“Some like it hot”. Mas, exatamente quem?

Tempo de leitura: 3 min

por Luiz Carlos Azenha

A presidente Dilma Rousseff assumiu o governo em circunstâncias especialmente difíceis.

Herdou uma coalizão fragmentada e voraz. Herdou compromissos políticos assumidos pelo antecessor. Herdou um PT dividido, com alguns integrantes mais comprometidos com o interesse pessoal (vide o verbete “consultoria”) que com o interesse público.

Herdou, nas palavras do jornal britânico Financial Times, uma economia “bicicleta”. Se parar, tomba.

Esta semana, a revista britânica Economist traz um gráfico sobre o países que, segundo ela, correm o risco de superaquecer:

O título que acompanha é “Some Like it Hot”, num trocadilho com o título do filme de Billy Wilder em que a loira brilhou.

A revista, baseada em critérios que definiu, diz que sete economias de mercados emergentes estão pegando fogo: Argentina, Brasil, Hong Kong, India, Indonésia, Turquia e Vietnã.

“Motoristas que ignoram as luzes vermelhas do painel correm um sério risco de quebrar”, diz a conclusão do texto.

Sobre o Brasil, especificamente, a revista diz que a inflação está acima do esperado, que o mercado de trabalho está superaquecido, que o crédito cresceu demais, que a demanda interna está pegando fogo, favorecendo as importações.

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A solução genérica da revista, obviamente, é aumentar os juros — onde eles são baixos — e reduzir os gastos públicos. Assim, diria eu, sobra mais dinheiro para pagar juros aos banqueiros.

Seriam “bons problemas”, os apontados pela Economist, se o país não tivesse taxas de juros reais de 6% ao ano, entre as mais altas do mundo. O dinheiro que entra correndo agora, atrás desses juros, pode sair correndo lá na frente, se a situação econômica na Europa e nos Estados Unidos voltar a se deteriorar — do que existem sinais cada vez mais claros.

Esta semana, na CartaCapital, o ex-presidente do BNDES, Carlos Lessa, se junta aos que fazem alertas:

A mim não surpreende que estejam surgindo preocupações com a bolha de crédito. O endividamento das famílias é, no sistema capitalista, um ponto positivo, se levar as empresas a retomarem investimentos produtivos. Se em resposta a qualquer alta taxa de crescimento os juros sobem, o que um empresário inteligente faz? Amplia suas aplicações financeiras. É o chamado voo de galinha.

E mais:

O Brasil está numa situação delicada, porque não tem um projeto nacional, adota a ideia de produto (PIB) potencial em seu modelo de combate à inflação. Pensa sempre na âncora cambial para segurar a inflação, por isso empurra os juros para cima, sacrifica a capacidade pública de investir e endivida as famílias. Uma posição absolutamente perigosa.

Na Carta Maior, Saul Leblon:

A nova agenda do ABC marca um salto na compreensão das interações perversas que subordinam o emprego, o salário e a própria sobrevivência operária à corrosão industrial e ao seu algoz: as taxas de juros praticadas no país. No Brasil, a política monetária — esfera do Estado sob a prerrogativa absoluta dos mercados financeiros — oferece aos capitais especulativos 6% de valorização real ao ano. A média mundial essa taxa oscila entre zero e negativa. No pós-crise, a confluência desse lubrificante com a robustez do mercado nacional, mais a liberdade cambial, transformou-se em armadilha cambial. Contra a produção e o emprego local. A valorização da moeda desloca demanda e vagas para o exterior via importações.

Luís Nassif, em seu blog:

Faria bem a presidente Dilma Rousseff em convocar uma reunião de urgência de sua área econômica e cobrar um plano de contingência para o câmbio. Ontem pipocaram manifestações de centrais sindicais — CUT e Força Sindical, juntas — alertando para a quebradeira generalizada nas pequenas empresas metalúrgicas. O tecido econômica da cadeia produtiva da Abimaq está esgarçado até o limite. As terceirizadoras estão desaparecendo. Por onde se olha, se vê o estrago provocado pelo crescimento desmedido das importações e pelas bolhas provocadas pelo aumento da captação em dólares.

Desatar este nó será o grande desafio do governo Dilma. O resto é figuração, nem sempre à altura de Marylin Monroe.

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