Ah, os analistas!

Tempo de leitura: 3 min

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Agora, que deixei de gargalhar, digo que como notícia isso tem tanto valor quanto a minha previsão de que o Santos FC será o campeão paulista de 2010.

É como a famosa “média de pesquisas”. Se você tirasse a média das pesquisas de véspera publicadas no Rio Grande do Sul, em 2002 (ver aqui), concluiria: Germano Rigotto vencerá Tarso Genro na disputa pelo governo gaúcho por 55,3% a 41,9%.

O resultado da votação, de acordo com o TRE,  foi de 52,6% a 47,3%.

Pela média das pesquisas, seriam 13% de diferença. De fato, foram pouco mais de 5%.

Boca de urna do Ibope, amplamente divulgada pela RBS no dia da eleição:

56% a 44% para Rigotto, 12% de diferença, mais que o dobro do resultado final!

Quem acertou, mesmo, foi um único instituto,  o ligado ao jornal Correio do Povo, que cravou: 52% a 47%.

Se os “erros” do Ibope ajudaram ou não a mudar o voto dos indecisos, se foram usados para criar um “efeito manada” eleitoral, isso não dá para dizer.

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Meu ponto é que um instituto se mede pela credibilidade histórica. Erros não implicam em má fé. Por isso,  não é possível dissociar as pesquisas do momento histórico em que elas foram divulgadas. Só assim, por exemplo, para entender se um instituto foi ou não usado politicamente.

O boca-de-urna do Datafolha, na eleição em que Fernando Henrique Cardoso perdeu para Jânio Quadros,  em 1984, garantia que FHC tinha sido eleito. Eu vi, porque eu estava lá, na redação da própria Folha, transmitindo a apuração para a TV Manchete (tentei, mas não consegui encontrar os dados da pesquisa para confrontá-los com o resultado final. Alguém se habilita?).

Na Venezuela, proibido pela legislação eleitoral de divulgar pesquisas sobre o referendo revogatório, em 2004, um instituto de pesquisas com serviços prestados ao Departamento de Estado dos Estados Unidos publicou a pesquisa em Nova York, na internet.

Os eleitores venezuelanos foram bombardeados com os resultados, via e-mail, via emissoras de TV por satélite e via rádio. O press release da empresa americana que fez a pesquisa dizia:

RESULTADO DE BOCA-DE-URNA MOSTRA GRANDE DERROTA DE CHÁVEZ

Eu pretendo republicar o press release acima, com tradução.

Mas o resultado previsto pela empresa pesquisadora foi de que Chávez teria seu mandato revogado por 59% de votos SIM (pela saída dele) e 41% de votos NÃO.

O processo de votação e a contagem dos votos foram ratificados por observadores internacionais.

Resultado: Chávez confirmado no cargo com 58,25% dos votos! Justamente o inverso do que tinha sido anunciado no press release.

Foi, claramente, mais que um “erro”. Pode ter sido uma tentativa de influenciar os eleitores venezuelanos enquanto eles votavam. Pode ter sido uma tentativa de ganhar o voto de indecisos. Pode ter sido uma tentativa de evitar que os apoiadores do presidente fossem às urnas. Com uma diferença dessas no boca-de-urna, já perdemos, por que sair de casa e enfrentar fila? Pode ter sido uma tentativa antecipada de tirar a legitimidade do próprio referendo e de dar mais munição à oposição derrotada.

Portanto, é impossível analisar resultado de pesquisa fora do contexto histórico. Elas podem servir para convencer aliados, desfazer alianças, conseguir financiamento de campanha.

No Brasil, o fato de que a principal emissora de televisão resolveu divulgar apenas os resultados de dois intitutos — o Ibope, cujo presidente em 2009 já disse que Lula não fará o sucessor; e o Datafolha, de um jornal que abriu as páginas para atacar um concorrente, o Sensus, ajudando assim a “desqualificá-lo” — já serve de alerta.

Se existe uma justa suspeição sobre as pesquisas, o que dizer de analistas? Não estou dizendo que sejam má intencionados, nem que não entendam de política.

Mas é um bolão viciado pela escolha dos palpiteiros.

Entre os santistas, 90% acreditam que o Santos será campeão do mundo em 2011. Acredito mais nessa pesquisa.

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