Coordenador-geral da campanha de Haddad: “É mentira que o D’Urso foi convidado para vice”
Tempo de leitura: 7 minpor Conceição Lemes
Circulou nas últimas horas na internet o boato de que Flávio D’Urso, candidato do PTB à prefeitura de São Paulo, teria sido convidado para vice de Fernando Haddad.
“É mentira, sequer foi cogitado por nós”, acabou de me informar Antonio Donato. “É informação plantada pelos adversários.”
Antonio Donato é vereador, presidente do PT municipal e coordenador-geral da campanha de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo.
“Nós estamos avançando a aliança com o PCdB”, disse-nos. “E, assim, que as alianças estiverem consolidadas, vamos discutir com todas essas forças apoiadoras o nome do vice.”
D’Urso foi um dos idealizadores do movimento tucano-direitista Cansei. Foi com uma matéria denunciando-o que eu estreiei no Viomundo, em 2008.
O GOLPE D’URSO
Atualizado em 21 de abril de 2008 às 16:13 | Publicado em 21 de abril de 2008 às 15:08

por Luiz Carlos Azenha
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Este site recupera seus arquivos, que estão em um banco de dados. Só vamos republicar os relevantes, como a notável estréia da jornalista Conceição Lemes, em 2007. Na ocasião, o Cansei, lançado pela seccional de São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), ainda tinha um site, no qual falava sobre as adesões ao movimento. Registrava o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) como a adesão de número 26. O médico Henrique Carlos Gonçalves de fato compareceu ao lançamento do movimento, em 26 de julho de 2007.

Na foto de apresentação dos cartazes da campanha, ele apareceu segurando a imagem de um homem negro. O site da Ordem dos Advogados do Brasil – seção São Paulo, que liderou o Cansei, em nota de 1º de agosto, informou: as lideranças presentes na sede da OAB-SP comprometeram-se a colocar toda a estrutura de suas organizações para apoiar o Movimento, entre elas Henrique Carlos Gonçalves, presidente do Conselho Regional de Medicina.
Mas, em entrevista à repórter Conceição Lemes, o presidente do Cremesp desmentiu o Cansei e o que foi publicado no site da OAB-SP. Em 13 de agosto, ele enviou ao presidente da OAB-SP, Luiz Flávio Borges D’ Urso, uma carta solicitando a correção do “mal entendido”. O pedido foi ignorado. Até o dia 25 de setembro, véspera da publicação da entrevista abaixo, o nome do Conselho Regional de Medicina continuava lá.
Segue a entrevista da repórter:
Conceição Lemes — Afinal de contas, o Cremesp apóia ou não o “Cansei”?
Henrique Carlos Gonçalves – Absolutamente não apóia.
Conceição Lemes — Mas o senhor posou para fotos. É quem segura o cartaz que mostra o único negro que participa da campanha, além do cantor e compositor Seu Jorge. Em release à imprensa, constava o Cremesp como apoiador…
Henrique Carlos Gonçalves — O que aconteceu foi o seguinte. O doutor D’Urso, presidente da OAB, convidou o presidente do Cremesp para o lançamento de uma campanha cívica que ocorreria na Ordem dos Advogados do Brasil, na sede da Praça da Sé. Numa retribuição de gentileza, fui a essa reunião. Só que, na verdade, era uma coletiva de imprensa e não uma reunião. Imagine a situação. Eu te convido para um evento no Cremesp. Você comparece. E, aí, de repente, sem a tua autorização, eu solto um release, dizendo que você apóia o meu movimento. Isso não se faz. Primeiro, eu nem sabia o que era o tal movimento cívico. Segundo, a adesão do Conselho enquanto instituição a qualquer tipo de movimento se dá por decisão da Diretoria e da Plenária. Se quisessem o nosso apoio, teriam que fazer isso de maneira formal. Até porque advogado faz tudo de maneira formal. Isso não foi feito. Portanto, houve por parte dos organizadores do “Cansei” certa imprudência, para não usar outros termos, de colocarem o nome do Cremesp como apoiador. É um direito da Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo], da Associação Comercial de São Paulo, da Ordem, dos publicitários fazerem uma campanha. Mas não se alinha às posições que o Cremesp tem adotado.
Conceição Lemes — Mas, pelo andar da carruagem no dia do lançamento, o senhor não percebeu que era um movimento partidário, golpista, contra o governo do presidente Lula?
Henrique Carlos Gonçalves – Claro. Tanto percebi que, na reunião da Diretoria na segunda-feira seguinte [ocorreu no dia 28 de julho; o lançamento foi na sexta, 26], a minha posição foi contra a nossa adesão. Da mesma forma, me posicionei na reunião da Plenária na terça [29 de julho], quando estavam presentes todos os membros do Conselho. Contei-lhes que tínhamos sido convidados para participar de um movimento. E que, embora o doutor D’Urso houvesse dito que o movimento não tinha caráter político muito menos partidário, eu achei-o esquisito. Por isso a minha proposta era de que não deveríamos aderir. A Diretoria e o Conselho do Cremesp concordaram comigo. Não era pertinente nem oportuna a nossa participação. Rejeitamos, assim, a adesão.
Conceição Lemes – Mas o senhor posou para as fotos da campanha. Isso pegou mal, concorda?
Henrique Carlos Gonçalves – Pegou mal, sim. Foi ruim a utilização da nossa imagem. Eu fui convidado para uma reunião e não para uma coletiva, para ser fotografado.
Conceição Lemes – Como se sentiu posando com um cartaz na mão?
Henrique Carlos Gonçalves – É complicado. Ponha-se no meu lugar. Como é que eu poderia prever essa situação? A menos que eu tivesse algum tipo de prevenção contra a Ordem. Por exemplo, soubesse que o que vem da Ordem é ruim, comprometido, os caras vão usar a imagem. Por que então eu estava lá? Porque recebi um convite. Apenas isso.
