos períodos ditatoriais em que mergulhou o Brasil tantas vezes?

Será que tais descobertas deveriam continuar encobertas ante olhares de outrem?

Ou deveria valer apenas este tipo de pacto em que “só deixo saber de mim o que me interessa, me promove, me mitifica”, só aprovo incluir em minha pretensa biografia fatos, atos e informações que me deixem circundado por anjos e arcanjos, que me concedam a aura de gênio da raça e de raro luminar da humanidade.

Parece que a pergunta que merece ser respondida é uma só: por quê tenho medo de lhe mostrar quem sou?

É óbvio que se nada tenho a esconder, se me portei como humano – e não como semideus – ao longo de minha vida, nada deveria a temer. Quem não erra? Quem não se equivoca? Quem não troca os pés pelas mãos de vez em quando?

Quem não se arrepende de ter apoiado uma causa que, antes, honrada, caiu em desgraça ante a inesperada publicidade de sua podridão moral? Mas as celebridades se acostumaram por tempo demasiado a conviver apenas com os bônus da fama.

Fogem do ônus como o Super-Homem foge da criptonita. E o diabo foge da cruz.

Pelo jeito, as personalidades com potencial para serem objeto de biografia, passarão a fugir de biógrafos sérios e independentes como quem foge da própria sombra, sombra que impediu que jorrasse luz sobre aspectos menos edificantes (ou admiráveis) de sua vida pública, de sua arte publicitada.

No segundo aspecto, o de querer auferir lucros comerciais com a venda de livros biográficos, a situação chega a ficar patética, para não ficar apenas no ridículo em que a situação foi posta pela Procure Saber.

Como assim? Além de lutar para que se publique apenas o que se encaixa em seu modo de ver a própria vida, em sua maneira de se enxergar bem nas páginas da história, o biografado ainda se sente no direito de abocanhar algumas míseras fatias de um possível lucro financeiro devido ao autor da biografia e a todas as engrenagens da produção, edição, distribuição e comercialização da mesma?

São duas coisas que não convém convidar para a mesma mesa: direito à privacidade e direito a lucros comerciais.

Não seria o caso de uma biografia que venha a receber o Imprimatur ou o Nihil Obstat do biografado receba a tarja negra na capa e na lombada com este dístico “Biografia aprovada integralmente pelo autor”?

E como seria salutar se essas fossem abatidas ainda no processo de produção e, caso sobrevivesse a tal dispendioso processo, ficasse encalhada em livrarias!

Ao mesmo tempo, seria bem interessante que puluassem na Grande Teia da Web as biografias-ninjas, aquelas biografias que não apenas contemplassem os elevados picos de beleza artística e de fatos edificantes quais marcos civilizatórios do estado d’arte, mas também que mergulhassem a fundo nos imensos abismos e de cujas funduras os biografados tanto gostariam de manter longe dos olhos do público.

Aí sim, teríamos o salutar equilíbrio. Do contrário, estaríamos criando uma espécie de Biograbrás, a hipotética entidade responsável por despejar no mercado livreiro um sem número de biografias chapas-brancas.

Considero Chico Buarque o melhor compositor brasileiro de todos os tempos. Coleciono sua obra musicial em vários formatos – livros, discos, cds, dvds, filmes.

Admiro suas posições políticas tanto no período em que se levantou contra a ditadura militar que tomou de assalto o país quanto do período pós-democratização.

Entre Chico e Caetano não tenho dúvida alguma: é o Chico.

Entre a Rede Globo e o Chico. Chico novamente.

Entre Veja e o Chico. Dá-lhe Chico de novo.

Aprecio a totalidade de sua obra, com algumas canções tenho verdadeiro caso de amor (Sem fantasia, Tatuagem, ConstruçãoCotidiano, Vai passar, Paratodos) e com outras aprecio a inteligência afiada, apurada, a antena conectada com o seu tempo, mas discordo de sua letra. É o caso de Geni e o Zepelim.

A história é fantástica, a construção melódica também. Mas o refrão é bastante infeliz. E por quê é infeliz?

