Comissão da OEA reúne-se com MST para apurar denúncias de violações e ameaças à luta pela reforma agrária; vice-presidente se disse chocada

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Comunicação do mST

Comissão da OEA encontra MST para apurar denuncias de violações aos direitos humanos

Entre os movimentos presentes, a CUT também manifestou preocupação com a crescente violência no campo brasileiro

a Página do MST

Nesta sexta-feira (9) a Comissão Interamericana de Direitos Humanos esteve reunida com o MST para ouvir relatos de ameaças à luta pela Reforma Agrária.

O encontro contou com a presença de outros movimentos sociais, como centrais sindicais e movimento de professores. Além de receberem relatos sobre a Lei da Mordaça (projeto escola sem partido) a comissária presente pode compreender melhor o atual contexto agrário.

“Ter a comissão é a oportunidade de escutar as demandas que nos fazem aqueles que estão à frente dos movimentos que lutam por direitos fundamentais e é necessário então que se tome nota para fazer avaliações e apresentar as recomendações necessárias ao Estado brasileiro para atender essas demandas que são direitos que devem ser garantidos para proteger a própria democracia”, avaliou Esmeralda Arosemena de Troitiño.

Entre outras demandas apresentadas na reunião, o MST relatou e foi questionado sobre a reforma da Lei Antiterrorismo, que mira justamente os movimentos sociais.

Kelli Maffort, da coordenação nacional do Movimento, explicou a origem da lei durante os eventos internacionais e do veto da ex-presidenta Dilma Rousseff aos artigos que sofrem a ofensiva do setor conservador, para tentar incluir mobilizações por direitos sociais.

Antes de entrar no assunto mais urgente, Kelli e a advogada Euza Mara, do setor de direitos humanos do MST, ainda alertaram as comissárias sobre a possibilidade de fechamento massivo de escolas no campo, sob alegações irracionais de que escolas públicas municipais e estaduais em territórios de assentamentos seriam “doutrinação guerrilheira”.

A vice-presidente da CIDH, Esmeralda Arosemena, professora, se disse chocada.

A maior urgência trazida pelo MST à comissão da Organização dos Estados Americanos (OEA), no entanto, seria a ameaça de iminente despejo de 450 famílias que vivem há mais de 20 anos produzindo na terra.

Em Campo do Meio-MG, segundo Kelli Mafort, cerca de 450 famílias sustentam uma produção de mais de 500 toneladas anuais de café e, mesmo cumprindo a função social de uma terra ocupada há tanto tempo, estão na mira de um despejo forçado.

“Tanto há uma situação de criminalização como de violência. Violência direta, perseguições, assassinato. Então, com esse novo cenário, tende-se a agudizar estas ações que já se apresentam como muito graves há anos”, explica Kelli.

“Estamos com uma situação muito concreta do Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio-MG, onde há investimentos públicos, projetos que contemplam as mulheres com inclusão econômica”, define.

O acampamento, que é conhecido pela produção do café Guaií, já foi uma massa falida da usina Ariadnopolis, foi ocupada e é agora a terra que produz alimentos saudáveis e chega a exportar. Mesmo com um decreto do governo estadual para desapropriação por fins sociais, a justiça de Minas junto ao agronegócio na região, retomou um processo vencido até no STF para expulsar as famílias.

Foi entregue um documento das famílias, relatando a produção ali mantida, com dados produtivos dos vinte anos e reforçando preocupação com a saída com força policial neste momento.

“Temos recurso, temos possibilidade de recorrer, mas temos muita preocupação de como procede a Justiça brasileira neste contexto”, afirma a jurista Euza Mara, do setor de direitos humanos do MST.

Esteve presente também o Sindicato de Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), relatando o projeto conhecido como escola sem partido, que restringe a reflexão filosófica e social dentro de sala de aula.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) se ateve prioritariamente à denúncia da reforma trabalhista já aprovada, mas também demonstrou preocupação com o campo brasileiro.

