SOS Covid: Médica e líderes comunitárias se juntam para combater a pandemia em bairros carentes de Curitiba

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A médica Cláudia Ivantes (de boné creme) e as líderes comunitárias de Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Foto: Divulgação

SOS Covid: a iniciativa de uma médica que ajuda a conter a doença em bairros carentes de Curitiba

Grupo distribuiu caixas com itens importantes no combate à pandemia: oxímetro, termômetro, máscara, entre outros

Por Jess Carvalho, no Plural

Quando começou a pandemia, a médica hepatologista Cláudia Ivantes já conhecia as comunidades Nova Primavera, 29 de Março, Tiradentes e Dona Cida, da Cidade Industrial de Curitiba (CIC).

“Eu já havia visitado a região e imaginava que a Covid-19 seria muito impactante para eles, porque as pessoas vivem aglomeradas por lá”, observa.

Após conversar com as líderes comunitárias, ela descobriu que não era a única apreensiva com a saúde das famílias.

“Eles não estavam usando de maneira sistemática a máscara e não tinham como fazer isolamento. Eu percebi uma preocupação das lideranças comunitárias em conter o vírus e poupar a comunidade de uma catástrofe.”

“Chegou uma hora que teve pico aqui, com muita gente contaminada”, relembra Edna Elaine Bacilli – ou Neia, como é conhecida pela comunidade. “E como ninguém tinha dinheiro pra comprar o oxímetro, em vez de seguir o isolamento, as pessoas viviam indo ao posto, preocupadas com a oxigenação, que era a primeira coisa que os médicos pediam pro paciente acompanhar.”

Ciente da situação, Cláudia estudou uma solução e convidou as líderes, incluindo Neia, para conversar na biblioteca comunitária e conhecer sua criação: as caixas SOS Covid.

“Eu não sou infectologista, mas tive muitos amigos e familiares infectados, então pensei nas orientações que a gente dá pra esses pacientes, em especial com relação à internação. Eu notei que alguns instrumentos eram essenciais, especialmente três: oxímetro, termômetro e acesso a um profissional de saúde”, explica.

“A gente montou caixas com os ítens essenciais e ensinou as líderes a manejar o oxímetro e o termômetro como uma referência pra população”, fala a médica. “A ideia era que essas caixas ficassem com os pacientes durante todo o período de isolamento. Os moradores têm celular, então eles medem a febre e a oxigenação, fotografam e mandam pra líder comunitária. Quando tem um sinal de alerta, elas me contactam e eu faço o suporte à distância.”

“Chegando pra nós, foi dividido entre as coordenadoras de cada comunidade. Cada uma ficou com cinco caixas. A gente leva até a casa da família, orienta todo mundo a não sair pra rua e usar máscara e ensina a usar o kit”, diz Neia.

Junto com o oxímetro e o termômetro, as caixas são abastecidas com sabonete, álcool em gel, máscaras e informativos.

“As orientações também foram ótimas, as famílias aderiram e passaram a tomar mais cuidado. Porque aqui são casas pequenas onde moram cinco ou seis pessoas, então é óbvio que se fechar todo mundo não tem como ficar isolado, eles precisaram aprender a não se contaminar.”

A aceitação, segundo a líder comunitária, foi excelente. “Antes, as pessoas ficavam em pânico, porque o psicológico pega muito. Durante os picos, as famílias tinham medo de ser internadas ou morrer. Ligar todos os dias pra essas pessoas é um conforto. Elas terem com quem dividir o processo é um conforto.

Cada caixa SOS Covid contém: oxímetro (mede saturação de oxigênio no sangue), termômetro (verifica temperatura corporal), máscaras, sabonete, álcool em gel e folhetos educativos sobre o novo coronavírus. Foto: Divulgação

A população gostou tanto da iniciativa que as caixas passaram a viajar até outras regiões – e Neia incentiva que outros líderes plantem a ideia em suas comunidades.

“Às vezes, familiares de quem usou pediam as caixas e a gente cedia. Todas elas voltaram, algumas famílias até tiveram a consciência de comprar o que tinham usado e depois voltar com tudinho novo pra outra pessoa.”

“Por aqui, aderir às caixas acalmou as famílias e fez com que elas fossem menos vezes ao posto de saúde ou ao 24 horas. Além disso, o acompanhamento com uma recomendação rápida de ir ao médico pode evitar que a pessoa fique num estado pior. Então, pra nós, foi maravilhoso”, avalia.

Como aderir?

Qualquer comunidade pode adotar o sistema de caixas, desde que tenha um agente de saúde disponível a atender remotamente.

Qualquer agente de saúde pode ser responsável pela montagem, distribuição e manutenção das caixas em comunidades, bairros, vilas, desde que siga os protocolos da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Empresas podem colaborar doando máscaras, oxímetros, termômetros, álcool em gel e sabonete.

Voluntários podem arrecadar, higienizar, encapar e forrar caixas de sapato.

A ideia de Cláudia está à disposição da sociedade civil organizada.


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