Por que existem milhares de mulheres no Brasil e no mundo que tem como nome próprio Geni. É que ninguém em sã consciência gostaria de ser alvo de bullying de conhecidos e desconhecidos com o tirano refrão “joga pedra na Geni, joga bosta na Geni, ela é feita pra apanhar, ela é boa de cuspir, ela dá pra qualquer um, maldita Geni”.

Como se sentem as Genis quando ouvem nas rádios essa música? E, se com a família reunida, em uma noite prosaica de domingo, a dona Geni com a filharada em volta assiste na tevê um especial sobre o Chico e neste está escalada Geni e o Zepelim?

Não seria o caso de as Genis exigirem respeito à sua privacidade?

Não seria o caso de as Genis exigirem que os lucros advindos com a comercialização desta música em particular lhes fossem distribuídos equitativamente a título de ressarcimento por danos morais?

O que a Procure Saber tem a dizer sobre isso e sobre tantas outras obras artísticas que afrontam a dignidade humana?

Por exemplo, há  algum tempo nutro o desejo de escrever a biografia do Chico, afinal, material não me falta e interesse também não.

Mas jamais faria se para tanto tivesse que submeter o texto à sua autorização antes da publicação. Isto implicaria em me manietar intelectualmente, em me podar artisticamente.

Antes de entrevistar esta ou aquela pessoa que com ele conviveu, pensaria duas vezes, “será que o Chico aprovaria” que eu entrevistasse essa pessoa para falar de sua vida, de sua arte? Por exemplo, penso aqui em José Ramos Tinhorão. Chico aprovaria?

Existem posturas e posturas. Vejamos o caso do Paulo Coelho. Fernando Moraes escreveu uma alentada biografia sobre ele. Contou com o apoio do biografado, teve acesso a material inédito de valor incomparável para compor seu painel biográfico.

Assim surgiu, pela Cia das Letras “O Mago”.

Muita coisa ali é dita: experiências místicas-espirituais, esperiências homossexuais, experiências com drogas leves e pesadas, descrédito junto a escritores renomados e também junto a editoras comerciais, ridicularização na imprensa, menosprezo por gente da Academia Brasileira de Letras (instituição em que Coelho agora integra os quadros como imortal).

Será que, sendo um dos representados pela Procure Saber, o público teria acesso à vida do Paulo Coelho de corpo inteiro? Entraria apenas o lado luz? Seria vetado o lado sombra?

Minha posição é  clara: liberdade total de pensamento aos biógrafos.

E um conselho a estes: sejam práticos – risquem para sempre os nomes dos que apoiam ou integram a despropositada Procure Saber, risquem seu nomes de fututors projetos biográficos; e, obviamente, continuem seu trabalho pesquisando, compondo e produzindo apenas biografias dos que são a favor de liberdade de expressão, conforme rege a Constituição Federal do Brasil.

Decisões assim pautadas resultariam melhores para todos – biógrafos e biografados – se por um lado os biógrafos poderão trabalhar, produzir e ser remunerados em paz, sem questionamentos judiciais (apenas por alguma eventual divergência ou excesso); e os leitores sempre teriam ao alcance dos olhos biografias honestas e na íntegra, sem censura prévia.

E caso faltem personalidades brasileiras para biografar não faltarão personalidades estrangeiras, e de quebra, como escreveu um leitor, “vocês contribuirão para aumentar a cultura internacional do brasileiro leitor!”

E passo a régua no assunto.

Publique-se.

Leia também:

Chico Buarque admite que errou; ação do Procure Saber criticada


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Comentários

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Elias

Nenhum dos nomes que encabeçam o Procure Saber me frustrou mais do que Chico Buarque. E nessa frustração, nesse espanto não estou só. Muitos admiradores de Chico pasmaram-se ao vê-lo nesse imbróglio. Espero que o Procure Saber acabe sabendo que não passa de uma canoa furada. E isso se dará dentro de um mês, no STF, cuja relatora será a ministra Carmem Lúcia.

