Governo se vinga de cineasta por protesto contra o golpe em Cannes; “que os amigos de Temer sejam os grandes autores do cinema brasileiro”, diz Anna Muylaert
Tempo de leitura: 3 min
por Kleber Mendonça Filho, no Facebook
Soube aqui no Festival de Toronto da decisão via Ministério da Cultura de não indicar Aquarius como candidato brasileiro ao Oscar.
[Nota do Viomundo: O indicado foi um filme sobre a família Schurmann]
Estou numa tarde de entrevistas e já vendo o tipo de reação que tem surgido na imprensa e redes sociais.
É bem possível que a decisão da comissão esteja em total sintonia com a realidade política do Brasil, ou seja, é coerente e já esperada.
Para além de decisões institucionais via Governo Brasileiro, Aquarius tem conquistado internacionalmente um tipo raro de prestígio, e isso inclui distribuição comercial em mais de 60 países enquanto já se aproxima dos 200 mil espectadores nos cinemas brasileiros, com um tipo de impacto popular também raro.
Mais ainda, é um filme que já faz parte da cultura e desse tempo, num ano difícil no nosso país.
No final das contas, Aquarius é um filme sobre o Brasil, que está no filme da maneira mais honesta possível.
Talvez seja exatamente esta honestidade que tenha feito de Aquarius um filme forte como agente cultural, social e produto da nossa indústria do entretenimento.
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Sonia está aqui do lado, poderosa como Clara. Ela manda beijos! (Toronto, 12 Setembro 2016)
por Anna Muylaert, no Facebook
É natural imaginar que Kleber Mendonça Filho esteja agora chateado com esse golpe relativo a escolha de um outro filme para comissão do Oscar.
Imagino que esteja mesmo. Mas do meu ponto de vista o maior prejudicado não foi nem é Kleber e sua equipe e sim o cinema brasileiro.
Houve sim uma grande batalha nos últimos anos em várias esferas, Ancine — Manoel Rangel e Eduardo Valente sem falar do Cinema do Brasil — pessoas e entidades que vem lutando tanto pela qualidade do cinema brasileiro quanto por sua visibilidade no exterior.
Ora Kleber Mendonca fez um filme — goste-se ou não — importante, extremamente bem dirigido e que conquistou uma vaga na competição de Cannes — a mais difícil do mundo.
Alem disso, está tendo sucesso de publico e de critica no seu país de origem.
Escolher outro filme para representar o Brasil agora — um filme que ninguém viu — não é apenas uma derrota para Aquarius–Filme , é antes de tudo uma mudança de rumo nos paradigmas de qualidade que viemos construindo todos nós juntos há anos.
O que esperar do futuro? Que os amigos de Michel Temer sejam daqui pra frente os grandes autores do cinema brasileiro — independentemente de sua qualidade ou mesmo de sua representatividade junto ao público?
A resposta é triste e é: provavelmente sim. Com esta escolha de hoje, enterramos muito mais que um filme.
Enterramos um paradigma de qualidade e legitimidade para o cinema brasileiro.
Quando se está vivendo sob a égide de um golpe nacional, porque haveria de ser diferente com o cinema?
Saiu a versão oficial: Aquarius foi preterido porque Sônia Braga deu pedaladas fiscais.
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