José do Vale: Governança global é o caminho para todos terem acesso aos recursos de saúde e uma esperança de vida

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Tedros Adhanom é o diretor-geral da OMS

GOVERNANÇA GLOBAL EM QUE TODOS GANHEM E SE IGUALEM EM OPORTUNIDADE DE ACESSO A RECURSOS DE SAÚDE

Acesso a recursos específicos de saúde é um grande passo para uma esperança de vida

Por José do Vale Pinheiro Feitosa, especial para o Viomundo

Uma pandemia, mais que um fenômeno natural, é a expressão do modelo capitalista de produção, organizado em cadeias de suprimento mundial, ordenado e induzido pelo capital financeiro sempre em busca de ganhos de juros.

Os Estados Nacionais são organizações sociais, econômicas e políticas, agindo na população de determinado território. Eles são típicos do desenvolvimento capitalista na sua característica mais marcante que é a concorrência inerente.

Os Estados Nacionais, ao contrário do que se queixam da boca para fora os liberais, foram organizados para proteger investimentos capitalistas e seu modo de produção num determinado território. O trabalho (trabalhadores) para ser reproduzido e preservado precisa de políticas de Estado.

A pandemia de Covid-19 deu um tombo imenso na economia mundial, incluindo a China.

Agravou a circulação de pessoas e mercadorias, implicou em maior ação dos Estados Nacionais numa simbiose de preservação da vida e do lucro do capital financeiro.

Tomando como referência 222 Estados Nacionais, observemos o quadro em 36 países com mais de 40 milhões de habitantes, atentando para como seus governos agiram diante da pandemia.

Tais países representam 80% da população mundial.

Seus Estados Nacionais deveriam ter adotado políticas para tentar conter a entrada do novo coronavírus vírus nos seus territórios e a disseminação dele na sua população.

E, uma vez aparecidos casos, controlar os infectados, tratá-los, evitar mortes e recuperar as pessoas com sequelas.

Nenhum país conseguiu controlar integralmente a entrada do vírus em sua população.

Uma vez mantidas viagens internacionais por diversos motivos, quem melhor barrou a entrada de vírus foram os países asiáticos, incluindo a China.

A China conteve o surto inicial que deu origem à pandemia, não permitiu o retorno do vírus a partir de suas fronteiras, inclusive aéreas e marítimas.

Aplicar teste de covid-19 na população do país é uma estratégia adotada para controlar a transmissão do vírus.

Pois a China, segundo o Worldmeter.info, fez menos testes por 1 milhão de habitantes do que o Brasil.

Lá, foram 111.163 testes para cada 1 milhão de chineses.

No Brasil, 253.155 testes para cada 1 milhão de brasileiros.

Acontece que os chineses conseguiram conter a transmissão interna, enquanto no Brasil o vírus se espalhou por todas as regiões.

Consequentemente, no Brasil, os testes serviram apenas para o diagnóstico de pessoas infectadas e não como estratégia abrangente de controle da transmissão do vírus.

A Ásia teve o melhor desempenho no controle da transmissão, com taxas de infecção abaixo de 10.000 casos por 1 milhão de habitantes.

Exceções: Índia com 22.124 casos/1 milhão e Filipinas com 13.262 casos/1 milhão.

Entre os Estados Nacionais, China e Vietnã tiveram os melhores desempenhos no controle da transmissão. Respectivamente taxas de 64 e 290 casos por 1 milhão de habitantes.

Já o desempenho do controle da transmissão nas Américas foi o pior, exceto o México com 19.850 casos por milhão de habitantes.

Varia de 104.287 casos por 1 milhão de habitantes nos Estados Unidos a 87.341 na Colômbia. Argentina, 101.691; Brasil, 89.064.

A Europa, incluindo o Reino Unido, também teve altos índices de transmissão do vírus com taxas de casos por milhão variando de 39.612 na Rússia a 88.784 na França.

No Oriente Médio, a epidemia também teve muita força de transmissão variando de 84.226 casos por milhão na Turquia a 34.557 no Iraque.

Na África, a transmissão foi mais intensa na África do Sul com 36.274 casos por milhão, chegando 3.429 no Quênia.

Se tomarmos a taxa de mortalidade por Covid-19 como referência para as políticas públicas dos Estados Nacionais, fica claro que ela decorre de: proporção de idosos na sua população, taxa de transmissão; e balanço entre os recursos disponíveis e o desempenho técnico dos hospitais.

Até agora, o Brasil tem a pior taxa de mortalidade, 2.489 mortes por um milhão de habitantes.

Entre os países mais ricos como os Estados Unidos e os da Europa Ocidental, os índices de letalidade foram muito altos, levando a crer que a grande estratégia é evitar o contágio, pois quando aumenta muito o número de casos fica difícil controlar as mortes.

Estes dados já refletem o início da vacinação e mais uma vez espelharão o desempenho dos Estados Nacionais.

Das vacinas aplicadas até agora 61,7% foram na Ásia, devido especialmente a China.

A China responde por 40% do total de vacinas aplicadas no mundo. Já cobriu 96% da sua população com, pelo menos, uma dose.

Excluindo as doses aplicadas na Ásia, as demais vacinas foram aplicadas essencialmente na Europa e América do Norte (EUA). A América do Sul se apropriou apenas de 16% dessas vacinas, especialmente Brasil, Argentina e Chile.

A velocidade com que as epidemias evoluem apontam dois caminhos essenciais: estabelecimento de uma governança global em que todos ganhem e se igualem em oportunidade de acesso; e maior distribuição territorial de inovação tecnológica e produção descentralizada de recursos de saúde.

*José do Vale Pinheiro Feitosa é médico sanitarista.


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