ATUALIZAÇÃO em 21/05/2010 às 17h30
A Campanha Nacional de Vacinação contra a Gripe Suína foi prorrogada até 2 de junho. O anúncio foi feito no Rio de Janeiro pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que divulgou outra novidade: a vacinação de crianças de 2 a 4 anos e 11. Esta é a faixa etária com maior vulnerabilidade depois de gestantes, crianças de 6 meses a 2 anos, portadores de doenças crônicas, independentemente da idade, profissionais de saúde e indígenas aldeados.
Se você faz parte dos demais grupos vulneráveis e ainda não se imunizou, poderá fazê-lo até 2 de junho. As crianças com até 4 anos e 11 meses deverão tomar duas meias-doses.
Até 20 de maio, 61 milhões de brasileiros tinham se vacinado. De janeiro a 8 de maio de 2o1o, foram registradas 540 internações pela gripe suína, sendo 18% gestantes. Este ano já há 64 óbitos, 30% eram grávidas.
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por Conceição Lemes
Em toda campanha de imunização no mundo, grupos contrários às vacinas disseminam boca a boca e mais recentemente via internet mensagens aterrorizantes.
Em 2008, durante a Campanha Nacional de Vacinação contra a Rubéola, circulou um e-mail, dizendo que o governo federal pretendia esterilizar todas as pessoas em idade reprodutiva para controle da natalidade. Não vingou. A vacinação foi um sucesso e o Brasil está prestes a receber o certificado de País Livre da Rubéola e da Síndrome da Rubéola Congênita. Graças às campanhas de imunização o Brasil também já não tem mais poliomielite, sarampo e varíola.
O alvo da vez é a vacina contra a influenza H1N1, influenza pandêmica, nova gripe, ou gripe suína, como é mais conhecida. Desde março, e-mails amedrontadores espalham-se: vacina assassina, genocídio programado pela Organização Mundial de Saúde e indústria farmacêutica, contém células de câncer de animal que pode provocar câncer nas pessoas, entre outros apelos.
Utilizando domínios falsos, grupos antivacina forjaram inclusive o alerta abaixo, como se fosse do Ministério da Saúde.
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Certas comunidades evangélicas engrossam o movimento. “Minha empregada foi abordada por um pastor de São Sebastião [cidade do Distrito Federal], que lhe disse que a vacina contra a H1N1 ‘é coisa do demo’”, alertou, por e-mail, o Ministério da Saúde a jornalista e publicitária brasiliense Luiza Mello. “O pastor disse ainda que ‘quem tomar esta vacina será expurgado do planeta daqui a 10 anos e que há um microorganismo que foi colocado nela a serviço do capeta para matar grande parte da população da Terra’.”
“Pela primeira vez em 35 anos de profissão vejo uma ação mais intensa dos grupos antivacina no Brasil, que tradicionalmente recebe bem as campanhas de imunização”, afirma o pediatra e professor Gabriel Oselka, membro do Comitê Técnico Assessor de Imunizações do Ministério da Saúde. “A fácil disseminação dessas mensagens equivocadas pela internet e as notícias de que a segunda onda da pandemia no Hemisfério Norte foi mais branda do que se esperava têm contribuído para que pessoas vulneráveis rejeitem a vacinação.”
Segundo o Ministério da Saúde, 57 milhões de brasileiros já se imunizaram contra o vírus A (H1N1), causador da gripe suína: 100% dos profissionais de saúde e crianças menores de 2 anos foram imunizados; 76% dos portadores de doenças crônicas; 67 % das gestantes; e 75% dos adultos de 20 a 29 anos. Agora, pelo calendário da campanha nacional de vacinação, é a vez de quem tem de 30 a 39 anos.
