Discussão vulgar sobre fala de Freixo pode sepultar um debate interessante
Tempo de leitura: 3 min

Da Redação
Marcelo Freixo, do PSOL carioca, escandalizou os petistas com a entrevista à Folha de S. Paulo em que disse: “não sei se é o momento de unificar a esquerda, não”.
Pelo menos as falas de Freixo que a Folha escolheu reproduzir carregam um tom de infantilidade que não são característica dele.
Expressam um eleitoralismo que o PSOL frequentemente condena no PT.
É óbvio que, a reboque do PT, as chances de o PSOL crescer nas eleições de 2018 são ínfimas — e o objetivo de qualquer partido é crescer.
Não é por outro motivo que os petistas reagiram furiosamente à entrevista, desqualificando Freixo muitas vezes com argumentos toscos: levar Lula à eleição de 2018 diz respeito, entre outras coisas, à própria sobrevivência do PT.
Já é dado que teremos mais de um candidato entre o centro e a esquerda em 2018: Lula ou quem ele indicar, Manuela d’Ávila, Ciro Gomes e, possivelmente, Guilherme Boulos (é a pretensão do PSOL).
As redes sociais, às vezes, por suas características intrínsecas — imediatismo, concisão — conduzem a um debate fulanizado, mas há uma discussão de fundo sobre o futuro da esquerda brasileira que é realmente interessante.
Jair Galvão, no Facebook, fez a indicação de um vídeo instrutivo. É de um debate que reuniu André Singer e Guilherme Boulos (abaixo, a partir da íntegra do debate, editamos a fala dos dois).
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Singer lembra, por exemplo, que não foi um “erro tático” do governo Lula não politizar, nem mobilizar os setores populares que aderiram ao lulismo, mas condição intrínseca ao projeto de não confrontar o capital.
Ele vai além: o lulismo desmobilizou e despolitizou a fração organizada da classe trabalhadora, desfazendo o trabalho que o PT havia feito desde sua fundação, para poder cumprir seus objetivos.
Para Singer, isso e mais a aliança com a “velha política” foi o que permitiu ao lulismo pela primeira vez na História liderar um agrupamento popular que ganhou eleições e governou durante 14 anos, com benefícios significativos para os mais pobres.
É por isso que Singer diz que o “ciclo lulista” acabou, o que não significa que o lulismo acabou. Acabou o ciclo em que se pretendia combater a pobreza sem confrontar o capital.
A pergunta crucial, então, é: Lula, eleito em 2018, terá condições de repetir a dose?
É a resposta a esta pergunta que divide a esquerda.
Os petistas, obviamente, dizem que sim.
Freixo, em sua entrevista à Folha, diz indiretamente que não, lembrando que se Lula quisesse recompor o campo progressista “não andaria de braços dados com Renan Calheiros”.
Guilherme Boulos, um apoiador até agora incondicional de Lula, lembra em sua fala acima que “o lulismo não tem mais margem de manobra”.
“Se não mudar a maré internacional, está bloqueado um projeto de avanços sem conflito”, afirma.
Dependendo da decisão do TRF4 sobre Lula e das consequências dela, Boulos poderá ser o candidato do PSOL em 2018.
Sobre a decisão pesa outro ponto que divide a esquerda: as manifestações de 2013.
Para alguns petistas, foi uma ação orquestrada pela CIA para derrubar Dilma Rousseff, em que parte da esquerda caiu de gaiata.
Para gente ligada ao PSOL, foi expressão dos limites dos governos de conciliação de classes liderados pelo PT.
Ajudariam a explicar porque o povão não foi às ruas defender Dilma: especialmente entre os mais jovens, o PT estaria identificado com o establishment, ou seja, um partido comprometido até a medula com a velha política que é preciso demolir.
A incompreensão da esquerda sobre o caráter anti-establishment de 2013 teria aberto espaço para Jair Bolsonaro, por exemplo.
Lula 2018 seria, assim, a reedição de um projeto falido.
João Pedro Stédile, coordenador do MST, não pensa assim. Numa análise de conjuntura que republicamos abaixo, ele aposta tudo em Lula.
O ex-presidente já foi escolhido o candidato da classe trabalhadora, diz Stédile.
Por isso, o MST foca a luta política em eleger Lula em 2018 e, paralelamente, organizar referendos que possam revogar as medidas antitrabalhistas e antinacionais de Temer.
Os vídeos e o áudio que reproduzimos neste post são uma demonstração de que o debate à esquerda não precisa repetir o tom vulgar das discussões à direita.




Comentários
Renata
À Cesar o que é de César. Marcelo Freixo pelo menos teve a virtude, como outros psolistas, de ter se colocado contra o Golpe, coisa que figuras como Luciana Genro e Marina Silva, que se mostraram duas punitivistas autoritárias e parvas políticas de marca, não fizeram. Se queimaram se associando ao Golpe e à marca Lava-Jato.
Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem… Mas enquanto o PSOL fala que o PT não entendeu 2013, penso que o PSOL é que ainda não entendeu 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018. Na verdade, quando Freixo, um militante de direitos humanos, a essa altura do campeonato, ainda defende a lava-Jato com “ressalvas”, é porque está totalmente perdido no lance. O judiciário e o MP são parte de um empreendimento autoritário de direita para o país. Salvo honrosas exceções que sempre militaram na contracorrente, e que nunca foram reconhecidos pelas pelo conservadorismo do PT nessa área, temos duas corporações poderosas expandindo seu poder de arbítrio sob a pretensão de Guerra à Corrupção e corroendo a República. O PT ajudou a alimentar esse monstrengo por ação, omissão e ingenuidade e está sendo vítima dele. E o PSOL acha que está, nesse contexto extremamente desfavorável de avanço do fascismo por dentro das instituições, em posição de validar a Lava-Jato “com ressalvas” e que pode se dar ao luxo de discutir, nesse momento, o “novo”, o “pós”? Não vivemos sequer em uma “Democracia de Fachada”, vivemos no simulacro do simulacro de uma “Democracia de Fachada”, em que nem as fundações de um edifício em ruínas estamos conseguindo conservar. Temos que conseguir fortalecer as fundações, pois senão não vai dar para construir nada duradouro por cima.
Freixo deveria ter denunciado a Lava-Jato com veemência e não ficar comparando suas características morais com as de Bolsonaro. Isso diz muito dessa esquerda punitivista… Nesse sentido, acho que Freixo foi um tremendo vacilão.
Samuel Souza
Ele não foi, ele é sempre será um vacilão.
Renata
À Cesar o que é de César. Marcelo Freixo pelo menos teve a virtude, como outros psolistas, de ter se colocado contra o Golpe, coisa que figuras como Luciana Genro e Marina Silva, que se mostraram duas punitivistas autoritárias e parvas políticas de marca, não fizeram. Se queimaram se associando ao Golpe e à marca Lava-Jato.
Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem… Mas enquanto o PSOL fala que o PT não entendeu 2013, penso que o PSOL é que ainda não entendeu 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018. Na verdade, quando Freixo, um militante de direitos humanos, a essa altura do campeonato, ainda defende a lava-Jato com “ressalvas”, é porque não entendeu nada mesmo. O judiciário e o MP são parte de um empreendimento autoritário de direita para o país. Salvo honrosas exceções que sempre militaram na contracorrente, temos corporações poderosas expandindo seu arbítrio e poder sob a pretensão de Guerra à Corrupção. O PT ajudou a alimentar esse monstrengo por ação, omissão e ingenuidade e está sendo vítima dele. E o PSOL acha que está, nesse contexto extremamente desfavorável, de avanço do fascismo por dentro das instituições, em posição de validar a Lava-Jato “com ressalvas” e que pode se dar ao luxo de discutir o “novo”, o “pós”? Não vivemos sequer em uma “Democracia de Fachada”, vivemos no simulacro do simulacro de uma “Democracia de Fachada”, em que nem os pilares de um edifício em ruínas estamos conseguindo conservar. Temos
Wilson Norberto Barbosa Filho
Vejo o mesmo discurso do PT em relação ao Brizola nos anos 80. No século XXI, o mesmo se repete, agora com um novo personagem da moda o PSOL, comento com meus amigos que o tempo não passou, as caras são outras mais as discussões são as mesmas, a mídia faz o mesmo, criam música sem conteúdo, com ritmos tribais. Será que o mundo é repetitivo ou isso é de propósito.
Ricardo Simões Gonçalves
Sobre este assunto, na minha opinião, análise melhor do que a feita aqui foi a realizada pelo Valter Pomar:
http://valterpomar.blogspot.com.br/2017/12/a-entrevista-de-freixo.html
Augusto
Sou de esquerda e lula n me representa! Petista doente, va dormir!
antonio
Vulgar foi a fala do Freixo.
Caveman
O que o autor pensa sobre o PSOL chamar o DEM para governar na única capital que ganhou? Essa esquerda hipócrita e sem vontade REAL (não teórica) de mudar a vida do povo é o FHC que não deu “certo” . A Globo aprova.
Dimas
Gravíssimo! Se chamasse o Sarney, o Maluf, o Temer prá vice, a turminha do PTB para os Correios, o Meireles na fazenda, tudo bem. Mas chamar o DEM para governar uma prefeitura no Pará? Não. Isso não. É inconcebível!
Realmente, Maluf ficaria bem no PT. Talvez ele aprendesse a ter a cara de pau de acusar os outros por coisas que ele leva às ultimas consequência.
Ivanisa Teitelroit Martins
Um grande debate. Parabéns a todos os comentaristas. É desse modo, pelo exercício da divergência, que o pensamento de esquerda se fortalece.
Bovino
Se houver eleição com LULA, ele e Rui Costa Pimenta (se candidatar-se) serão os únicos candidatos de base operária, as outras candidaturas de Esquerda serão de lunáticos pequeno-burgueses ou a mando da direita. Como não haverá eleição com LULA, a fraude já estará estabelecida.