Conceição Lemes – Considerando que tinha percebido o tom do movimento, o senhor não poderia ao menos ter deixado de posar para as fotos?
Henrique Carlos Gonçalves – Não, não teria condições de fazer isso. Quando cheguei, fui imediatamente chamado à mesa.
Conceição Lemes – Quer dizer que foi bem armado?
Henrique Carlos Gonçalves – Parece que sim, porque, na verdade, não tinha reunião nenhuma. Era uma coletiva.
Conceição Lemes – Então lhe apresentaram um prato feito?
Henrique Carlos Gonçalves — Exatamente. Quando eu cheguei, fui levado ao oitavo andar. Mas não entrei. Imediatamente a recepcionista me levou para o segundo andar, onde estava toda a imprensa. O D’ Urso já estava na mesa. Aí, eu e o representante do CREA [Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de São Paulo] fomos chamados. Aparentemente o processo com o CREA foi idêntico ao nosso *.
Conceição Lemes – O lançamento do “Cansei” foi em 26 de julho. No dia 28, a Diretoria do Cremesp decidiu não apoiar o movimento. No dia 29, a Plenária referendou a decisão. Por que só no dia 13 de agosto o Conselho reagiu oficialmente à inclusão do seu nome no “Cansei”?
Henrique Carlos Gonçalves – Como não participamos de nada do projeto e apenas presenciamos a exposição do D’ Urso, nós entendíamos que isso não significava aval ao movimento. Até que, em anúncio publicitário veiculado no dia 12 de agosto, a Ordem colocou o Cremesp como parte do “Cansei”. Aí, imediatamente mandei um ofício direto ao presidente D’Urso, comunicando que a minha presença no lançamento da campanha não engajava o Conselho. Era mera atenção a um convite. Também que Diretoria e a Plenária examinaram o tema e decidiram pela não adesão do Conselho enquanto instituição. Por fim, que corrigisse o mal entendido.
Conceição Lemes – Esse tipo de comportamento é comum entre Conselhos?
Henrique Carlos Gonçalves – Não é comum, não. Até porque são tribunais de ética. O respeito à individualidade e à independência de cada instituição é muito cultuado entre os Conselhos. Nós não fazemos verificação prévia quando um Conselho nos convida. Não tem esse aspecto de desconfiança. A relação é de muita lealdade.
Conceição Lemes – Está aí uma palavra-chave: ética. Continuamente os organizadores do “Cansei” falam em ética. Porém: 1) Não lhe colocaram qual o objetivo real do movimento; 2) Usaram a sua imagem e o nome do Conselho sem a devida autorização; 3) Distribuíram release, dizendo que o senhor não só apoiava o “Cansei”, como colocava o Cremesp à disposição do movimento. Isso não é falta de ética?
Henrique Carlos Gonçalves – Eu deixo para o próprio D’ Urso fazer esse julgamento. Ele também é presidente de um conselho de ética. Agora, se receber qualquer convite da Ordem, eu agirei como quando recebo release de um partido político. Verificarei antes o que trata. O Cremesp não tem necessidade de se apoiar em eventos da Ordem para ter destaque na mídia.
Conceição Lemes — O senhor acha que caiu no conto…
Henrique Carlos Gonçalves — No conto da reunião.
Conceição Lemes – Não seria o conto do “Cansei”?
Henrique Carlos Gonçalves — Eu prefiro não qualificar o comportamento. O certo é que o D’ Urso deveria ter pedido autorização para colocar o nome do Conselho e o meu. É de praxe que se faça. Não o fez. Portanto, estava desautorizado a incluir nosso nome. Insisto. A minha ida não significou nenhuma adesão ao movimento. A gente atendeu apenas gentilmente o convite de uma co-irmã de tribunal de ética.
Conceição Lemes — O senhor acha que foi vítima de uma ursada?
Henrique Carlos Gonçalves — Não sei (ele ri). Não quero fazer nenhuma analogia.
Conceição Lemes – A partir de agora, a relação do Cremesp com a OAB-SP muda?
Henrique Carlos Gonçalves — Sem dúvida alguma, muda. Imagine que um determinado Conselho me convida para um evento, eu vou e lá descubro que é intolerável. O que faço? Passo a ter prevenção contra essa instituição. Agora, qualquer convite que vier da OAB-SP, nós vamos ficar com o pé atrás, como eu sinceramente estou.
Quem é Conceição Lemes:
Há 25 anos atua como jornalista especializada em saúde. Já ganhou 22 prêmios por reportagens nessa área. Entre eles, o Esso de Informação Científica e José Reis de Jornalismo Científico, concedido pelo CNPq.
Publicado originalmente em 26 de setembro de 2007
Texto da carta enviada pelo presidente do CREMESP à OAB-SP:
“Senhor Presidente,
Sobre o Movimento Cívico pelos Direitos dos Brasileiros (Movimento Cansei), vimos, por meio desta, informar que este Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), por meio de sua Reunião de Diretoria e Seção Plenária, decidiu pela não adesão à iniciativa. Esclareço que minha presença, no dia 26 de julho de 2007, no ato de lançamento da campanha, atendeu ao gentil convite da Presidência da Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo, especificamente para a apresentação dos objetivos e dos materiais promocionais do movimento. A nossa participação seguiu a prática de cooperação e de reciprocidade de comparecimento em eventos realizados pelas duas instituições. A assinatura em peças publicitárias e em notas conjuntas à imprensa dependeria de autorização formal do Cremesp, o que de fato não ocorreu.
Na expectativa de que o mal entendido seja corrigido,
Dr.Henrique Carlos Gonçalves
Presidente”
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