O fato é que: 1) a campanha vai até 21 de maio, sexta-feira; 2) o inverno, época em que ocorrem mais casos de gripe, está chegando, e a vacina leva até 21 dias para agir completamente no organismo; 3) não dá para garantir que o vírus será mais “manso” também no Hemisfério Sul; 4) muita gente que deveria se imunizar, ainda não se vacinou por medo do que leu ou ouviu dizer nos últimos meses.
Considerando que está se esgotando o tempo para os brasileiros se protegerem da gripe suína, o Viomundo apresentou os argumentos antivacina que estão na rede a estes cinco médicos: Eduardo Hage Carmo, diretor de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde; Celso Granato, professor de Infectologia e responsável pelo Laboratório de Virologia Clínica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Marcos Boulos, professor titular de Infectologia da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), Gabriel Oselka, professor associado do Departamento de Pediatria da FMUSP e Denise Pedreira, doutora em Obstetrícia pela FMUSP especialista em Medicina Fetal. Aproveitamos a oportunidade e intercalamos dúvidas de leitores. Leia o que os cinco especialistas respondem e tire a sua própria conclusão.
Viomundo – Há correntes de e-mails, sites e no You Tube, alertando sobre os perigos da vacina contra a gripe suína. Entre as várias “justificativas” para as pessoas não se vacinarem estão as de que “o governo federal não confia na segurança da vacina contra o vírus A (H1N1), por isso deu imunidade às indústrias farmacêuticas contra ações judiciais; assim, em caso de óbitos e invalidez por causa da vacina, não poderão ser processadas”.
Eduardo Hage – São informações totalmente falsas. Primeiro, a vacina é segura e eficaz. No Hemisfério Norte mais de 300 milhões de pessoas se imunizaram e não se registraram efeitos colaterais graves. Segundo, é mentira que o governo federal tenha assinado qualquer termo que dê imunidade judicial às indústrias farmacêuticas. As empresas são responsáveis pelos seus produtos. Terceiro, esses e-mails são “cozinhados” de mensagens igualmente irresponsáveis e prejudiciais à saúde pública que circularam antes no exterior. São “teorias conspiratórias”, que objetivam provocar pânico e atrapalhar as campanhas de imunização.
Marcos Boulos – Se houvesse problemas com a vacina, nenhum de nós recomendaria, concordam? Esses grupos antivacina agem como se toda a comunidade científica e o governo brasileiros estivessem contra a população. Divulgar informações terroristas é a pior praga que nós temos. É um desserviço à saúde pública.
Viomundo – Esses e-mails propagam que “pessoas já começaram a morrer ou ficaram inválidas após tomarem a vacina contra a gripe suína”.
Eduardo Hage – Outra mentira. Os Estados Unidos e o Brasil têm um sistema de monitorização de eventos adversos efetivo. Naquele país, mais de 100 milhões de pessoas foram distribuidas. Nenhum óbito relacionado à vacina foi registrado. No Brasil, mais de 57 milhões já se imunizaram, inclusive mais de 4 milhões de crianças de 6 meses a 2 anos de idade e 2 milhões de gestantes. Também não tivemos nenhum óbito nem caso de invalidez ou aborto que tenha sido associado à vacinação. Em compensação, de janeiro a 3 de abril de 2010, tivemos 361 internações pela gripe H1N1, 50 óbitos confirmados.
Viomundo – Qual a letalidade da gripe suína? Um médico de Minas Gerais contrário à vacinação comentou aqui no site que “esta virose é banal, de baixa letalidade (0,03%) e de fácil contágio”.
Eduardo Hage – De fácil contágio, sim, como todos os demais vírus de gripe. Inicialmente, acreditava-se que o vírus A (H1N1) fosse mais patogênico do que o da gripe sazonal, comum. Porém, até o momento, ele não demonstrou ser mais violento ou mais mortal na população geral. Mas não é banal. Já temos 50 óbitos confirmados no primeiro trimestre deste ano. São pessoas que, se houvesse disponibilidade da vacina neste período, provavelmente estariam vivas. A eficácia média da vacina é superior a 95%. Quanto à letalidade, somente é possível calcular para os casos graves da gripe, pois desde o ano passado não se registram os casos leves. Essa letalidade em 2009 foi de 4,6%, e é calculada considerando-se o número de óbitos em cada 100 pessoas com complicações pela nova gripe. Isso significa que de cada 100 pessoas que têm complicações pela gripe pandêmica, 4,6 podem morrer.
