Dr. Rosinha: Precisamos queimar os ramos benzidos para combater a tormenta Bolsonaro

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Por Dr. Rosinha

Fotomontagem: Rede social e charge de Gilberto Maringoni

Tormenta

por Dr. Rosinha*

N as décadas de 1950 e 1960, o Dia de Ramos, ou o Domingo de Ramos, era um dia diferente para os trabalhadores e trabalhadoras rurais.

Além de “descanso”, era o dia de ir à missa para benzer os ramos. Poucos ficavam em casa, quem podia, ia.

Alguns tinham que ficar no sítio.

O dia de “descanso” na roça não existe, por isso o entre aspas.

Todo dia é dia de trabalho, se não é o trabalho penoso do dia a dia, pelo menos tem que cuidar das vacas, alimentá-las, tirar leite, tratar das galinhas e dos porcos, regar a horta, cuidar dos afazeres da casa e das colheitas.

O Domingo de Ramos era excitante principalmente para as crianças –todas queriam ir a missa. Afinal, era a possibilidade de ir até a cidade, na igreja matriz e com ramos nas mãos. E os ramos que levávamos eram bonitos, verdes e trabalhados.

Também era a possibilidade de andar de caminhão.

As crianças não queriam perder esta possibilidade. Por isso, quando alguma sentia que não iria, chorava.

O importante mesmo era que as pessoas adultas, mais velhas fossem.

Creio que era mesmo pela fé que tinham no benzimento dos ramos.

O momento de benzê-los era o mais significativo da missa.

Depois de benzidos, eram levados para casa e guardados.  Tinham função fundamental ao longo do ano.

Em casa, os ramos benzidos ficavam expostos, pendurados na parede.

Eram duas demonstrações, a de fé e a de beleza.

Os ramos finamente trançados de várias formas serviam de enfeite e  demonstração da nossa capacidade de entremeá-los.

Esses ramos eram uma das “ferramentas” para enfrentar as tempestades.

Cada vez que armava um temporal, algumas “ferramentas” eram usadas para nos proteger e combatê-las:

*cobrir os espelhos ou virá-los para a parede;

*jogar no tempo (era assim que se falava), ou seja, no terreiro na frente da casa, sal grosso, em forma de cruz;

*orações;

*caso a tempestade não diminuísse, queimavam-se parte dos ramos benzidos.

Queimava-se parte, pois, ao longo do ano poderíamos ter outra tempestade. E, ali,  estava uma das “ferramentas” de enfrentamento as tormentas.

O conceito de tempestade e/ou de tormenta era sempre dada por uma pessoa idosa.

Em casa,  sempre foi a vó ou, se preferir, a nonna. Creio que aí estava a necessidade das pessoas idosas estarem no caminhão para irem a missa.

Nem todos os sitiantes tinham caminhão. Alguns, com melhores condições, tinham e, nós, crianças e adultos, íamos em cima da carroceria para a missa. Momentos impares.

Com o tempo nós mesmos passamos a ter um caminhão.

Todos e todas vestidos com as melhores roupas, em moderada algazarra.

Afinal, o momento era solene, na carroceria do caminhão era só alegria.

Saíamos de casa de banho tomado, roupa da missa limpa e bonita. Mas, dependendo do movimento e das condições da estrada, chegávamos todos sujos, empoeirados ou enlameados.

Se fazia tempo que não chovia e algum outro veículo passasse era o suficiente para chegar na missa coberto de pó da terra vermelha, ou roxa como alguns diziam. Na volta, já em casa, a roupa às vezes estava tão suja como se estivesse trabalhado na roça.

A tarde de sábado, véspera do Domingo de Ramos, era um momento também muito importante.

Era a hora de colher as palmas e ‘decorá-las’ com os trançados. Havia uma certa disputa para saber quem de nós faria o maior e o mais bonito trabalho nas folhas das palmeiras.

No nosso caso, junto com as folhas de palmeira colocávamos galhinhos de alecrim. Perfumava a igreja e a casa no momento de queimá-los.

Ainda sei fazer o mais simples dos trançados.

Faz algum tempo o  último Domingo de Ramos que fui.  Não tinha nada do que existia e existe na minha memória.

Na frente da igreja, alguns comerciantes vendiam ramos, que nem sempre eram de folha de uma palmeira.

E, se eram, não havia nenhuma ‘decoração’, nenhum trançado.

Também vi gente colhendo galhos de árvores da rua próxima à igreja, e levando-os para serem benzidos.

A decepção também se fez na saída da igreja: vi pessoas jogando os ramos benzidos no lixo. E, se vier à tempestade?

E a tempestade veio.

Jair Bolsonaro, o coronavírus e seu jejum para combater a pandemia são a própria tempestade, a própria tormenta.

Precisamos virar os espelhos ou cobri-los, jogar sal grosso em forma cruz no terreiro, orações e queimar ramos benzidos para combater esta tormenta. A tormenta é forte, só isso é insuficiente.

Precisamos de muito mais.

Sabemos onde está localizado o epicentro da tormenta –Bolsonaro –e para combatê-la precisamos da união de todos e todas que defendam a democracia, independentemente do credo.

*Dr. Rosinha é médico pediatra, militante do PT. Pelo PT do Paraná, foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017).  De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul.

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Dr. Rosinha

Médico pediatra e militante do PT. Pelo PT do Paraná, foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017). De maio de 2017 a dezembro de 2019, presidiu o PT-PR. De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul.


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