por Artur Scavone, especial o Viomundo
As cenas dessa quinta-feira, 20 de junho, mostraram a radicalização do movimento conjugada com sua vitória. A juventude que foi às ruas, a partir do chamamento do MPL, apoiada por todos setores da população, foi vitoriosa em praticamente todas as cidades onde as manifestações eclodiram. As comemorações, por outro lado, também mostraram que há muito mais tensões disputando o movimento do que as que aparecem à primeira vista.
Relatos de vários militantes mostram que as atividades de depredação, em muitos casos, foram sistemáticas. E é preciso dizer que a recusa de partidos que sempre estiveram ao lado do MPL, a exemplo do próprio PSTU ou Causa Operária, é uma mostra grave da despolitização do movimento. Que o PT tenha tido suas bandeiras derrubadas, é um triste fato absolutamente esperado. Não é preciso comentar.
Mas a derrubada das bandeiras partidárias somada à palavra de ordem “o povo unido não precisa de partido” não tem um sentido tão somente anarquista: esconde o resultado do bombardeio do PIG contra os políticos em geral, todos corruptos e corruptores, apostando na desmoralização da política e a criação de espaço para soluções à direita.
Todos sabemos que a explosão das massas enraivecidas com suas mazelas pode conduzir a muitas coisas, progressistas ou fascistas. Mas essa toada lacerdista da mídia é conhecida da nossa história, e está mostrando seus resultados agora.
Movimento de massas sem pauta de reivindicações não permite o diálogo, não abre espaço para a canalização das forças transformadoras para um rumo progressivo. Se os partidos à esquerda não estão conseguindo nem estão em condições de disputar os rumos do movimento, restará à mídia dar-lhe caminho. Uma perspectiva aterradora.
É preciso que se construa uma bandeira capaz de unificar os anseios diversos expressos de forma variada pelo movimento, e que seja capaz de canalizar as lutas para novos patamares. A reforma política, através de uma Constituinte exclusiva para esse fim, poderá cumprir esse papel, porque aglutina centralmente o descontentamento acumulado na história recente do país e abre uma perspectiva concreta de disputa organizada dos rumos políticos.
O único personagem público do mundo político nesta conjuntura, com condições e credibilidade para pedir o apoio das massas a uma medida transformadora, é a presidenta Dilma. Compete a ela fazer esse chamamento. Ou deixar que os os barões da mídias ocupem o espaço vazio.
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