Arthur Chioro: “A maneira encontrada pelo ministro Mandetta para ficar no cargo custará milhares de vida”

Tempo de leitura: 3 min
Fotos: José Cruz/Agência Brasil e Ministério da Saúde

por Conceição Lemes

Nessa segunda-feira, 06/04, tivemos novo round da queda de braço entre o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, e o presidente Jair Bolsonaro por conta do novo coronavírus.

Em questão, o isolamento social, horizontal, defendido por Mandetta, versus a flexibilização do isolamento e volta ao trabalho, exigido por Bolsonaro.

Durante todo dia circulou que o ministro seria demitido, a ponto de seus auxiliares terem limpado as gavetas do chefe.

Só no início da noite foi divulgado que os dois haviam chegado a um acordo e Mandetta permaneceria no cargo.

Estranhamente, nessa mesma segunda-feira, 6 de abril, saiu o Boletim Epidemiológico 7, do Ministério da Saúde, flexibilizando o isolamento:

“A partir de 13 de abril, os municípios, Distrito Federal e Estados que implementaram medidas de Distanciamento Social Ampliado (DSA), onde o número de casos confirmados não tenha impactado em mais de 50% da capacidade instalada existente antes da pandemia, devem iniciar a transição para Distanciamento Social Seletivo (DSS).”

Eu entrevistei o médico-sanitarista Arthur Chioro, ministro da Saúde no segundo governo da presidenta Dilma, sobre a medida.

Blog da Saúde — O que o senhor acha desse distanciamento social meia-boca?

Arthur Chioro — Absurdo.

Blog da Saúde — Faz sentido essa medida do Mandetta?

Arthur Chioro — Para quem fala à exaustão que se orienta pela ‘ciência, foco e planejamento”, não faz o mínimo sentido.

Lamentavelmente, essa maneira encontrada pelo ministro Mandetta para se preservar no cargo custará milhares de vida.

Blog da Saúde — Por quê?

Arthur Chioro — Primeiro, não tem nenhuma base científica. Segundo,  dispersa totalmente o foco da população no isolamento. Terceiro, demonstra que o Ministério da Saúde não tem noção de como planejar e organizar a rede de saúde.

Na verdade, o Ministério da Saúde desconsidera a realidade das 438 regiões de saúde e a organização social nas regiões metropolitanas e capitais, onde a vida se dá de forma absolutamente conurbada.

Blog da Saúde — Essa flexibilização serve então para Mandetta agradar Bolsonaro e permanecer no cargo?

Arthur Chioro – Agradar ou enganá-lo, porque não faz o mínimo sentido. Mas não é o único motivo.  Serve também para tirar o foco de uma questão essencial: apesar de terem tido quase dois meses desde o surgimento da epidemia para prepararem para  a resposta brasileira ao covid-19, nada foi feito.

Blog da Saúde — O que evidencia isso?

Arthur Chioro –Não tem EPI [equipamento de proteção individual] em quantidade suficiente para que as equipes de saúde trabalhem com segurança. Não abriram e não conseguem abrir leitos hospitalares e de UTI. Não conseguiram adquirir os ventiladores.

Também não há testes na quantidade necessária para fazer diagnóstico, vigilância e orientar as decisões que vêm sendo tomadas.

Sequer o aumento da capacidade de análise laboratorial foi providenciada.

Segundo o próprio Ministério da Saúde, só é possível analisar 6,7 mil exames por dia, quando seriam necessários entre 30 e 50 mil.

Para você ter uma ideia, nos Estados Unidos, há 6.099 testes para cada 1 milhão de habitantes.

Na Espanha, 7.593; Itália, 12.495;  Alemanha,10.962; Portugal, 11.892.

Já no Brasil para 1 milhão de habitantes são feitos APENAS 258 testes.

Blog da Saúde — E os recursos para o combate ao coronavírus em estados e municípios?

Arthur Chioro — Até agora o Ministério da Saúde não os repassou… Apenas os 423 milhões já anunciados (2 reais por habitantes) que saíram dos recursos já existentes. E estão imobilizados por uma crise política absurda num momento tão grave e crítico como este

PS de Conceição Lemes: Quem vê hoje o ministro Mandetta ostentando um colete com a inscrição SUS, talvez conclua apressadamente que ele é um grande defensor do Sistema Único de Saúde.

 Não é. E nunca foi. Puro marketing.

Mandetta sempre agiu para tirar recursos do SUS e favorecer planos privados de saúde e as corporações médicas. Inclusive já foi dirigente da Unimed.  

Médico e deputado federal pelo DEM/MS, Mandetta participou do golpe de 2016, que derrubou a então presidenta Dilma Rousseff.

Votou a favor da EC 95, que congelou os gastos da Saúde e Educação por 20 anos.

Desde 2018, a EC 95 que Mandetta ajudou a aprovar já resultou em menos  R$22,5 bilhões para a saúde.

Destruiu o Programa Mais Médicos, os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf), a Reforma Psiquiátrica com a volta às internações  em manicômios e clínicas terapêuticas e Farmácia Popular. 


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

abelardo

Penso que o ministro Mandetta emite plenos sinais de que está sendo lapidado pela elite golpista e direitista. A eloquente mudança observadas em suas recentes entrevistas já mostram traços sutis do tom de discurso. Apesar de não ser hora de criar mais tensão na área da saúde, a fala do.ministro parece dirigida mais para a realidade da eloquência, do que para a população. Isso poderá custar um alto preço em vidas e os patrocinadores e aproveitadores de plantão, que já devem estar sendo observados e identificados, serão os responsáveis pelo ônus da tragédia.

Helena

Para quem quer conhecer o verdadeiro Luiz Henrique Mandetta é só ler este post publicado no blog do Nassif. Nas 7 matérias compiladas pelo comentarista Nilo Filho da pra ter uma idéia de quantos “esqueletos” o Mandetta esconde no armário. “Um raio X implacável de Mandetta”. https://jornalggn.com.br/noticia/um-raio-x-implacavel-de-mandetta-comentario-de-nilo-filho/

Zé Maria

Dr. Mutretta (o Olavo diz outra coisa).
Uma vez do DEM, sempre do DEM.
E quando menos se espera do DEM,
Daí mesmo é que não sai Nada.
Diria Aporelli, o Barão de Itararé.

a.ali

em resumo são dois hipócritas… e pensar que alguem ousou imaginar que o salafrário fosse a tábua de salvação…qualquer acordo para ñ perder a boquinha e o status.
se alguem tem dúvidas é só copiar e colar o CV do salafrário no fim da entrevista

Gui Oliveira

Se ele tivesse deixado o cargo para o Osmar Terra o custo em vidas não seria ainda maior?

    antonio carlos

    1. Como parece que os militares e outras instituições e a maior parte da população não queriam a demissão do ministro, ele estava em condições de não ceder em nada ao chefinho. E deixar o desgaste de sua demissão só para o bozo. 2. Os motivos pelos quais ele fez concessões e não fincou pé estão claros na matéria, no seu histórico. 3. O bozo já está isolado, pelos absurdos que fala e pratica. Se colocasse o terraplanista no lugar do mandetta, afundaria ainda mais. E talvez precipitasse o seu afastamento bem breve.

    J Fernando

    Sim. Por isso mesmo a maioria está aliviada com a manutenção do Mandetta.
    Estamos em um governo que, quando um ministro faz pelo menos o básico, a gente só tem a opção de apoiar.
    Mas, convém não esquecer quem realmente é a pessoa em questão.

Deixe seu comentário

Leia também