
por Luiz Carlos Azenha
O resultado final foram duas capas históricas, que podemos atribuir à afinidade ideológica dos editores dos principais jornais de São Paulo.
Foram publicadas no sábado, véspera do primeiro turno das eleições presidenciais de 2006.
O acidente a que se referem as capas, da Gol, não saiu no Jornal Nacional da noite anterior.
O JN, obviamente, abriu com uma longa reportagem sobre a aparição do dinheiro que aloprados do PT supostamente usariam para comprar um dossiê contra o candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra.
Na opinião de Amaury Ribeiro Jr., o autor do Privataria Tucana, foi uma clássica operação de bastidores de campanha, em que os serviços de inteligência fazem trapaça uns contra os outros. A vantagem do PSDB, nestes casos, é que sempre conta com amplo apoio na mídia para vender o peixe de acordo com os objetivos do partido.
Imagem de dinheiro vivo, em campanha eleitoral, faz sucesso: foi graças a uma apreensão na sede da empresa Lunus, que estrelou o Jornal Nacional e a Veja, que a pré-candidata Roseana Sarney, então no PFL, desistiu de concorrer à presidência, abrindo caminho para José Serra disputar a eleição presidencial de 2002.
[Clique aqui para ler o discurso em que o ex-presidente Sarney denunciou o golpe]
Para quem perdeu o escândalo dos aloprados: o dinheiro foi apreendido em um hotel de São Paulo e seria entregue em troca de um dossiê de fotos e imagens de Serra ao lado de envolvidos no escândalo da compra de ambulâncias superfaturadas pelo Ministério da Saúde, ambulâncias que foram distribuídas a prefeituras no período em que o tucano foi ministro da Saúde.
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A prisão dos “aloprados”, que foram assim definidos pelo então presidente Lula, aconteceu dias antes do primeiro turno. Mas o vazamento das fotos do dinheiro, por parte do delegado da PF Edmilson Bruno, por coincidência se deu na reta final.
Durante a campanha de 2010 vários profissionais da TV Globo de São Paulo anteviam o que viria a acontecer.
Um deles ligava para o ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, alertando sobre possível golpe eleitoral.
Uma reportagem que tratava do escândalo das ambulâncias, que nasceu de um protesto de jornalistas da emissora, foi engavetada.
O escândalo dos aloprados foi responsável, em parte, pelo segundo turno das eleições presidenciais de 2006, em que Lula bateu Geraldo Alckmin. Outro motivo teria sido a ausência do presidente Lula do debate final, na TV Globo.
Foi também o que levou este site a se tornar conhecido: publicamos com exclusividade um relato sobre a existência de uma gravação entre um grupo de repórteres e o delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno, em que eles combinavam como aconteceria o vazamento das fotos.
Um dos repórteres envolvidos nos procurou com a gravação. Eu estava diante da casa do candidato José Serra, de plantão, ao lado de outros repórteres. Ouvi duas vezes e, por acreditar que era fato jornalístico relevante, publiquei no site, então hospedado na Globo.com.
Mais tarde, apuramos que o delegado Bruno não foi punido por vazar as fotos: foi suspenso por nove dias por mentir a superior.
Agora, na CartaCapital, Leandro Fortes traz novas informações sobre o escândalo (via Facebook):
20.07.2012 11:53
Aloprados e aloprados
Durante as investigações da Operação Monte Carlo, a Polícia Federal apreendeu um material que pode ser a pista para a compreensão de uma dos mais estranhos episódios da história política recente. Trata-se de gravações de uma conversa entre o ex-sargento da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, e o jornalista Mino Pedrosa, ex-repórter da Isto É e hoje autor do site QuidNovi, sobre o chamado “escândalo dos aloprados”, como ficou conhecida a suposta tentativa de compra de um dossiê contra o então candidato a governador de São Paulo José Serra (PSDB) em 2006.
Curiosamente, o material foi apreendido na casa de Adriano Aprígio de Souza, ex-cunhado do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Souza foi preso em julho pela PF, na esteira das investigações sobre o grupo. Ao analisar o material, a PF encontrou o grampo de uma conversa ocorrida em 2006 entre Dadá e Mino Pedrosa no qual o jornalista dizia ter informações sobre como o dossiê foi negociado. Dadá é apontado pela PF como araponga do grupo de Cachoeira.
O escândalo, que tumultuou as eleições daquele ano, eclodiu após um assessor da campanha de Aloizio Mercadante, candidato do PT ao governo paulista, ser pego ao entrar num hotel em São Paulo para supostamente comprar informações contra o adversário tucano. O material conteria documentos que ligariam o ex-ministro da Saúde à chamada máfia dos sanguessugas, como ficou conhecido o grupo investigado por desviar recursos da saúde.
Na conversa, possivelmente gravada por Dadá, Mino Pedrosa e o araponga conversam sobre as origens do escândalo dos aloprados. O jornalista revela que o dossiê havia sido confeccionado por Luiz Antonio Trevisan Vedoin, pivô dos sanguessugas, e oferecido aos petistas. No entanto, quando a negociação avançou, o mesmo Vedoin entrou em contato com um emissário da campanha José Serra – que teria acionado a Polícia Federal. O plano de Vedoin era criar um fato político contra o PT durante a eleição.
Em seguida, Mino Pedrosa diz ter em mãos informações que poderiam ser a “bala de prata” para “matar o Barbudo”, numa clara referência ao então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, postulante à reeleição. O jornalista afirma ter informações de que a proximidade de Lula com seu ex-assessor pessoal Freud Godoy, suspeito de participação na compra do dossiê, poderia mudar os rumos da eleição de 2006.
Para comprovar as suspeitas, Pedrosa pede a Dadá que obtenha clandestinamente os documentos junto ao Coaf e à Receita Federal sobre movimentações financeiras de Lula para confirmar as suspeitas.
O episódio mostra como o grupo de Cachoeira agia para alimentar informações para tumultuar o ambiente político – e que nem mesmo o presidente estava imune a ação dos arapongas.
PS do Viomundo: Quando conto este episódio a estudantes de Jornalismo, em palestras, inclusive com a projeção da capa dos jornais, eles custam a acreditar que tenha acontecido de verdade. Meu trecho favorito da gravação do delegado é aquele em que ele diz que juntou o dinheiro para fazer volume. Delegado e cenógrafo, com direito a estrelar a propaganda eleitoral de Geraldo Alckmin entre o primeiro e o segundo turnos (a imagem abaixo é da propaganda do tucano na TV)!





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