Gisele Cittadino: “O Globo aplicou pequena dose de veneno para ter chance de resistir a uma picada mortal”
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Gisele Cittadino: “Está cada vez mais difícil negar que [grande imprensa brasileira] atua como um ator político de oposição ao governo federal”
por Conceição Lemes
No sábado passado, 14 de março, a manchete da capa da versão impressa de O Globo foi: Lista do HSBC tem empresários de mídia. Sem o mesmo destaque, o Globo On-Line postou a matéria na capa.
Levantamento feito pelo jornal carioca, em parceria com o UOL, com base nos documentos oficiais vazados pelo ex-funcionário do HSBC na Suíça, indica que, há, pelo menos, 22 donos de veículos de comunicação e sete jornalistas entre os 8.667 brasileiros que, em 2006 e 2007, tinham contas numeradas no HSBC da Suíça.
O UOL também publicou a matéria. Só que sem chamada na capa do portal do Grupo Folha. Além disso, na Folha impressa, escondeu a reportagem no pé de página na seção Mercado, com um título neutro: Empresários de mídia e jornalistas estão na relação.
“Quem conhece o comportamento das nossas elites não deve ter se espantado com a presença de vários donos de veículos de comunicação na lista do HSBC”, observa a doutora em Ciência Política e professora Gisele Cittadino, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Direito da PUC-Rio.
A professora também não estranhou O Globo ter dado destaque à denúncia, apesar de uma das correntistas citadas na lista do HSBC suíco ser Lily de Carvalho, que foi casada com Roberto Marinho, dono das Organizações Globo. O jornal empurrou Lily para o seu primeiro marido.
“Com tantos rumores nas redes sociais e a divulgação paulatina dos nomes dos correntistas, O Globo aplicou uma ‘vacina’ preventiva”, adverte. “A estratégia de evitar o silêncio para parecer que não tem o que esconder é equivalente à aplicação de pequena dose de veneno para ter chance de resistir a uma picada mortal.”
“A ironia fica por conta do atual momento político brasileiro em que a grande mídia discursa publicamente contra a corrupção, só que, ao mesmo tempo, se torna presa no SwissLeaks”, atenta a professora.
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Para Gisele Cittadino a lista do HSBC revela que o modus operandi da grande imprensa brasileira é bem diferente do seu discurso fariseu:
“Do ponto de vista ético, a grande imprensa talvez tenha ignorado a legalidade. Jornalisticamente, é provável que não tenha compromisso com os fatos. Politicamente, está cada vez mais difícil negar que atua como um ator político de oposição ao governo federal.”
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