A maioria das pessoas desenvolve a forma leve da doença e se recupera sem uso de medicamentos. Assim como na gripe comum, portadores de doenças crônicas, gestantes e crianças com menos de 2 anos são os mais vulneráveis. A principal diferença é que o vírus da gripe pandêmica tem potencial maior de causar doença grave em pessoas saudáveis de 20 a 39 anos. Em compensação, afeta menos as com mais de 60 anos. Daí os idosos não fazerem parte do grupo de pessoas vulneráveis.
Marcos Boulos – Tem um outro detalhe. Como é um vírus novo, pouca gente teve contato e está imunizado naturalmente. E a tendência é ele disseminar na população. Assim, a maioria que tiver contato, vai “pegar” o H1N1 se não tiver tomado a vacina
Viomundo – Os e-mails afirmam que a vacina contém mercúrio. É verdade?
Gabriel Oseka – A vacina contra a gripe A contém mercúrio, sim, mas em quantidade extremamente mínima – 25 microgramas por dose de 0,5 ml – e não oferece nenhum risco. É usado para evitar crescimento de fungos ou bactérias caso a vacina seja contaminada acidentalmente na hora da punção repetida no frasco de múltiplas doses.
O mercúrio está presente em quase todas as vacinas usadas, como a vacina tríplice bacteriana (difteria, tétano, coqueluche – a DPT) ou a tetravalente (DPT + meningite por Haemofilus influenzae), tríplice viral (contra caxumba, rubéola e sarampo) e febre amarela. Nada a ver com a ingestão de grandes quantidades de mercúrio, como ocorreu no Japão, onde comunidades inteiras que consumiram peixes tiveram intoxicação pelo metal. Em altas doses, aí sim, o mercúrio é tóxico para o sistema nervoso central [cérebro].
Viomundo – Fala-se que, devido ao mercúrio, causa autismo em crianças.
Gabriel Oselka – Não é verdade.
Viomundo – E o timerosal, ou tiomersal?
Eduardo Hage – É o principio ativo do Merthiolate, que é usado na vacina.
Em 2004, o Instituto de Medicina dos Estados Unidos (IOM, sigla em inglês de Institute of Medicine), o braço de saúde da Academia Nacional de Ciências, realizou uma revisão da segurança das vacinas. Examinou a hipótese de que as vacinas contendo timerosal poderiam eventualmente estar associadas ao autismo. Ficou demonstrado que não há nexo de causalidade entre as vacinas contendo timerosal e autismo. [Nota do Viomundo: o IOM é o braço de saúde da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos; é uma organização não governamental independente].
A Organização Mundial de Saúde (OMS), baseada em outros estudos, concluiu também que a quantidade de timerosal contida nas vacinas não causa autismo em crianças nem qualquer problema de saúde em adultos. Portanto, até o momento não há evidências científicas de que possa ter efeitos danosos.
Viomundo – A pessoa que alérgica ao timerosal pode se vacinar?
Gabriel Oselka – Se quando você usa esse produto formam-se bolhas, esse tipo de alergia não contraindica a vacina. Ela é contraindicada a quem teve choque anafilático após o seu uso.
Eduardo Hage – Anafilaxia é um evento raro que pode ocorrer após a ingestão de alimentos, uso de remédios e vacinas, entre outras substâncias. Caracteriza-se por reação alérgica sistêmica, grave e rápida. A pessoa pode até apresentar erupção generalizada na pele, queda da pressão arterial, aceleração dos batimentos cardíacos, tonturas, dificuldade para respirar, eventualmente convulsão. Pessoas altamente alérgicas à gema de ovo não podem tomar vacinas produzidas a partir de gemas de ovos embrionários, como as contra a febre amarela, gripe comum e influenza A.