Carlos Lima

Azenha, não que este e outros assuntos não mereçam serem discutidos, mas hoje por exemplo o BOLSA FAMÍLIA esta sofrendo um ataque violentíssimo nos portais. O portal TERRA por exemplo estampou em letras garrafais que foram gasto 105 bilhões para nada, Volto a insistir como insistir, na época das manifestações os blogs progressistas estão discutindo a pauta que a direitona atiça e assim eles andam livres com os boletins da oposição nos principais portais. Hoje por exemplo é ataque ao Bolsa Família e Petrobras, usando um artigo do FT, jogaram a Petrobras no lixo, enquanto isso ficamos discutido chiliques de cantores milionários, a eleição já começou, e essa é extremamente perigosa, pois estão jogando sujo e colocando o povo uns contra os outros para tirarem proveito eleitoral, quem vai na frente bebe água limpa.

Mardones

Chico mostrou que é mortal. No pior dos sentidos. Juntou-se a gente como Caetano e Roberto Carlos nessa história de autorização para divulgação de biografias. Errou e precisa pagar.

Concordo que ele é o cara da composição nacional. Não tem páreo. Nem em Minas, nem na Bahia.

Contudo, defender a ideia castradora da patotinha do Procure Saber é o fim!

Imagina pedir autorização aos generais vivos da ditadura de 1964 para escrever sobre as torturas. k k k k k.

Chico, você perdeu. Você esqueceu que biografias não se resumem às vidas de gente como Roberto Carlos, mas vc tem todo o direito de expressar as suas ideias sobre esse tema, pois foi por isso que vc e muitos lutaram. E isso é de ouro.

Daniel

Direto ao ponto. Dar o direito à terceiros de fazer “biografias não-autorizadas” é dar o direito do sujeito falar o que quiser sobre o “biografado”, POR MAIS QUE SEJA MENTIRA ENCIMA DE MENTIRA.

Qualquer um pode escrever em um livro as maiores asneiras e então dizer que é “tudo a mais pura verdade” e então dizer que é a “biografia” de quem ele quiser. Liberdade de expressão é importante, mas essa liberdade se não for acompanhada da FUNDAMENTAL RESPONSABILIDADE vira em bandalheira.

Fabio Passos

É proibido proibir!

Francisco

“O Brasil não tem memória!”

“Comissão de Verdade para quê?”

“Educandário Costa e Silva.”

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Qualquer pessoa que tenha cursado universidade digna do nome sabe que ciência se faz com provas.

Todo trabalho acadêmico pode ser publicado sem censura alguma (salvo nas ditaduras…) por que lhes é inerente provarem o que afirmam.

A prova pode ser uma entrevista, uma foto, uma gravação, uma declaração de um estudioso de um determinado assunto. Tudo isso é prova academicamente aceita. No mundo todo.

No caso de um biografado achar que o autor de um trabalho não se isenta por citar como fonte uma vizinha abelhuda, então, que em juízo o autor mostre a assinatura da vizinha dando fé do que ele cita.

Se não tiver o que mostrar, que seja processado. Se tiver, que se processe a vizinha!

O que não pode é um país inteiro ficar sem livros didáticos que prestem, sem saber quem foi Fleury, sem saber quem são (de fato) os Marinho e sem saber porque não podemos ter ruas, praças e avenidas homenageando o heroico Costa e Silva!

E não poderíamos porque? Porque algum autor vá mencionar que algum cantor brasileiro fez orgia, cheirou ou teve um caso gay!!?

É muita pretensão imaginar que rasgar os lacres do regime militar é somente para mexericar algum prepotente de autoestima turbinada!

Duas nações indígenas forem exterminadas, a Lei Fleury ainda permite que assassinos saiam pela porta da frente da cadeia, um monopólio midiático que só pode ser classificado como soviético impede qualquer debate sério no país… o país tem mais sobre o que ler do que se fulano beijou sicrano.

Que se danem, o país é bem maior.

