Heleno Correa: Importar lixo pode transformar Brasil em latrina da Europa e EUA

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Apreensão no terminal gaúcho de Rio Grande. (RS) Importação de resíduos foi proibida pela Lei 15.088/2025. Incineração não é a solução. Fotos: Sul 21, Fotos Públicas e Racismo Ambiental

Importar lixo pode transformar Brasil em latrina da Europa e EUA

Sob pressão dos catadores, presidente Lula determinou a revogação do decreto que permitia a importação de resíduos. Mas guerra não acabou: incinerar não é a solução

Por Heleno Correa Filho*, no site do Cebes

Este artigo nasceu da minha indignação com um vídeo (veja ao final) postado nas redes sociais recomendando incinerar lixo no Brasil. 

A incineração é uma falsa solução que o Fundo Monetário Internacional (FMI) já tentou impor ao Terceiro Mundo no início do século XXI fazendo venda casada de “financiamento de socorro” aos países cuja burguesia endividou o estado para sugar juros do Estado.

Os países submissos compram usinas pré-fabricadas e desmontadas guardadas nos portos do Japão, Filipinas e Roterdam com o mesmo “financiamento” de dívidas nacionais, de modo que a moeda verde nem sai dos cofres dos bancos que “emprestam”.

A “solução” é também associada à abertura dos portos para a compra de lixo internacional que os vendedores não desejam tratar por que são altamente poluentes (Chile-deserto de Atacama) ou de recondicionamento antieconômico.

Resulta que Lula em 2004 conseguiu sair do anel da jibóia. A Lei 15.088/2025, sancionada em 6 de janeiro de 2025, proíbe a importação de resíduos sólidos e rejeitos no Brasil.

Agora, em maio, saiu um decreto permitindo a importação de lixo em contêineres. Houve protestos, e o decreto foi anulado.

A guerra não acabou. Podemos nos tornar a latrina da Europa e dos EUA, com a máfia italiana e fascista intermediando as compras, subornando governos, controlando navios de transporte e eliminando ambientalistas.

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O produto da incineração de derivados plásticos, especialmente de frascos hospitalares é epidemiologicamente conhecido.

Os furanos, dioxinas, e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs) gerados na queima de lixo não podem ser contidos por filtros, colunas de água, banhos químicos ou retratamento.

Vão para os corpos de água potável e sobem com as nuvens para chover em cânceres que nossos avós não conheceram, matar bebês de leucemia e cânceres de tireóide, ovários e testículos.

Meninas e meninos desenvolverão genitálias ambíguas, puberdade precoce, defeitos de reprodução (fatos verificados no acidente de Seveso-Italia).

A borra negra petrificada gerada no fundo das fornalhas exige tratamento de lixo nuclear, e mesmo assim vaza e contamina o solo por milênios. Não tem “tratamento”. Por isso a Europa e o Japão querem exportar o lixo sem reciclar. É mais fácil queimar no país dos outros.

Tudo isso para o lucro de meia dúzia de homens iguais aos que “compraram” a Eletrobrás e deram o calote de 40bi nas lojas Americanas.

O Brasil já teria usinas de queima de lixo tóxico em Americana por “empréstimo” brasileiro contraído em 1986.

Ficamos livres por acidentes da política internacional. Não à queima e à importação de lixo!

Não precisamos reciclar a Merva dos outros, nem devemos mais ao FMI. Não aos propagandistas da desgraça.

* Heleno Correa Filho é médico sanitarista, doutor em Saúde Pública (USP) e integra o Conselho Consultivo do Centro Brasileiro de Estudo de Saúde (Cebes). 

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