Dono de rádio do Guarujá usou texto falso de Carlos Chagas

Tempo de leitura: 3 min

por Conceição Lemes

No início dessa semana, Clara Gurgel, via Facebook,  nos enviou uma mensagem, denunciando  um fato ocorrido em 25 de junho, no programa Rotativa no Ar, na rádio Guarujá.

Ao vivo,  o diretor e proprietário da empresa, Evandro Rampazzo, interrompeu um debate com convidados, para ler um texto, que dizia ser do jornalista Carlos Chagas.

“Um verdadeiro discurso panfletário em prol do governo militar”, afirmou Clara. “Um descalabro que abre um precedente muito perigoso.”

Achamos estranho o texto, fui então investigar se ele era mesmo do jornalista ou não.

Com a ajuda do colega Tejota Menezes, da rádio Jovem Pan, onde Chagas até recentemente era comentarista político, enviei-lhe uma mensagem.

Realmente o artigo Os generais-presidentes é de Chagas, mas o final foi modificado. Acrescentaram o último parágrafo em que fazem referências indiretas ao ex-presidente Lula, numa comparação com os ditadores que torturaram, mataram, exilaram e censuraram:

“Nenhum deles mandou fazer um filme pseudo-biográfico, pago com dinheiro público, de auto-exaltação e culto da própria personalidade. Nenhum deles usou dinheiro público para fazer parque homenageando a própria mãe. Nenhum deles usou o Hospital Sírio Libanês. Nenhum deles comprou avião de luxo no Exterior. Nenhum deles enviou nosso dinheiro para ajudar outro país. Nenhum deles saiu de Brasília ao fim do mandato acompanhado por 11 caminhões lotados de toda espécie de móveis e objetos roubados. Nenhum deles exaltou a ignorância, nenhum deles falava errado. Nenhum deles apareceu embriagado em público. Nenhum deles urinou em público. Nenhum deles passou a apoiar notórios desonestos depois de tê-los chamado de ladrões”.

Segue a nota do jornalista.

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Para ouvir o texto e o acréscimo como foram lidos na emissora, clique abaixo:

Texto original, conforme o jornalista (na internet circulam várias versões com uma série de acréscimos, entre as quais uma com referência ao filho de Lula):

OS GENERAIS PRESIDENTES

Carlos Chagas

Erros foram praticados durante o regime militar, eram tempos difíceis. Claro que no reverso da medalha foi promovida ampla modernização de nossas estruturas materiais. Fica para o historiador do futuro emitir a sentença para aqueles tempos bicudos.

Mas uma evidência salta aos olhos.

Quando Castelo Branco morreu num desastre de avião, verificaram os herdeiros que seu patrimônio limitava-se a um apartamento em Ipanema e umas poucas ações de empresas públicas e privadas.

Costa e Silva, acometido por um derrame cerebral, recebeu de favor o privilégio de permanecer até o desenlace no palácio das Laranjeiras, deixando para a viúva a pensão de marechal e um apartamento em construção, em Copacabana.

Garrastazu Médici dispunha, como herança de família, de uma fazenda de gado em Bagé, mas quando adoeceu, precisou ser tratado no Hospital da Aeronáutica, no Galeão.

Ernesto Geisel, antes de assumir a presidência da República, comprou o Sítio dos Cinamonos, em Teresópolis, que a filha vendeu para poder manter-se no apartamento de três quartos e sala, no Rio.

João Figueiredo, depois de deixar o poder, não aguentou as despesas do Sítio do Dragão, em Petrópolis, vendendo primeiro os cavalos e depois a propriedade.

Sua viúva, recentemente falecida, deixou um apartamento em São Conrado que os filhos depois colocaram à venda, ao que parece em estado lamentável de conservação.

Não é nada, não é nada, mas os cinco generais-presidentes até podem ter cometido erros, mas não se meteram em negócios, não enriqueceram, nem receberam benesses de empreiteiras beneficiadas durante seus governos. Sequer criaram institutos destinados a preservar seus documentos ou agenciar contratos para consultorias e palestras regiamente remuneradas.

Bem diferente dos tempos atuais, não é?

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As crianças e a tortura dos pais from Luiz Carlos Azenha on Vimeo.

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