Viomundo – Quem é alérgico pode tomar a vacina?
Eduardo Hage – A vacina não pode ser aplicada apenas em que tem alergia a ovo. Em outras situações que a pessoa tenha duvida se tem alergia a algum componente da vacina, procure seu médico.
Viomundo – Outra substância citada nos e-mails antivacina o óleo de esqualeno. Dizem que, como o timerosal, seria altamente tóxico e afetaria o sistema imunológico.
Eduardo Hage – Não é verdade que afeta o sistema imunológico ou causa outros danos ao ser humano. O esqualeno é um dos adjuvantes usados nas vacinas. É retirado do fígado do tubarão. Assim como o óleo de fígado de bacalhau, é um complemento alimentar, está presente em emulsões, que ajudam o organismo a absorver as vitaminas A e D.
Viomundo – O que são adjuvantes?
Celso Granato – São substâncias que aumentam a resposta imunológica do organismo à vacina, permitindo reduzir a quantidade de material viral utilizado em cada dose. São utilizados em quase todas as vacinas, inclusive na tríplice viral [contra caxumba, rubéola e sarampo, que faz parte do calendário de imunização infantil].
Gabriel Oselka – A vacina da gripe A é feita com um pedacinho da “capa” do vírus. É ele que faz com que o organismo crie anticorpos protetores contra o vírus da gripe. Ao colocar o adjuvante, você reduz o pedaço do vírus, pois a substância potencializa o seu efeito. Ou seja, com menos vírus você consegue o mesmo resultado final. No caso da vacina da gripe A, essa estratégia foi usada, pois era necessário grande número de doses em curto espaço.
Viomundo – É verdade que as substâncias adjuvantes aumentariam o risco de danos para o feto?
Eduardo Hage – Não. O Ministério da Saúde adquiriu vacinas com adjuvantes e sem adjuvantes. E preferiu recomendar às gestantes as sem adjuvantes para evitar que qualquer irregularidade na gestação pudesse ser confundida com efeitos da vacina. Mas, com base na experiência de outros países que estão vacinando desde novembro de 2009, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) orientam o uso da vacina com ou sem adjuvante.
Gabriel Oselka – Aqui, em São Paulo, a Secretaria da Saúde optou por usar indistintamente. A minha filha está no sétimo mês de gravidez e tomou com adjuvante. Na Europa, foi usada a com adjuvante. Não há nenhum relato na literatura científica de que os adjuvantes usados em vacinas possam acarretar problemas na gravidez ou causar danos ao feto.
Viomundo – Talvez por medo menos de 70% das grávidas brasileiras se imunizaram. Tem algum risco para a gestante?
Denise Pedreira – Nenhum. O risco para a gestante é não tomar a vacina e acabar tendo a forma grave de gripe A. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2009, o Brasil registrou 2.051 óbitos pela gripe pandêmica, dos quais 1.539 (75%) ocorreram em pessoas com doenças crônicas. Nas gestantes, a mortalidade foi 50% maior que na população geral. Ao todo, morreram 189 gestantes em 2009. Nós recomendamos a vacina a TODAS as gestantes. Não causa aborto nem outro tipo de problema.
Eduardo Hage – Dos 50 óbitos já confirmados em 2010 pela nova gripe (até 3 de abril), 16 eram gestantes! Portanto, um terço das mortes.
Viomundo — Suponhamos que a mulher só se descubra grávida depois de 21 de maio. Ela poderá se vacinar, mesmo após o término da campanha?
Eduardo Hage – As mulheres que se descobrirem grávidas ou engravidarem depois de 21 de maio poderão se vacinar depois, dependendo da disponibilidade da vacina. É importante lembrar que a vacinação termina nesse dia e em muitos municípios que alcançarem altas coberturas para todos os grupos vulneráveis, é possível que tenham utilizado todo o seu estoque.
