André Caramante: PM comprou as cápsulas achadas perto de corpos dos cinco jovens sumidos na Zona Leste de São Paulo

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jovens mortos

Quatro dos cincos amigos que foram encontrados mortos neste domingo (6/11), em uma mata de Mogi das Cruzes (Grande SP) – Imagem: Reprodução

Cápsulas achadas perto de corpos de jovens que estavam sumidos foram compradas pela PM

Corregedoria (órgão fiscalizador) da Polícia Militar de São Paulo rastreou munição de pistola .40 e descobriu que foram adquiridas pelo Estado da empresa CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos)

por André Caramante, na Ponte Jornalismo, em 07/11/2016

Algumas das dez cápsulas de munição .40 encontradas perto dos corpos de cinco jovens moradores da zona leste que estavam desaparecidos foram compradas pela Polícia Militar do Estado de São Paulo.

O rastreamento foi feito pela Corregedoria (órgão fiscalizador) da Polícia Militar nesta segunda-feira (07/11) e apontou que parte das dez cápsulas de pistola .40 (arma de uso restrito das forças de segurança) achadas perto dos cinco corpos dos amigos são de dois lotes comprados pela PM de SP da CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos).

Os corpos de César Augusto Gomes Silva, 19 anos, Jonathan Moreira Ferreira e Caique Henrique Machado Silva, ambos de 18, Robson Fernando Donato de Paula, 16, e Jonas Ferreira Januário, 30, foram encontrados ontem (06/11), em um matagal na Estrada Taquarussu, em Mogi das Cruzes (Grande SP).

Os cinco amigos estavam desaparecidos desde 21 de outubro, quando saíram do Jardim Rodolfo Pirani (zona leste de SP), onde viviam, para uma festa na cidade de Ribeirão Pires (Grande São Paulo).

Conforme revelou a Ponte Jornalismo, os registros da polícia indicam que policiais militares consultaram os dados de dois dos cinco jovens que desapareceram na zona leste de São Paulo em 21 de outubro.

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O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que investiga o crime, interrogou hoje os os PMs que fizeram a consulta.

Os cinco amigos estavam em um Volkswagen Santana verde, achado às margens do rodoanel Governador Mario Covas, na Grande São Paulo.

Familiares dos jovens acreditam que não havia festa alguma em Ribeirão Pires, mas sim uma emboscada para pegar os meninos.

As garotas que os convidaram para a festa, via Facebook, sumiram das redes sociais após o desaparecimento dos jovens.

A suspeita de participação da polícia na morte dos jovens surgiu porque, antes de desaparecer, Jonathan mandou um áudio para uma amiga dizendo que havia sido parado pela polícia.

“Ei, tio. Acabo de tomar um enquadro ali. Os polícia tá me esculachando”, dizia a mensagem.

Segundo o ouvidor das polícias, Júlio César Fernandes Neves, os corpos encontrados em Mogi estavam “irreconhecíveis” por causa do estado avançado de decomposição, mas dois deles apresentavam próteses que combinavam com as características dos meninos da zona leste.

“Tenho certeza de que são os corpos dos jovens desaparecidos”, afirmou o ouvidor à Ponte Jornalismo.

“Um dos corpos tinha uma prótese na tíbia, e a mãe do Caique me confirmou que ele tinha essa prótese.”

Outro corpo possuía uma prótese na coluna vertebral e usava uma fralda geriátrica, o que poderia indicar que se trata de Robson, que é cadeirante. Ele estava sem cabeça.

Na tarde desta segunda-feira (7/11), dois dos cinco corpos encontrados na mata foram identificados como dos amigos que estavam desaparecidos.

A identificação de Robson, que é cadeirante, e de Caique foi feita por meio de exames antropológicos. Os outros três amigos só poderão ser identificados por exames de DNA.

Desaparecimento de jovens após relato de “enquadro” completa seis dias

Em mensagem por whatsapp, um dos rapazes disse que fora parado pela polícia

Desde a última sexta-feira (21), familiares de quatro rapazes, entre 16 e 19 anos, e de um motorista, contratado por eles, vivem a aflição de não terem notícia alguma sobre o grupo. A última informação que a família diz ter a respeito do desaparecimento é um áudio que Jonathan mandou para uma amiga dizendo que havia sido parado pela polícia naquele dia:

“Ei, tio. Acabo de tomar um enquadro ali.
Os polícia tá me esculachando”

Como pode cinco pessoas sumirem e ninguém ver nada?

Os amigos Jonathan, Caíque, César e Robson, todos da zona leste de São Paulo, estavam a caminho de uma chácara, onde marcaram de se encontrar com algumas jovens que conheceram pelas redes sociais.

Para levá-los até lá, haviam contratado um colega conhecido como “Síndico”.

“Não temos nem sinal deles. Como pode cinco pessoas sumirem e ninguém ver nada?”, diz Adriana Nogueira Moreira, mãe de Jonathan.

Ela afirma que não sabia exatamente para onde seu filho estava indo, pensava que iria a uma balada e que voltaria no dia seguinte, como sempre fazia. Segundo Adriana, os quatro tinham passagens pela Fundação Casa.

Preocupados com a demora dos rapazes – já era sábado e eles ainda não haviam voltado – , as famílias se uniram para fazer uma busca e encontraram o carro que usavam abandonado no Rodoanel.

No veículo, havia apenas fraldas e curativos de um dos meninos: Robson, que é deficiente físico.

Sua tia, Amélia Maria Donato, diz que ele ficou deficiente depois de levar um tiro nas costas em um acidente e que mesmo assim continuava saindo normalmente com os amigos. “Os amigos dele levavam ele. Ele sai bastante, sempre vai em festa de aniversário, em chácara”.

Os familiares chegaram a rastrear o celular de César e identificaram sinais do aparelho, na segunda-feira, portanto dois dias após o desaparecimento, por Atibaia, Bragança Paulista e no shopping Aricanduva.

Acontece que no sábado, depois que o áudio fora mandado para a amiga, Amélia havia tentado ligar para os jovens e todos as ligações caíam na caixa postal.

O caso foi registrado no 55º Distrito Policial.

A Secretaria de Segurança Pública informou em nota “foi instaurado Procedimento de Investigação de Desaparecimento (PID) para investigar o caso no DHPP. O carro usado pelos jovens foi periciado e as famílias foram notificadas para comparecerem no departamento. Mais informações não podem ser passadas para não prejudicar as investigações”.

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