Xico Sá: Com aquele Carnaval chatíssimo, tinha mais que tomar porre
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Acima, quando o sambódromo não valia nada (no tempo do Brizola); abaixo, sobre o porre de Vera Fischer na homenagem ao Boni:
Carta p/ Vera ou O escândalo são os outros
07/03/14 02:38
Estimada Vera, é com atraso, mas com o amor ungido nas cinzas carnavalescas, que te endereço estas mal traçadas. Os manuais de cardiologia recomendam e os homens de boa vontade obedecem: não é bom guardar tais sentimentos. As minhas desculpas por retomar a chatice do tema. Espero que compreendas. Os selos desta carta foram grudados com a resina da compaixão, jamais da pena, sei que me entendes.
O motivo desta é para dizer que, assim como existe a vergonha alheia, estou com a ressaca moral alheia. Não por ti, obviamente, mas por essa gente, incluindo coleguinhas e santinhos do pau oco de plantão, que exploraram, urubuzisticamente falando, o teu porre de Carnaval.
Porre + Carnaval, vai somando aí, gente fina.
Gostei do Miguel Falabella. Neguinho veio cheio da malícia querendo uma declaração moralista, donde ele sapeca, bonito, elogios ao teu profissionalismo como atriz. E pronto, e priu, como se diz em Pernambuco.|
Ora, um pileque de Carnaval, cheio daquelas verdades necessárias que soltamos justamente no luxo dessa hora. Na minha terra, nas minhas tantas terras, notícia no Carnaval é encontrar alguém sóbrio na folia –os amigos dos retiros espirituais não contam, com todo respeito.
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Parece aquele velho conceito do que é ou não é notícia. Se o cachorro morde o homem, dane-se, não há menor novidade nisso. Notícia é quando o homem morde o cachorro –se bem que hoje basta um ator se espreguiçar no aeroporto, como aconteceu recentemente, que já vira #rastegui.
Aguentar sobriamente um camarote daqueles, querida Vera, impossível. Ainda mais com uma turma que homenagearia a história oficialíssima da tv, arre, que saco. Isso é bom em um documentário de domingo, não no mundo momesco e fantasioso.
Foste a vingança de muita gente, foste Vera, a superfêmea, como no título daquele filmaço que fizeste do diretor Anibal Massaini Neto. Foste a grande mulher de sempre, sem mentirinhas ou nove horas, um rosto demasiadamente humano no meio da farsa e da picaretagem nota zero em harmonia.
Sim, o preço é alto, Vera. Está ficando cada vez mais caro ser mais ou menos parecido com a gente mesmo. É a grande inflação brasileira do momento. A economia moral -nem os romanos antigos foram tão bons nisso- é a cara de pau.
Repito: estamos tratando de um porre carnavalesco. Nem caberia o critério da genial Angela Rô Rô: “Dou gargalhada, dou dentada na maçã da luxúria, pra quê/ Se ninguém tem dó, ninguém entende nada/ O grande escândalo sou eu/ Aqui só”.
O escândalo c’est moi, caro Flobé.
Era só este breve bouquet demodê de palavras, Vera, que este cronista sempre com nó na garganta, tinha para te ofertar.
Com o amor, carinho e um beijo nada técnico, Xico Sá.
PS do Viomundo: Sobre as transmissões do Carnaval e a homenagem ao Boni (feita pela Beija Flor), como sempre disse meu irmão José Carlos, a Globo é auto-referente, ou seja, cria um mundo paralelo onde só cabem “os seus”. “Olha nós lá na avenida”, disse um dos comentaristas da emissora quando apareceu um carro lotado de estrelas globais na Marquês de Sapucaí. Surpresa-fake, já que o monopólio das transmissões transformou o Carnaval oficial carioca no Carnaval da Globo, com patrocínio… da Prefeitura do Rio de Janeiro. As luzes são da Globo, os horários são da Globo e as estrelas são da Globo. Notem que os atores não tem nome próprio. É fulano da novela tal, fulana do Big Brother e assim por diante. Aquela menina que saiu do Pânico, cujo nome me foge agora — lindíssima, aliás — foi mencionada como alguém “que surgiu no Faustão”. Os enredos foram de tal forma domesticados para atender ao padrão Globo de aceitável que a única surpresa é em gimmicks inventadas por coreógrafos ou baterias cujas roupas e instrumentos piscam. Chatíssimo. Porre plenamente justificado.
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