Viomundo — Após tomar a vacina é preciso esperar algum período para engravidar?
Eduardo Hage — Não.
Viomundo – Grávida pode tomar a vacina da gripe comum?
Gabriel Oselka – Toda gripe – seja a nova ou a comum – é um risco para a gestante, principalmente no segundo e no terceiro trimestres. Aumenta a possibilidade de complicações. Por isso a orientação de se vacinarem contra a gripe sazonal. No Brasil, a vacina contra a gripe é disponibilizada gratuitamente na rede pública de saúde apenas para os idosos.
Viomundo – Mulher amamentando pode tomar a vacina?
Eduardo Hage – Os componentes dela não passam para o bebê por meio do leite. Portanto, mulher de 20 a 39 anos ou com alguma doença crônica, deve se vacinar, mesmo que esteja amamentando.
Viomundo – E para o feto existe algum risco?
Denise Pedreira – Não, pois a vacina não é composta por vírus vivo. Ela tem apenas um pedaço do micro-organismo, que está inativado e não tem capacidade de produzir doença. Dessa forma, é segura em qualquer período da gestação.
Viomundo – Os e-mails antivacina dizem que há evidências de malformação fetal em gestantes que tomaram a vacina.
Denise Pedreira – Essa informação é falsa. A vacina é segura e indicada para gestante em qualquer fase da gravidez. A prova é que na vacinação realizada no Hemisfério Norte [ocorreu em novembro e dezembro] não houve nenhum registro de malformação relacionado à vacina. Também não há nenhuma evidência de que eventualmente pudesse causar esse tipo de dano.
Viomundo – Dois amigos tomaram a vacina. Um teve gripe no dia seguinte. O outro não sentiu nem dor no braço, mas uma semana depois teve gripe, ficou cinco dias de cama. Essas gripes têm relação com a vacina?
Celso Granato – A vacina não provoca gripe, pois é feita apenas com um pedaço do vírus. O que às vezes acontece é que a pessoa está naquela fase da gripe em que ainda não tem sintomas — mas está infectada pelo vírus –, e aí toma a vacina. Ela iria ter os sintomas de qualquer jeito, só que como ela tomou a vacina no período, acha que foi a vacina. Mas não foi. É apenas coincidência. A proteção máxima é alcançada entre 14º e 21º dia após a vacinação. É o tempo que o organismo leva para desenvolver anticorpos contra o micro-organismo. Portanto, se você se infectar pelo próprio H1N1 imediatamente depois de se vacinar, provavelmente vai ter gripe, pois ainda não estará protegido.
Viomundo – Quais os efeitos colaterais da vacina? David, leitor do Viomundo, só teve dor no braço, enquanto amigos, febre, dor de garganta. Ele pergunta: será me deram a vacina verdadeira? Cássia disse que a filha de 1 ano teve febre muito alta e convulsão após a vacina. Por isso ela não iria dar a segunda dose. Já o filho de 1 ano e 5 meses de outror leitor do Viomundo não teve reação nenhuma à primeira dose.
Celso Granato – David, você tomou a vacina verdadeira, sim. Os efeitos colaterais variam de pessoa para pessoa. Algumas não sentem NADA! Outras podem ter efeitos colaterais mais sérios, como reações alérgicas, mas todos bastante raros. Os principais efeitos colaterais são comuns às vacinas para a gripe comum, que todos os anos idosos tomam: dor e vermelhidão no local da aplicação, dores de cabeça, nos músculos e articulações, febre, indisposição, cansaço, fraqueza. São sintomas que costumam durar cerca de dois dias.
Existem várias explicações plausíveis para a convulsão da filhinha da dona Cássia: pode ser alteração muito rápida da temperatura, um quadro infeccioso independente da vacinação, alguma outra causa neurológica ainda não esclarecida ou até, eventualmente, ser decorrente da vacinação.