Hortência Gualberto

Sem dúvida voltamos à época da Pedra Lascada, quando não havia biografias, ou os da ONG dos Intocáveis acham que não? Ora, pra frente é que se anda…

José X.

Esse negócio de querer proibir biografia não autorizada é tão ridículo que nem vale a pena discutir. Aliás, alguns artistas estão queimando suas biografias ao apoiar essa proibição.

    Daniel

    Irei fazer uma “biografia não-autorizada” sobre você, e aí você irá entender facilmente porquê é um problema essa questão.

FrancoAtirador

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Saiba como funciona a legislação sobre biografias no Brasil

Leandro Melito – Portal EBC

O atual movimento de parte da classe artística para limitar a publicação de biografias no Brasil reacendeu o debate sobre o assunto.
Atualmente, o Código Civil brasileiro permite livros e filmes biográficos somente com autorização do personagem ou de sua família, no caso de pessoas mortas.
Se o biografado ou sua família entenderem que houve dano à honra em uma publicação, pode recorrer à Justiça e tirá-la de circulação.

A necessidade de pedir autorização para publicar uma biografia tem causado dificuldade para biógrafos publicarem seus livros, sendo um dos casos mais notórios o da obra Roberto Carlos em Detalhes, escrito por Paulo Cesar Araújo.
O livro foi lançado em 2006 pela editora Planeta, mas recolhido das livrarias após uma decisão judicial que atendeu o pedido do biografado.

Esse tipo de decisão judicial levou a Associação Nacional de Editores de Livros (Anel) a propor ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma ação intitulada Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) [, tendo como objetivo permitir a publicação de biografias sem autorização do biografado.

Do outro lado, um grupo de artistas tenta impedir a aprovação da Adin. A Associação Procure Saber, que se define como “um grupo de autores, artistas e pessoas ligadas a música dedicado a estudar e informar os interessados e a população em geral sobre regras, leis e funcionamento da indústria no Brasil”, defende a necessidade de que as biografias sejam previamente autorizadas.
Em contrapartida, outros artistas como Alceu Valença vieram a público defender a livre publicação de biografias.

Tendo como diretora a produtora Paula Lavigne e o apoio de alguns artistas de peso do cenário nacional, a associação poderá participar do julgamento da Adin na condição de amicus curae, termo jurídico utilizado para denominar pessoas ou entidades legalmente constituídas interessadas no julgamento do tema em análise.

Lei das biografias

Além do âmbito da Justiça, o embate sobre a lei das biografias acontece também no Legislativo. Um projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional pode mudar a situação das biografias não autorizadas. O PL 393/11, de autoria do deputado Newton Lima (PT-SP, prevê a execução de filmes e publicação de livros biográficos sem a necessidade de autorização prévia do biografado ou de sua família.

O projeto permite a divulgação de imagens e informações biográficas sobre personagens públicos, definidos no texto como “pessoa cuja trajetória pessoal, artística ou profissional tenha dimensão pública ou esteja inserida em acontecimentos de interesse da coletividade”.

Aprovado em dezembro de 2011 pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, o projeto recebeu parecer favorável também da Comissão de Constituição e Justiça em abril deste ano e aguarda deliberação da Mesa Diretora da Câmara em relação a um recurso apresentado.

(http://www.ebc.com.br/cultura/2013/10/entenda-a-polemica-das-biografias)

Leia também:
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Presidente do STF defende publicação de biografias não autorizadas

(http://www.ebc.com.br/noticias/brasil/2013/10/presidente-do-stf-defende-publicacao-de-biografias-nao-autorizadas)
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No Brasil, famosos renunciam a parte da vida privada

Por Otavio Luiz Rodrigues Junior, no sítio da ConJur

(http://www.conjur.com.br/2012-jul-25/direito-comparado-brasil-famosos-renunciam-parte-vida-privada)
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A prévia censura às biografias: Solução inconstitucional para um problema real

Por Marcelo Proença, no Portal Migalhas

(http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI188456,41046-A+previa+censura+as+biografias+Solucao+inconstitucional+para+um)
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Parecer do MPF na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.815

