Túlio Muniz e Geddel: um terço dos moradores de Salvador vive em favelas

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E todos nós, como ficamos nessa?

Por Túlio Muniz*

“E eu, como é que fico nessa?”, teriam sido as palavras do Secretário de Governo – ante sala da Presidência da República­ –, Gedel Vieira Lima, lamentando ao demisionário ministro da Cultura o embargo da obra na qual ele, Gedel, investira mais de R$ 2 milhões.

O episódio é típico do país do patriarcalismo coronelista (o caudilhismo típico do Brasil), e obriga a inversão da indagação de Geddel, o que deveria ser feito tanto por ele quanto por todos os gestores baianos: “E a população, como fica nessa?”

Nessa “ponta do iceberg da especulação imobiliária”, como bem observou Luiz Carlos Azenha.

Pesquisas recentes apontam dois dados trágicos.

Manchete do jornal A Tarde (Salvador), 14-11-16: “22,5 mil vivem na rua em Salvador”, dados contestados pela Prefeitura (comandada por ACM Neto, reeleito com 74% dos votos).

Outro dado, do IBGE, de 2011 e confirmado neste ano: mais de 880 mil pessoas vivem em favelas, quase um terço da população da terceira mais populosa capital do Brasil.

As fotos em anexo, que fiz na última sexta-feira, 18, demonstram o contraste social em Salvador.

Abaixo do trecho elevado da via expressa do Contorno, está encravada a ‘comunidade’ (eufemismo brasileiro para favela) da Gamboa, na qual vivem muitas famílias de pescadores artesanais.

Acima, estão os primeiros edifícios da margem direita do Corredor da Vitória, sendo o primeiro deles o famoso ‘prédio da Ivete Sangalo’, que, como muitos outros prédios vizinhos que, via ascensores/teleféricos, têm acesso ao mar e a cais privativos.

Um trágico recorte da realidade social em Salvador.

Por ocasião deste 20 de Novembro, dia de Zumbi e da Consciência Negra, os contrastes imobiliários e habitacionais em Salvador devem levar ao questionamento da aceitação da subalternidade que é cúmplice do modelo branco de dominação, reproduzido mesmo entre muitas lideranças políticas negras ao centro e à direita – a atual secretária nacional a Igualdade Racial é baiana, e aceitou o cargo que já teve status de ministério mesmo apos ter criticado a ausência de mulheres e negros no primeiro escalão de Temer, Geddel e Padilha.

Talvez isso colabore na compreensão de como ACM Neto conseguiu ser reeleito com 74% dos votos na mais negra das capitais (80% da população se auto declara negra).

*Túlio Muniz, jornalista profissional, historiador, professor da Unilab no Campus dos Malês-BA

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