As pessoas se esquecem do que pode acontecer caso NÃO se vacinem. Dados publicados na semana passada na Inglaterra indicam que a ocorrência de complicações neurológicas decorrentes da gripe suína foram muito mais frequentes do que aquelas motivadas pela vacinação. Assim, a comparação a ser feita não é vacinação versus não ter nenhuma complicação. A comparação é vacinação com algumas raras complicações versus não vacinação. A não vacinação acarreta muito mais doenças, com complicações muito mais freqüentes.
Viomundo – A vacina contra a gripe suína protege contra a comum?
Gabriel Oselka – Não. Assim como a vacina contra a gripe sazonal não imuniza contra a influenza H1N1. Tanto que os idosos com doenças crônicas estão tomando as duas. Pode ser no mesmo dia, apenas em braços diferentes.
Viomundo – É verdade que a vacina contém células cancerígenas de animais que podem causar câncer em humanos?
Eduardo Hage – Mais um boato criminoso. A vacina não contém células animais em sua preparação final, muito menos células cancerígenas.
Viomundo – Dizem que “há evidências da síndrome de Guillain-Barré em muitas pessoas que tomaram a vacina nos outros países do mundo” e “há centenas de casos de paralisia dos nervos associados à vacina”.
Celso Granato –A síndrome de Guillan-Barré é um tipo de paralisia aguda de nervos que tem várias causas. Ela é ascendente. Pega membros, pescoço, músculos respiratórios. Em alguns casos não é reversível. Ela ocorre normalmente na população ao longo da vida. Atinge todas as faixas etárias. Em 1976, se verificou nos Estados Unidos, após uma campanha de vacinação contra gripe a ocorrência de mais casos de Guillan-Barré. Houve o aumento de 1 caso para cada 100 mil doses.
Dali para a frente toda vacinação contra a gripe passou a ser acompanhada cuidadosamente, buscando verificar possível associação entre o uso da vacina e a ocorrência de Guillan-Barré. Essa associação nunca foi comprovada. Além disso, a forma de fazer a vacina mudou muito de lá para cá, tornando-se muito mais segura.
Ou seja, não há evidências científicas de que a vacina contra o vírus A (H1N1) causa síndrome de Guillain-Barré ou outro tipo de paralisia de nervos. Nos Estados Unidos, como o doutor Eduardo Hage lembrou, mais de 100 milhões de doses foram distribuídas desde novembro de 2009. Curiosamente, os casos de Guillain-Barré diminuíram nesse período. Por quê? Ninguém sabe ainda.
Viomundo – É verdade que uma dose não é suficiente para assegurar proteção e seriam necessárias três?
Eduardo Hage – Mentira. Estudos comprovam que a vacina é efetiva com uma única dose. As crianças entre 6 meses e 2 anos de idade devem tomar duas meias-doses. A segunda é aplicada 30 dias depois da primeira. Só aí criança estará protegida do vírus A (H1N1). Isso também vale para crianças com doenças crônicas até 9 anos de idade.
Viomundo — É verdade que a FDA [Food and Drug Administration, a agência de controle de alimentos e medicamentos dos EUA] não aprovou a vacina contra a gripe suína?
Celso Granato – Mentira. Nos Estados Unidos, todo medicamento – e a vacina é um imunobiológico – é submetido à FDA. É só pensar um pouquinho. Você acha que os estadunidenses distribuiriam mais de 100 milhões de doses se a vacina não fosse testada e aprovada? Nem em sonho.
Viomundo – Aliás, é dito que a “entrada da vacina no mercado foi acelerada, o que significa que todos os efeitos colaterais não são conhecidos” e que “seriam necessários cinco anos para testá-la”. É correto isso?
