Hêider Pinto: Governo Temer cria 2.950 vagas em escolas de Medicina, nem uma única em universidade pública
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por Conceição Lemes
Em 8 julho de 2013, a presidenta Dilma lançou o Mais Médicos.
No mesmo dia, o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Associação Médica Brasileira (AMB), a Federação Nacional dos Médicos (Fenam) e a Associação Nacional dos Médicos Residentes (ANMR), em nota, crucificaram o programa,condenando, entre outros pontos, a abertura de novas vagas (o negrito é nosso) em cursos de medicina :
(…) A vinda de médicos estrangeiros sem aprovação no Revalida e a abertura de mais vagas em escolas médicas sem qualidade, entre outros pontos, são medidas irresponsáveis. Apesar do apelo midiático, elas comprometerão a qualidade do atendimento nos serviços de saúde e, em última análise, expõem a parcela mais carente e vulnerável da nossa população aos riscos decorrentes do atendimento de profissionais mal formados e desqualificados.(…)
A partir daí, as entidades médicas declararam guerra a Dilma e ao programa. Fizeram campanha junto à categoria e à população contra Dilma, apoiando até o golpe.
Desde o início, a grande mídia fez coro, claro.
Basta uma busca nos portais das entidades e da grande imprensa.
Por exemplo, em 8 de abril de 2015, em nota intitulada “Abertura desenfreada de escolas médicas”, a AMB afirmou:
É nítida a batalha do Governo pelo aumento do número de escolas médicas. O Brasil possui hoje 247 instituições públicas e privadas, que oferecem anualmente perto de 22 mil vagas, número superior ao de países como China e Estados Unidos.
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(..)
Tem sido amplamente demonstrado que a falta de profissionais se deve especialmente à má distribuição dos médicos entre regiões, cidades.
Desigualdades de acesso e qualidade entre o sistema público e privado, não se resolverá com mais vagas e com novos cursos.
O governo federal preocupa-se com a quantidade, sem a necessária observância à qualidade na formação médica. Já sabíamos que a saúde não é prioridade para o Governo, agora também comprovamos que a educação também não é, mesmo como a enganosa propaganda da “Pátria Educadora”.
Pois nessa terça-feira (27/09/2016), o Ministério da Educação autorizou a abertura de 2.950 vagas em cursos privados de medicina.
Parte delas relaciona-se ao Mais Médicos. Trata-se da autorização de edital publicado no governo Dilma, em 2013, que permitia a expansão de 2.460 vagas em 37 cidades do interior do país.
“O objetivo era interiorizar os cursos para o Brasil avançar rumo à autossuficiência de profissionais até 2026”, explica o médico sanitarista Hêider Pinto, coordenador do Mais Médicos no governo Dilma. “Os critérios previam abertura somente em cidades do interior, onde não haveria expansão de vagas em universidades públicas e em regiões com menos de 2,7 médicos por mil habitantes e menos de 1,34 vagas por 10 mil habitantes.”
Só que o Ministério da Educação aproveitou para abrir 490 vagas em faculdades privadas já existentes em Salvador (100), Recife (75), Fortaleza (70), Vitória (20), Grande São Paulo (50), Campinas (80) e Ribeirão Preto (34), entre outros municípios.
Está tudo no Diário Oficial da União da última terça-feira, 27 de setembro de 2016. Abaixo, alguns casos.


Curiosamente, o Ministério da Educação não autorizou a abertura de uma vaga sequer em universidades públicas, interrompendo a expansão prevista nos governos Lula e Dilma. A alegação é de contenção de custos.
Mas a razão é outra.
“É a ‘filosofia’ da ‘Ponte do Futuro’ do governo Temer aplicada à expansão de vagas para medicina: privatizar tudo o que é possível”, afirma Hêider Pinto.
“O lobby das escolas privadas venceu, mostrando às entidades médicas mais conservadoras quem manda”, alerta.
Estranhamente, até agora as entidades médicas que apoiaram o golpe contra a presidenta Dilma não questionaram a abertura de novas vagas. A grande mídia se ateve a dizer que o MEC abriu as vagas.
Diante disso, perguntamos às mesmas entidades médicas que condenaram a abertura de vagas nos cursos de medicina no governo Dilma por causa do Mais Médicos:
O que dirão às suas bases?
Será que não leram ou estão esperando passar as eleições de domingo para não prejudicar os candidatos golpistas?
Será que farão algum ato questionando parte da expansão, para o qual sugerirão aos médicos usarem o nariz vermelho de palhaço?
Afinal, parte da expansão é justamente em áreas onde hoje já existem médicos e famílias com dinheiro para bancar as altas mensalidades dos cursos privados de medicina.
“Todos nós vamos pagar o pato pelo governo golpista de Michel Temer, mas quem ficará com o nariz vermelho de palhaço serão as entidades médicas conservadoras, que apoiaram a derrubada de Dilma”, aposta o médico Hêider Pinto.
Em tempo. A nota da AMB, de 8 de abril de 2015, afirma: “O Brasil possui hoje 247 instituições públicas e privadas, que oferecem anualmente perto de 22 mil vagas, número superior ao de países como China e Estados Unidos.
Segundo Hêider Pinto, essa afirmação é uma falácia porque, isoladamente, o número de escolas médicas não diz nada. Tem que se observar o número de vagas na escola – uma pode ter 30 enquanto outra, 300 — e a população do país. A proporção de vagas por cada 10 mil habitantes no Brasil é muito menor do que nos EUA, Argentina e Uruguai, por exemplo. E menor ainda que a média dos mais de 30 países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
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