(http://noticias.pgr.mpf.mp.br/noticias/noticias-do-site/copy_of_pdfs/ADI%204815.pdf)
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A honra como objeto de proteção jurídica

Por Rosalliny Pinheiro Dantas, no Portal Âmbito Jurídico

(http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11017&revista_caderno=9)
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JURISPRUDÊNCIA STF E STJ

STF

Crime contra a honra e a vida política

“É certo que, ao decidir-se pela militância política, o homem público aceita a inevitável ampliação do que a doutrina italiana costuma chamar a zona de ‘iluminabilità’, resignando-se a uma maior exposição de sua vida e de sua personalidade aos comentários e à valoração do público, em particular, dos seus adversários;
mas a tolerância com a liberdade da crítica ao homem público há de ser menor, quando, ainda que situado no campo da vida pública do militante político, o libelo do adversário ultrapasse a linha dos juízos desprimorosos para a imputação de fatos mais ou menos concretos, sobretudo se invadem ou tangenciam a esfera da criminalidade”.
(HC 78426 SP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento 16/03/1999, 1ª Turma, DJ 07-05-1999. Acórdão citado: Inq 503/RJ QO, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento 24-6-1992, Plenário, DJ 26-3-1993)

“Ofensas proferidas que exorbitam os limites da crítica política:
publicações contra a honra divulgadas na imprensa podem constituir abuso do direito à manifestação de pensamento, passível de exame pelo Poder Judiciário nas esferas cível e penal.”
(AP 474, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento 12-9-2012, Plenário, DJE 7-2-2013.)

STJ

“… não é possível aceitar-se a aplicação da tese segundo a qual as figuras públicas devem suportar, com ônus de seu próprio sucesso, a divulgação de dados íntimos, já que o ponto central da controvérsia reside na falsidade das acusações e não na relação destas com o direito à intimidade do autor. Precedente. Recurso Especial conhecido e provido.” (Resp n. 1025.047/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, j. em 26.6.2008, Dje de 5/08/08)

“A amplitude de que se utilizou o legislador no art. 5º, inc. X da CF/88 deixou claro que a expressão ‘moral’, que qualifica o substantivo dano, não se restringe àquilo que é digno ou virtuoso de acordo com as regras da consciência social.
É possível a concretização do dano moral, posto que a honra subjetiva tem termômetro próprio inerente a cada indivíduo.
É o decoro, é o sentimento de auto-estima, de avaliação própria que possuem valoração individual, não se podendo negar esta dor de acordo com sentimentos alheios.
A alma de cada um tem suas fragilidades próprias.
Por isso, a sábia doutrina concebeu uma divisão no conceito de honorabilidade: honra objetiva, a opinião social, moral, profissional, religiosa que os outros têm sobre aquele indivíduo, e, honra subjetiva, a opinião que o indivíduo tem de si próprio.
Uma vez vulnerado, por ato ilícito alheio, o limite valoração que exigimos de nós mesmos, surge o dever de compensar o sofrimento psíquico que o fato nos causar.
É a norma jurídica incidindo sobre o acontecimento íntimo que se concretiza no mais recôndito da alma humana, mas o que o direito moderno sente orgulho de abarcar, pois somente uma compreensão madura pode ter direito reparável, com tamanha abstratividade”.
(Resp.270.730/RJ, rel. Min. Fátima Nancy Andrighi. j. 19.12.00, DJU 7.5.01, p. 139)
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Karl

CONSTITUIÇÃO FEDERAL – Art. 5o.