Marcos Boulos — Errado. A tecnologia de produção da vacina contra influenza é sobejamente conhecida. Todos os anos ela é produzida. E anualmente é modificada para incorporar os vírus que estão circulando. O que se fez foi fabricá-la com o vírus H1N1 em vez de produzi-la com outros vírus que circularam no último inverno do Hemisfério Norte. Na década de 1950, a expectativa de vida do brasileiro era 47 anos. Atualmente, 72,8. Entre os fatores que contribuíram para que a população viva mais, sem dúvida alguma a vacinação tem papel importante.
Viomundo – Os e-mails antivacina dizem que ela é “assassina” e que faria “parte de genocídio programado pela Organização Mundial de Saúde e indústria farmacêutica”.
Eduardo Hage – Disseminar esse tipo de informação é má fé mesmo e revela extrema ignorância. A OMS tem sua política estabelecida pelos países anualmente pela Assembleia Mundial da Saúde. Esses mesmos países também financiam as estratégias de prevenção e controle de doenças. Ou seja, supor que há uma conspiração para assassinar as populações em todo o mundo seria supor que os próprios países financiariam esta loucura.
Viomundo – É verdade que as vacinas vendidas ao Brasil são de países que tinham o produto encalhado?
Eduardo Hage – Claro que não. As vacinas adquiridas pelo Brasil foram compradas diretamente dos laboratórios produtores e por meio do Fundo Rotatório da Organização Pan-Americana da Saúde – Opas/OMS. Todas as negociações para a aquisição ocorreram em novembro de 2009, quando não havia ainda aumento da oferta da vacina por baixa utilização especialmente nos países da Europa e Ásia.
Viomundo – Clínicas particulares estão aplicando também a vacina da gripe suína. Ela é diferente da usada na rede pública de saúde?
Gabriel Oselka – Sim. A vacina que está sendo usada na rede pública é monovalente. É feita apenas com o vírus A (H1N1). Já a das clínicas particulares é trivalente. Tem o vírus A (H1N1) e mais outros dois vírus sazonais. Normalmente as vacinas contra a gripe comum são trivalentes.
Viomundo – A OMS recomenda qual — a monovalente ou a trivalente?
Eduardo Hage — Ambas, dependendo da disponibilidade mundial para entrega em tempo oportuno.
Viomundo – Suponhamos que a pessoa faça parte dos grupos vulneráveis e ainda não se vacinou, é possível ainda?
Eduardo Hage – Pode fazê-lo junto com o pessoal de 30 a 39 anos. Só para relembrar. Os grupos com maior risco de desenvolver a forma grave de gripe suína são as gestantes, crianças de 6 meses a 2 anos de idade, portadores de doenças crônicas, indígenas que vivem em aldeias, pessoas de 20 a 39 anos e profissionais de saúde.
A vacina contra a gripe A não é compulsória. O Ministério da Saúde apenas recomenda o que do ponto de vista de saúde pública julga necessário. A decisão é individual. Questão de livre arbítrio. Mas antes de decidir, reflita bem. Nós esperamos que você espontânea e conscientemente se imunize, caso faça dos grupos prioritários.
Viomundo – A campanha do Ministério da Saúde vai até sábado. E depois?
Eduardo Hage – Somente no final da vacinação, nesta semana, será possível fazer um balanço e indicar as próximas estratégias.
Marcos Boulos – Provavelmente muitas das pessoas que morreram em 2009 devido à influenza A se tivessem se vacinado, não morreriam. Só que não tinha vacina. Este ano tem. Quem toma a vacina se protege e ajuda a proteger a comunidade, pois não passa a doença a outras pessoas.
Há uns 4 anos uma ONG na Suécia passou dados incorretos à população sobre a vacinação contra a gripe. Muitas pessoas deixaram de se imunizar e tiveram problemas graves, algumas morreram. Por isso, gostaria que refletissem sobre o day after. Suponhamos que devido a esses e-mails terroristas muitos brasileiros deixem de se vacinar e tenham a forma grave da nova gripe, quem vai se responsabilizar pelas consequências?





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