Jordan Michel-Muniz: Afogadas na lama

Tempo de leitura: 3 min
Falta de legislação ambiental rigorosa, gânancia por lucro e desprezo pela vida levaram ao criminoso rompimento das barragens de rejeitos de minérios de Mariana e Brumadinho (à esquerda) e Mariana (à direita), em MG. Fotos: MAB e Corpo de Bombeiros de MG

Por Jordan Michel-Muniz*

Os ideais da ‘sociedade civilizada’ são pisoteados por políticos eleitos para defendê-los.

A grande mídia exalta tais ideias, como as da democracia – governo do povo – e dos direitos humanos universais – proteções individuais, sociais, ambientais e das gerações futuras.

Mas o desrespeito a tais metas não recebe igual atenção das mídias, para evitar a revolta dos despossuídos.

O governo do povo virou oligarquia, governo de poucos, ou plutocracia, governo dos ricos: independente do nome, prevalecem os interesses do capital – da classe abastada e de grandes corporações.

Grupos de pressão empresariais (lobbies) usam sua riqueza para obter dos parlamentos leis em favor dos seus objetivos.

O povo, pobre, sem posses ou dinheiro para lobbies, é desfavorecido, por não poder comprar favores.
Tem-se a ‘democracia oligárquica’, na qual milionários mandam e os demais podem votar só para serem obrigados a obedecer.

O domínio econômico destrói a representação política igualitária, ideal nunca efetivado, devido ao elitismo de eleições caríssimas custeadas por corporações lobistas.

Criada no século XVIII, a democracia representativa funciona como oligarquia, onde milionários pagam impostos irrisórios e impõem sua vontade, como faziam as classes feudais ricas isentas de taxação, a nobreza e o clero.

Graças aos baixos impostos, sobra dinheiro para os ricos comprarem parlamentares, que então rejeitam a taxação da riqueza, num círculo vicioso. E querem mais!

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O capital rentista exige austeridade fiscal, velha meta neoliberal do Consenso de Washington, que fomentou lesivas privatizações.

Austeridade fiscal significa cortar gastos sociais para pagar a dívida pública, nunca auditada. Estes ‘gastos’ são de fato investimento no povo, dever do Estado, e integram os direitos humanos – saúde, educação, previdência, combate à fome, habitação, água, saneamento…

O Congresso Nacional, com a pior composição que já existiu, quer reduzir tal investimento para garantir o ‘bolsa renda’ a quem vive da dívida pública.

Ao mesmo tempo, o Congresso recusa aumentos em alíquotas do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) que incidem sobre ganhos dos rentistas.

Estes ricos vivem de juros pagos pela cobrança de impostos regressivos, que oneram proporcionalmente mais os trabalhadores que os capitalistas. Assim, os ricos além de comprar congressistas podem adquirir bens públicos que são privatizados.

Privatizar é entregar o que foi pago com impostos de todos para o lucro de poucos, oligarcas daqui e do exterior, como ocorreu com a Vale do Rio Doce e com tantos recursos naturais e bens do povo brasileiro.

Também pertence aos direitos humanos a preservação ambiental – o cuidado com a flora, fauna e natureza, essenciais à nossa sobrevivência.

Mas o paraíso lobista do Congresso aprovou o PL 2159/2021, o PL da Devastação, mutilando leis ambientais. Sem elas a destruição será inevitável e irreversível.

A campanha “Veta tudo, Lula!” é para não facilitar novos assassinatos lucrativos.

Áreas degradadas ou mal fiscalizadas tornam-se letais, como no rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho, nos crimes da Vale e BHP Billiton. Nenhum homicida foi preso.

Foto: MAB

Uma espécie extinta não pode ser recriada, assim como nenhum dinheiro devolverá vidas humanas criminosamente afogadas na lama das mineradoras.

Devastação e assassinatos não podem ser reparados. Falar em reparação é ofertar migalhas das fortunas acumuladas pela ganância insaciável.

Por que explorar petróleo no Amapá, na Margem Equatorial, se nossa riqueza é entregue a corporações multinacionais? Nestas privatizações o risco é nosso, o lucro, novamente, de oligarcas.

Um vazamento de petróleo pode poluir centenas de quilômetros de litoral, assim como a lama da Samarco levou morte do Rio Doce ao mar. Estas mortandades tem alcance global.

A natureza ignora as fronteiras artificiais da ‘sociedade civilizada’, referida no início deste texto ao falar dos ideais políticos: dita civilização se acha melhor que ‘selvagens’, que não matam rios, praias, florestas, nem caçam por diversão, mas os povos indígenas também sofrerão com o PL da Devastação.

Todos os ecossistemas estão interligados, danos locais repercutem no planeta.

Por isto é tolice reagir apenas às grandes catástrofes, como em Mariana e Brumadinho.

“Transformam o país inteiro num puteiro, pois assim se ganha mais dinheiro”, cantou Cazuza.

Cui bono? A quem interessa? Aos oligarcas, que nos querem súditos, não cidadãos.

