Paulo Capel: Fluoretação da água na cidade de São Paulo, batalha de mais de 70 anos. Conheça-a. VÍDEO

Tempo de leitura: 3 min

Por Conceição Lemes

Na quinta-feira, 13 de novembro, a Frente Parlamentar pela Saúde Bucal da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo celebrou os 40 anos do início da fluoretação das águas da capital paulista.
Comprovadamente a medida mais importante para prevenir a cárie dentária em nível populacional, como mostra o gráfico abaixo.

’Em 1985, apenas 5% dos adolescentes não tinham cárie; agora, decorridos 40 anos, mais da metade chegam aos 12 anos livres de cárie. Entre os adultos, o índice diminuiu 47%’’, expõe o professor Paulo Capel Narvai, titular sênior da Faculdade de Saúde Pública da USP. 

Capel, um dos especialistas participantes do evento, enviou o vídeo acima, que trata do contexto histórico da fluoretação da água na capital paulista. Uma batalha de mais 70 anos. 

‘’Uma ’briga de microfones’ marcou o início dessa luta’’, relata Capel. 

Refere-se a dois radialistas de grande prestígio e enorme penetração popular em São Paulo nas décadas de 1940-1950: Homero Silva, da rádio Tupi, e Vicente Leporace, da Record.

Homero Silva defendia a fluoretação. Leporace era contrário.

Em 1955, Homero Silva elegeu-se deputado estadual.

Em julho de 1956, sensibilizado com o apelo das lideranças da odontologia paulista, apresentou à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) o projeto de lei (PL) nº 427, autorizando a adição de fluoretos às águas de abastecimento, que “eram pobres desse elemento em todo o território paulista”, o que contribuía para a disseminação da cárie na população.

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Em 9 de dezembro de 1957, a Alesp aprovou projeto. Mas, em 3 de janeiro de 1958, o então governador Jânio Quadros vetou-o integralmente.

Só que a Alesp rejeitou o veto de Jânio e, em 19 de abril de 1958, o Diário Oficial do Estado publicou a Lei nº 4.687, aprovada no dia anterior.

Durante a tramitação do PL houve espécie de “guerra de microfones”, envolvendo Homero Silva e Vicente Leporace.

Ambos protagonizaram a reprodução, no Brasil, do embate que havia à época nos Estados Unidos.

Capel relata a disputa:

Após o pioneirismo mundial da fluoretação em Grand Rapids, em 25/1/1945, cientistas e sanitaristas defendiam a ampliação da fluoretação naquele país. Mas esbarravam na oposição baseada em crendices e de pessoas interessadas em semear o medo para tirar algum proveito disso.

Num contexto histórico de “guerra fria” e polarização política entre Estados Unidos e União Soviética, ganhava força o argumento de que a fluoretação era um “plano dos comunistas russos para dominar a América”.

Porém, o frágil argumento da conspiração comunista foi perdendo força durante os anos 1960.

Dois filmes contribuíram para mostrar ao público que o tal “plano comunista” não existia e que isso não passava de medo irracional e paranoico: 1) “Dr. Fantástico” (Stanley Kubrick, 1964), em que o personagem General Jack D. Ripper inicia uma guerra nuclear na esperança de frustrar a pretensão comunista de “extrair e impurificar” os “preciosos fluidos corporais” do povo americano, utilizando água fluoretada; e, 2) “Perigo Supremo” (In Like Flint, 1967 – https://x.gd/QHmKX), no qual o medo de um personagem da fluoretação é usado para indicar sua insanidade.

Capel prossegue:

Embora o argumento da “conspiração comunista” não tenha prosperado no Brasil, os ataques de Vicente Leporace pelo microfone do rádio à iniciativa de Homero Silva, fragilizaram a proposição legislativa.

Durante os anos 1960, a tensão entre eles aumentou. Homero Silva seguiu deputado, em segundo mandato entre 1963 e 1967.

Na rádio Bandeirantes, à frente do programa “O Trabuco” (1962 a 1978), de grande audiência, de tempos em tempos Leporace atacava o que considerava “os males da fluoretação da água”.

Como ambos eram reconhecidamente homens que agiam de boa-fé e muito admirados pelos ouvintes, a divergência entre eles não contribuiu para esclarecer a opinião pública, mas produziu efeito oposto: as opiniões populares se dividiram, confundindo as pessoas.

Apesar de a lei paulista da fluoretação ter sido aprovada em 18 de abril de 1958, a sua implementação foi lenta e só deslanchou após a eleição de Franco Montoro ao governo paulista, em 1982.

O seu autor, o deputado Homero Silva, faleceu em 1981, sem ver os resultados da medida.

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Comentários

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marcio gaúcho

Sim, a fluoretação da água é importante para evitar cáries. Ainda mais, porque a boa higiene bucal não é muito praticada nas famílias..
Porém, o acúmulo de flúor no organismo é danoso e pode provocar manchas nos dentes e calcificações e alteração na estrutura dos ossos.
Também, atendeu a uma necessidade das indústrias químicas, que não tinham onde enfiar o flúor, subproduto industrial. Convenceram os governos a incluir na água a substância e se livraram do ônus de neutralizar ou armazenar o lixo da indústria química.

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