Atenção aqui: Em carater pessoal(não empresarial), tudo é “livre” em termos. DESDE QUE NÃO FIRA O “X”(esse é o X da questão)

IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

Atenção aqui: ESSE É O “X” PÉTREO DA QUESTÃO “SÃO INVIOLÁVEIS…”:

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

Sérgio Pestana

Gostaria de saber se o conglomerado Globo deixaria publicar uma biografia real e verdadeira sobre seu fundador Roberto Marinho? Este grupo tão defensor da “liberdade expressão” (quanto cinismo!!!)como se sentiria agora em defender a proíbição dessa suposta biografia? Seus acólitos estão numa sinuca de bico fazendo malabarismos para justificar essa ação. A biografis escrita pelo Pedro Bial não vale nada, até por que como empregado subalterno não teria como não elogiar o golpista-mor. E mais: escreveu com fervor patriótico. Elogiou a figurinha com os melhores adjetivos esse tenebroso personagem, patrocinador que foi dos maiores malefícios, golpes, deturpações, mentiras contra o Brasil.

    Marecelo de Matos

    Muito bem lembrado. A biografia “póstuma autorizada” de Roberto Marinho, como foi chamada, enquadra-se naquilo que Stanislaw Ponte Preta chamava de “puxa-saquismo desvairado. Os poderosos não permitem que se publiquem biografias não autorizadas. Sarney só permitiu o “Honoráveis Bandidos” para não ser tachado de censor.

    lukas

    Por ser chapa branca, a biografia feita pelo Bial não teve repercussão, nimguém sabe, ninguém leu, ninguém lembra. Entendeu como é ruim uma biografia autorizada?

    Da mesma forma, o filme do Lula é chapa branca, e também muito ruim.

zé eduardo

Nossa, que festival de meio-argumentos! É evidente que só podem fazer uma biografia minha se eu autorizar e receber parte dos lucros. Mas isso não é novidade, já é assim. Essa ‘polêmica’ é falsa. Pelo que entendo, o movimento atual apenas tenta evitar oportunismos de terceiros sobre fatos da intimidade de terceiros, e tirar lucro com o nome de ‘famosos’.
Por óbvio não estamos falando dos dados e atos públicos de um indivíduo, mas de sua privacidade, que só deve e pode ser revelada se assim lhe aprouver.
Que fatos ‘históricos’ tão importantes seriam estes relativos à vida privada de alguém, afora a curiosidade? Se tais ‘atos e fatos’ forem tão reveladores, que componham as biografias dos partícipes nos mesmos e que tiverem interesse em relatá-los. Fora disso, trata-se de desejo malévolo e da pior indiscrição de conhecer particularidades da vida alheia. Se um sujeito é canalha, não é preciso ler sua ‘biografia’: documentos históricos e suas práticas públicas o revelam.

    Marecelo de Matos

    Apoiado!

HUGO PORTELA

A primeira vez que ouvi sobre esse movimento encabeçado pela Paula Lavigne, achei que era boato. Artistas como Caetano e Gilberto Gil jamais deveriam concordar com essa insanidade. Estamos falando de ofensa ao coração da democracia: A LIBERDADE DE EXPRESSÃO!

Edson

Apesar de voces amanhã há de ser outro dia . . . . em frente biógrafos . . .

Miranda

Finalmente li algo esclarecedor sobre a grande polemica das biografias nao autorizadas. Para o Chico e todos os outros grandes que se posicionaram contra, relaxem, que uma besteira aqui e outra ali so nos torna mais humanos. Quanto aos lucros, se os escritores estivessem ficando ricos, não haveria tanta procura pelas escolinhas de futebol.

Valmont

Também sou admirador da vida e obra de Chico Buarque, mas acho que ele se equivoca em apoiar movimento tão retrógrado, contrário à liberdade de expressão.

É evidente que ninguém apoia a publicação de mentiras ou calúnias sobre quem quer que seja. Mas a vedação a priori de qualquer obra biográfica é um absurdo, uma jabuticaba, coisa que só se vê no Brasil!

George Orwell deu uma lição ao mundo, quando disse: “Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade.”

Espero que Chico mude de opinião sobre este assunto, pois é uma grande decepção vê-lo defender o indefensável.

A norma confirma que a tão propalada LIBERDADE DE EXPRESSÃO, no Brasil, é propriedade exclusiva dos barões da mídia e de seus bajuladores mercenários.

Eneas

Essa é fácil de resolver. Publica-se nos EUA e vende para o Brasil pela Amazon…rsrsrsrs

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