“É preto, é coisa de preto”: William Waack prova tese do chefe: aqui não somos racistas, só em Washington; emissora afasta âncora

Tempo de leitura: 3 min

Da Redação

É uma gravação antiga, feita provavelmente durante a cobertura de eleições nos Estados Unidos.

O prédio é um cenário utilizado com frequência pela Globo e por muitas outras emissoras em Washington: tem a Casa Branca ao fundo.

William Waack aparece ao lado de outro veterano da capital norte-americana: Paulo Sotero, ex-correspondente da Gazeta Mercantil e de O Estado de São Paulo, agora diretor do Instituto Brasil do Wilson Center.

Os dois esperam pelo momento de entrar no ar. O áudio é testado.

Uma buzina insistente é ouvida na rua, alguns andares abaixo.

Waack olha para trás e comenta:

“Tá buzinando por quê, seu merda do cacete? Não vou nem falar, porque eu sei quem é… é preto. É coisa de preto!”

Sotero não ouve direito. Waack repete baixinho.

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Sotero dispara uma gargalhada. Mas parece constrangido.

Ele tem consciência do escândalo que aquelas palavras poderiam provocar, se ditas por um jornalista norte-americano.

Apesar do visível constrangimento, o episódio pode render dor-de-cabeça a Sotero.

É impensável que um dirigente do Wilson Center concorde com uma manifestação racista.

Ele é um dos brasileiros mais entrevistados pela mídia dos Estados Unidos para tratar de assuntos relativos ao Brasil.

De linha neoliberal, aparece em sua página no Facebook posando ao lado de Fernando Henrique Cardoso.

Sotero formou no antigo time de correspondentes brasileiros em Washington, do tempo em que Pimenta Neves trabalhava no Banco Mundial e tinha como colegas José Meirelles Passos (O Globo), Moisés Rabinovici (O Estado), Carlos Eduardo Lins da Silva (Folha) e Luís Fernando Silva Pinto (TV Globo).

Era conhecido pelas perguntas prolixas, que já continham as respostas, feitas a negociadores da dívida externa brasileira, como Dilson Funaro e Bresser Pereira.

Até o momento, o jornalista não se manifestou sobre o vídeo.

Já Waack está acostumado a polêmicas nos bastidores da TV.

Numa das mais conhecidas, repetiu no ar, ao vivo, o apelido dado nos bastidores a uma colega repórter, Zelda Melo, que chamou de Zelda Merda.

Uma jornalista que trabalhou muitos anos ao lado de Waack na TV Globo de São Paulo narrou ao Viomundo um episódio que ela testemunhou em um estacionamento da emissora. Nas palavras da testemunha ocular e auditiva:

Eu estava no estacionamento da Globo. Na época o estacionamento novo estava sendo construído, então tinha mais carro do que vaga, mas eles colocaram manobristas, ou seja, estava tudo em ordem. Essa criatura [Waack] estava ao meu lado e um puxa saco também. O cara disse [para Waack]: ‘Pô, Alemão [apelido dele], estacionou na vaga de deficiente?’. E ele respondeu algo como ‘que se fodam os aleijados’. Riu também, claro.

Em geral, transmissões ao vivo como as que deram origem ao vídeo que viralizou são gravadas apenas para garantir um backup, em máquinas especialmente dedicadas a isso. São apagadas em seguida.

Neste caso, a origem parece ser um disco inserido em uma das câmeras que faria a transmissão. Só teria acesso às imagens algum funcionário da Globo ou prestador de serviços da emissora.

Um veterano ex-repórter da emissora acredita que o vazamento foi obra do “baixo clero”, onde Waack tem muitos inimigos pelo tratamento não comumente cavalheiresco que ele dedica a subordinados.

Ao longo dos últimos anos, pressionada pela concorrência dos serviços de streaming e das redes sociais, a Globo vem cortando custos e renovando seu cast jornalístico, com caras novas e salários mais baixos.

Se nos postos de maior prestígio, como em Nova York, o salário mensal de um correspondente podia no passado chegar a U$ 50 mil mensais, hoje raramente chega aos U$ 20 mil.

O mesmo agora se dá no Brasil. Não será surpresa se a Globo esperar a poeira desta polêmica abaixar para se livrar de Waack, substituindo o veterano por um rosto menos aziago.

*Texto atualizado para incorporar novas informações

William Waack é afastado do Jornal da Globo

Jornalista é acusado de ter feito comentários racistas, fora do ar, durante cobertura das eleições americanas. Waack diz não se lembrar do episódio e pede desculpas.

Por TV Globo

08/11/2017 21h32

A Globo é visceralmente contra o racismo em todas as suas formas e manifestações.

Nenhuma circunstância pode servir de atenuante.

Diante disso, a Globo está afastando o apresentador William Waack de suas funções em decorrência do vídeo que passou hoje a circular na internet, até que a situação esteja esclarecida.

Nele, minutos antes de ir ao ar num vivo durante a cobertura das eleições americanas do ano passado, alguém na rua dispara a buzina e, Waack, contrariado, faz comentários, ao que tudo indica, de cunho racista.

Waack afirma não se lembrar do que disse, já que o áudio não tem clareza, mas pede sinceras desculpas àqueles que se sentiram ultrajados pela situação.

William Waack é um dos mais respeitados profissionais brasileiros, com um extenso currículo de serviços ao jornalismo.

A Globo, a partir de amanhã, iniciará conversas com ele para decidir como se desenrolarão os próximos passos.

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