Manter a ilegalidade do aborto é punir ainda mais mulheres pobres e negras

Tempo de leitura: 2 min

Por Conceição Oliveira do Blog Maria Frô, twitter: @maria_fro

Recebo do médico Mario Lobato a notícia que transcrevo a seguir. Ela não traz necessariamente nada de novo em relação ao que as feministas incansavelmente discutem: garantir o aborto seguro pela rede SUS é política pública e justiça social, pois mulheres pobres e negras (em sua maioria) morrem em maior número ao fazer abortos em lugares sem segurança, já mulheres com recursos conseguem fazer valer seus direitos sexuais e reprodutivos porque tem acesso a clínicas clandestinas seguras.

Para ter acesso à pesquisa citada na matéria, clique aqui

Ilegalidade do aborto prejudica mulheres pobres e negras, avaliam participantes de audiência no Senado

Por: Ricardo Koiti Koshimizu,  Agência Senado

18/08/2011

As mulheres pobres – e particularmente aquelas que são negras – estão entre as principais prejudicadas pela ilegalidade do aborto no país. Essa foi uma das avaliações apresentadas nesta quinta-feira (18) na audiência pública que o Senado promoveu para discutir os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres.

– Quem tem poder econômico paga, e muito bem, pelo aborto em clínicas clandestinas. São as mulheres pobres que morrem devido ao aborto mal feito – declarou Rosane Silva, representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Opinião semelhante foi exposta por Sônia Coelho, integrante da Marcha Mundial das Mulheres – movimento criado em 2000. Ela disse que “as mulheres que têm dinheiro podem decidir sobre a sua vida, podem decidir se querem ter filhos ou não, em contraste com o que acontece com as mulheres pobres e negras”.

Pesquisa

As críticas à ilegalidade do aborto foram embasadas por Paula Viana, que participou da pesquisa

Advocacy para o Acesso ao Aborto Legal e Seguro: Semelhanças no Impacto da Ilegalidade na Saúde das Mulheres e nos Serviços de Saúde em Pernambuco, Bahia, Paraíba, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro.

Paula Viana destacou que, nos casos de Bahia e Mato Grosso do Sul, “onde há, respectivamente, alto percentual de mulheres negras e indígenas”, o levantamento indicou que o aborto clandestino se vincula aos grupos sociais mais vulneráveis (quando se consideram critérios como etnia e classe social).

– Ou seja, isso é também um problema de justiça social – reforçou ela.

Além disso, as participantes da audiência apontaram o despreparo dos hospitais para atender esses casos. Sônia Coelho, da Marcha Mundial das Mulheres, lembrou que “muitas mulheres pobres têm medo de ir a um hospital público e serem maltratadas após um aborto”.

O estudo do qual Paula Viana participou ressalta que “depoimentos de mulheres que procuram os hospitais em situação de abortamento revelam grande frequência de atendimento desumano, longas esperas em jejum e em processo de sangramento, curetagens feitas sem anestesia, atitudes de recriminação e culpabilização das clientes que se submeteram à indução do aborto”.

Uma das principais recomendações da pesquisa foi a aprovação, pelo Congresso, de projetos de lei que descriminalizem o aborto e permitam a sua realização por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).

Leia também:

Rede Cegonha: saúde feminina se reduz à maternidade? E quanto ao aborto seguro?
Ruth Alexandre: Meu aborto e a criminalização
Sobre a hipocrisia eleitoral: Mônica Serra e a ‘assassina de criancinhas’
28 de setembro: Dia de luta pela descriminalização do aborto na América Latina

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