*Jordan Michel-Muniz é ativista social, mestre e doutor em filosofia pela UFSC, e pesquisa temas ligados à geopolítica, democracia e injustiças

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Zé Maria

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“Gasto com Emendas Parlamentares no
Congresso Nazi-Burguês Aumentou
Mais de 1000% em 10 Anos; Crescendo
R$ 173 Bilhões Acima da Inflação; e deve
Crescer Ainda Mais no Ano que Vem”

O Congresso introduziu na LDO a Obrigatoriedade de
Execução das Emendas Parlamentares Individuais (RP-6),
regra Incluída na Constituição em 2015 (desgoverno Temer,
logo após o Golpe Contra a Presidente Dilma);
em 2019 (desgoverno Bolsonaro), Nova Alteração
Constitucional tornou Obrigatórias Também as
Emendas Orçamentárias de Bancada (RP-7);
modificando o Orçamento Geral da União Proposto
pelo Poder Executivo Federal.

https://sintrajufe.org.br/gasto-com-emendas-parlamentares-aumentou-mais-de-mil-por-cento-em-dez-anos-valor-cresceu-r-173-bilhoes-acima-da-inflacao/

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Zé Maria

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ARTICULAÇÕES DAS RAPOSAS NO GALINHEIRO
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“Adesão do União ‘braZil’ [UB] ao Bolsonarismo
pode atingir o Ministro das Comunicações”

Michelle Bolsonaro oficializou apoio do PL
a candidatura de Efraim Filho ao Governo da
Paraíba.
Senador do UB informou que entregará cargos
indicados por ele ao Presidente Lula.

[ Reportagem: Vinícius Nunes | CartaCapital ]

Com a presença da ex-primeira-dama
Michelle Bolsonaro e o apoio oficial do
Partido Liberal (PL) à pré-candidatura
ao governo da Paraíba na sexta-feira 25,
o senador Efraim Filho, líder do União ‘braZil’
no Senado, anunciou publicamente que
entregará os cargos indicados por ele
ao governo Lula.

O movimento pode colocar em xeque a permanência
de Frederico Siqueira [ex-OI S/A e Telebras] no Ministério
das Comunicações — trata-se de uma indicação do UB
para o lugar de Pedro Lucas (UB-MA), o “quase ministro“.

A adesão do União ‘braZil’ ao bolsonarismo ganhou força
na última sexta, em João Pessoa/PB, e contou com um
discurso enfático da esposa de Jair Bolsonaro (PL).

“A Paraíba vai mudar a sua história com Efraim
no governo do estado e com Marcelo Queiroga*
senador.
Precisamos de vocês, homens que entendem
que a política é uma ferramenta de transformação”,
disse Michelle.

O evento também teve a presença do ex-ministro
da Saúde* no governo Bolsonaro, atualmente pré-
candidato ao Senado pelo PL da Paraíba.

Saída do UB do Governo Lula
Após o evento, Efraim disse a rádios locais que todos
os cargos indicados por ele ao governo federal estão
à disposição.
Foi específico ao se referir a postos na Codevasf e
nos Correios da Paraíba.
“São cargos técnicos, nem são políticos.
O mesmo governo que nomeia é o mesmo que exonera.”

A decisão local, no entanto, pode se expandir para Brasília,
já que o movimento do União ‘braZil’ influencia o
Ministério
das Comunicações.

O UB já definiu que devolverá cargos do segundo
escalão ao presidente Lula (PT) e estaria disposto
a “sacrificar” até mesmo Frederico Siqueira.

Isso porque o gesto é articulado por Ciro Nogueira (PP-PI),
Senador pelo Piauí e Presidente Nacional do PP, principal
fiador da União Progressista [UPB], Federação Partidária
constituída pelo PP com o União ‘braZil’.

O ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro tem planos
ambiciosos para 2026 e deseja que o grupo deixe
o governo federal.

E Alcolumbre?
A saída definitiva do UB do governo Lula, com a demissão
de Fred Siqueira, no entanto, esbarra na disposição
do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (UB-AP).

O senador do Amapá, cujas demandas foram resolvidas
por Lula, já sinalizou que estará com o governo até o fim.

Formalmente, a indicação de Siqueira ao Ministério das
Comunicações, após a saída de Juscelino Filho (UB), partiu de Alcolumbre, que teve dificuldade de apontar
um político e foi instado a escolher uma figura de perfil
técnico.

Ciro Nogueira (PP-PI) teria, portanto, de se resolver
com Alcolumbre (UB-AP) antes de oficializar a saída
de Siqueira.
Por ora, o ministro das Comunicações prepara para
este ano o envio de um ‘Marco das Redes Sociais e
da Inteligência Artificial’ ao Congresso Nacional.

A proposta é uma das principais ideias de Lula diante
do conflito diplomático com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e do poderio das big techs.

E como ficam os UBeristas Sabino, Góes e Fufuca?
Os ministros do Esporte, André Fufuca (PP), da Integração
e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes (UB),
e do Turismo, Celso Sabino (UB), não entram na conta.

A articulação que os conduziu à Esplanada dos Ministérios
é anterior à gestão de Antônio Rueda (PE) no União braZil
e à formação da Federação Partidária União Progressista (UPB).

Por isso, os acordos devem continuar vigentes – apesar
da vontade de Ciro Nogueira (PP-PI) de concretizar o fim
de suas gestões antes do prazo de descompatibilização,
em abril de 2026.

Íntegra em:
https://www.cartacapital.com.br/politica/adesao-do-uniao-brasil-ao-bolsonarismo-pode-atingir-o-ministro-das-comunicacoes/
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