Nas palavras da vice-presidenta da Central, Carmem Foro, “estamos nos sentindo ameaçados com o governo que mira diretamente todos aqueles que vivem no campo, sejam Sem Terra, pequenos agricultores, povos tradicionais. A população da floresta, do campo estão ameaçadas. Nos últimos anos a violência a estas populações aumentou muito. A ameaça é concreta, com um governo que diz que vai banir qualquer manifestação da luta pela terra. Todo o campo está vivendo este terror”.

*Editado por Rafael Soriano

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Comentários

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Jardel

“essa mentira de trabalhador do campo”
Sr. Almir Oliveira Soares, o sr. deve ser cego! Acha que aquelas milhares de pessoas que estão “invadindo”, na verdade, ocupando terras griladas e terras devolutas são o que? Atores contratados?
Se acredita nisso, aconselho que o sr. procure um psicanalista urgentemente.

Jardel

A perspectiva é aterrorizante em todos os campos. No campo social então, nem se fale. O deputado “garoto”Bolsonaro, filho do Bolsonaro pai, disse que não haveria problema em prender cem mil sem-terra.
Eu presumo que esse número de cem mil ele deve ter extraído de algum levantamento da população sem-terra. Presumo também que nesse número se inclui as crianças.
Então o “garoto” do Bolsonaro pretende encarcerar essas milhares de crianças onde?
Já mandaram construir os campos de concentração?

Fernando Carneiro

É o desmonte da possibilidade de construir uma nação. Lamentável. É preciso resistir.

Zé Maria

A fronteira incandescente de Walter Benjamin e Bolsonaro

… quando hoje falamos abstratamente em “resistência”, estamos falando em bloquear só a animalidade da violência anunciada, o que é necessário, mas insuficiente.
O Bolsonaro que está falando hoje é o mesmo de antes, mas ele já é também – como Presidente – não somente uma fúria irracional, mas igualmente a fusão do seu “ethos” domado e primitivo -que anunciava matar trinta mil – com o projeto ultraliberal que precisa reformar a Constituição para debelar a democracia.
E que também precisa ter confiabilidade internacional para lidar com o dinheiro global do “rentismo”: sua missão agora é usar a fúria para fazer as reformas, não somente para satisfazer a sua pulsão de ódio aos diferentes.

Por isso, a cada anúncio de medidas que estruturem as políticas do seu Governo, temos que mostrar ao povo quais seriam as nossas. As medidas de uma nova Frente Política – livre dos corruptos e corruptores que já estão todos ao seu lado – para mostrar que podemos resolver os problemas mais graves do país, com menos desigualdades e mais Justiça.

A fusão explícita do fascismo – autoritário e conservador na política e nos costumes – com a modernização capitalista liberal que impulsiona e modela novas forças produtivas e serviços, é uma experiência de opressão social que pode criar sua base de sustentação nos próprios excluídos, com o apoio feroz do oligopólio da mídia. Podem construir aquela famosa sociedade dos três terços: 1\3 do povo como caso de Polícia; 1\3 com baixos rendimentos, assalariados, precários, intermitentes, que sobrevivem na pobreza e nas bordas da miséria; 1\3 de integrados, ou razoavelmente integrados na sociedade feérica de consumo básico ou suntuário.

“Ainda tem saída” sim!, mas ela não é simplesmente resistência.

Por Tarso Genro, no SUL21

https://twitter.com/tarsogenro/status/1061232365568053248
https://www.sul21.com.br/colunas/tarso-genro/2018/11/a-fronteira-incandescente-de-walter-benjamin-e-bolsonaro/

Julio Silveira

Para essa gorilada que está aí, o povo não pode pleitear reforma agraria em terras historicamente apropriadas do estado, por serem eles os posseiros legalizados np status quo que controlam, mas por outro lado terras quilombolas e indigenas são por eles passiveis de incorparaçãoara ampliação de seus patrimonios, sem o menor direito ou garantia para os antigos proprietarios historicamente nas suas terras instalados. A grilagem tutelada pelo poder reacionario tem escrito a historia do Brasil.

Zé Maria

É preciso explicar aos Membros da CIDH que, para o atual e o futuro governo do país,
algumas pessoas ou grupos de pessoas não são considerados ‘Humanos’
e que portanto, na visão desses governantes, poderão ser caçados e abatidos,
mormente eliminados como pragas da face da Terra.

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