Lula Miranda: “Querem condenar e prender o Lula!”

Tempo de leitura: 4 min

por Lula Miranda, na Carta Maior, em 20.09.2012

Foi essa a frase que ouvi de um popular esses dias, num misto de lamento e advertência, mas em alto e bom som: “querem prender o Lula”. A princípio não dei a devida importância, pois aquela frase, naquele instante, me soou um tanto exagerada e despropositada. Mas os fatos que se seguiram dias depois e os tantos e reiterados “golpismos” engendrados pela banda mais conservadora das nossas elites acionou em mim o botão de “ALERTA”, e agora compartilho com vocês essa minha justificada preocupação: Querem condenar e prender o Lula!

Primeiro, salvo engano já em 2005, tentaram dar um golpe e apear o então presidente Lula da Presidência. Alguns políticos mais esclarecidos (Ciro Gomes e mais uns poucos à frente) fizeram ver aos golpistas de sempre o quão temerário, deletério e injusto ao país seria iniciar um processo daqueles: o impedimento do primeiro operário eleito presidente da República no Brasil.

O homem que finalmente conseguira na prática o tão almejado “pacto social”. Já imaginaram o que seria? Pode acreditar: as nossas elites chegaram a cogitar impingir mais essa nódoa na nossa história, já tão manchada por golpes de Estado, ditaduras, escravidão, coronelismo, os 111 chacinados no Carandiru em SP e outras infâmias.

Eles, os golpistas, também “imaginaram” o “desacerto” e, naquele momento, desistiram dessa sórdida trama.

Em seguida, todos acompanhamos, o governo Lula prosseguiu sendo massacrado diuturnamente por todos os veículos da grande imprensa.

E assim foi até encerrar o seu mandato e eleger a sua sucessora. A imprensa que deve, por princípio, exercer livremente o seu dever constitucional de ser um rigoroso vigilante e crítico do mandatário da ocasião, extrapolou e tomou partido. Chegamos ao presente.

Recentemente, um semanário de baixíssimo nível editorial, mas que vende cerca de um milhão de exemplares por semana, não lidos por uma classe média conservadora, e que serve ao ardiloso pretexto de pautar os demais veículos desse “famigerado consórcio” da mídia brasileira, tenta, mais uma vez, associar Lula ao suposto “mensalão” (que, como, hipocrisia a parte, sabemos todos há muito, trata-se de atabalhoado e criminoso know-how de financiamento de campanha, via caixa 2, criado por essas mesmas elites conservadoras para alimentar o caixa dos seus partidos e aliados e “vendido” ao PT).

A grande mídia então em seguida, na mais recente vaga golpista, com insidioso oportunismo e metrificado espalhafato fez a sua próxima jogada: providenciou a publicidade gratuita nos grandes jornais de uma suposta ameaça da dita “oposição” de processar o ex-presidente.

Pretendiam assim, para depois execrá-lo em praça pública, incluí-lo, sorrateiramente, no rol dos supostos culpados – vale ressalvar que na ação em julgamento no STF Lula nem é citado. Nunca sequer foi acusado, passados 7 anos da denúncia – nem pelo Procurador que instaurou esse processo nem por qualquer dos réus.

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A dita “oposição” recuou e estrategicamente postergou o seu ataque infame. Mas alguns poucos observadores enxergaram para além das aparências, entretanto, e perceberam/acusaram o golpe.

Não pretendo absolver previamente nenhum dos indiciados nesse julgamento que ora se dá no Supremo, nem mesmo aqueles a que poderia reputar algum grau de inocência, tampouco condenar, temo pela sua lisura e justeza, pois pretendem transformar a mais alta corte do país num tribunal de exceção – e de excessos. Querem atirar os bois de piranha ao rio para que a boiada prossiga passando incólume.

Reproduzo aqui as palavras do Senador Jorge Viana, proferidas em discurso na tribuna do Senado (os grifos são meus):

“Agora, nós estamos a duas semanas da eleição. E o que é que a gente vê? A velha, preconceituosa elite brasileira se levantando. Não conseguem compreender, aceitar, que a mais Alta Corte de Justiça do País julgue. Não. Querem influir na composição da Corte. Querem decidir o calendário de julgamento da Corte. É isso que o Brasil está vendo. E querem agora conduzir o julgamento da Corte. Isso é um desserviço ao País.

O problema do País, durante muitos séculos, foi sua elite. Não é o seu povo. Isso, os estudiosos da beleza da cultura brasileira já identificaram. Agora, o Presidente Lula foi o que mais trabalhou pelos pobres, pela inclusão social – eu estou falando de dezenas de milhões de brasileiros –, pela geração de empregos, pelo resgate de uma posição de destaque do Brasil diante do mundo, e é, de longe, o mais perseguido Presidente da história do Brasil, por uma parcela da elite brasileira preconceituosa, intolerante com o PT e com o Lula. Não aceitam que o Presidente Lula seja um ótimo ex-presidente. Querem atacá-lo agora como ex-presidente.”

Então, parece-me, aquele brasileiro, aqui chamado de “um popular”, com a sabedoria e singeleza de um homem do povo, pode estar com a razão: “querem prender o Lula”; querem condenar o Lula, seu governo e sua herança; querem impedir, em definitivo e mais uma vez (lembro-lhes o golpe de 1964), um projeto de país que “apenas” dá os primeiros e tímidos passos de uma longa caminhada rumo a uma paulatina, lenta e progressiva distribuição mais equânime da renda e da riqueza, e assim, ao menos, minorar a enorme dívida social imposta ao povo brasileiro por essas mesmas elites que agora pretendem (de novo) sabotar a democracia e a esse mesmo povo com métodos escusos e silentes.

Mas mais esse golpe nós não vamos permitir. Não dessa vez.

Lula Miranda é poeta e cronista. Foi um dos nomes da poesia marginal na Bahia na década de 1980. Publica artigos em veículos da chamada imprensa alternativa, tais como Carta Maior, Caros Amigos, Observatório da Imprensa, Fazendo Media e blogs de esquerda.

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